Fanatismo, fundamentalismo e dogmatismo


FANATISMO:
A palavra fanático, de acordo com os dicionários etimológicos, origina-se do latim
fanaticus, que deriva de fanus, que por sua vez significa: templo, capela. Antigamente tal termo era empregado especialmente em referência aos sacerdotes de Cibele (deusa romana), os quais simulavam a ira divina e eram tomados por experiências sobrenaturais semelhantes ao transe espírita. Todavia não é um termo específico da religião; pode abranger, também, princípios políticos, raciais, filosóficos, científicos etc. São características do fanático, segundo os dicionários: zelo excessivo, intolerância desmedida, dedicação exagerada, paixão cega a uma doutrina ou sistema etc.

FUNDAMENTALISMO:
Quanto ao termo fundamentalismo, embora tenha sua origem no protestantismo norte-americano da segunda metade do século XIX e do começo do século XX, para designar uma das duas vertentes da crença dominante, é usado atualmente em referência a todos os religiosos que interpretam seus livros sagrados ao pé da letra. Tal rótulo tem sido amplamente difundido pela imprensa de forma pejorativa, para denotar tanto o homem-bomba quanto alguém que simplesmente discorda dos ditames darwinistas. "As palavras são navalhas", diz o nosso Belchior, em uma de suas músicas. O emprego deste termo em referência aos dissidentes do darwinismo, por exemplo, é uma nítida demonstração de uso ideológico da língua. Língua é poder, já dizia outro pensador. A história está repleta de exemplos de “demonização” das palavras a fim de macular um grupo ou uma minoria específica. Assim, ao fazerem uso do termo fundamentalismo como rótulo depreciativo aos que discordam de alguns dos seus dogmas, pessoas como Richard Dawkins e Daniel Dennett, além de demonstrarem com extrema clareza suas intenções ideológicas, escancaram brutalmente uma hipocrisia extremada. Sim, pois, não é possível diferenciá-los daqueles líderes religiosos que apregoam a destruição dos infiéis em nome de suas crenças extremistas. Tal termo, pois, se empregado com esta conotação, pode ser corretamente utilizado tanto em referência ao fanático religioso quanto ao delirante ateu.

DOGMATISMO:
Já a palavra dogmatismo, por sua vez, refere-se originalmente a um ponto ou princípio de fé definido pela Igreja. Todavia, já a um bom tempo que tal termo deixou o âmbito religioso específico, abrangendo inclusive o fundamento de qualquer sistema ou doutrina. E isto inclusive já consta nos dicionários. Ao difundirem certos pontos não observados empiricamente, como a MACROevolução os darwinistas penetram adversamente no mesmo campo trilhado pelos antigos papas e outros líderes religiosos. Pode-se inferir sobre eles, porém, empiricamente não é possível testá-los. Desta forma, não obstante tal assertiva provoque furores tempestivos em muitos darwinistas, imaginar que um ser unicelular inobservado, o qual após bilhões de anos se transformou num Australopithecuse e, em seguida, num australiano, não é muito diferente em se acreditar que papel Noel existe, que a mula-sem-cabeça já foi vista e que o saci perêrê mora no quintal do vizinho. Em outras palavras: é puro mito. Você até pode crer, porém não passará de simples dogma.

"As palavras são navalhas", escrevi anteriormente. Na Idade Média, por exemplo, um termo que fora abundantemente usado para justificar medidas extremistas por parte dos inquisidores, era "HEREGE". Havia duas condições para que alguém pudesse ser qualificado de herege. A primeira dizia respeito à fé; a segunda relacionava-se com o intelecto. Tudo o que a Igreja decretou como verdade, seja no âmbito da fé ou da razão, deveria ser aceito incondicionalmente como tal. Assim, se a Igreja afirmava que o Sol girava em torno da Terra, ainda que existissem provas contrárias, prevalecia a arbitrária “verdade” da igreja. Todos conhecem o caso do cientista italiano Galileu Galilei que, por apoiar a teoria de Copérnico de que o Sol (e não a terra) constitui-se o centro do nosso sistema planetário, foi preso pela Inquisição, tendo de negar suas convicções, visto que ia de encontro às da soberana Igreja, a “legítima” representante de Deus na Terra. Por declarar a Bíblia como a única regra de fé, John Wyclif e seus principais seguidores foram todos destruídos. O mesmo aconteceu com João Huss que, havendo comparecido ao Concílio de Constança para se justificar sob o ponto de vista doutrinário, foi considerado herético e executado, não obstante possuir um salvo-conduto dado pelo imperador germânico.

A perseguição aos intelectuais, bem como a destruição dos livros considerados profanos, prosseguiu durante todo o período da Inquisição. Ameaçado pela propagação de ideais heréticos nas Índias, o rei Felipe III, escreveu aos líderes das colônias, em 1609, a seguinte ordem:
“Tendo em vista que os piratas heréticos, por ocasião dos assaltos e dos resgates, tiveram certos contatos nos portos das Índias, muito perigosos para a pureza com a qual os nossos vassalos crêem e se mantêm na Santa Fé Católica, que em razão dos livros heréticos e das proposições que eles expandem entre as populações ignorantes, nós ordenamos aos governadores, tribunais, e pedimos aos arcebispos e bispos das Índias que cuidem de recolher todos os livros que os heréticos tenham introduzido ou venham a introduzir nessas regiões”.

Contudo, quem está habituado a ler apenas acerca de intolerância da religião em relação aos que dela discordam, talvez fique surpreso ao saber que neste mesmo cálice estão bebendo conhecidos intelectuais, os quais, sob a camuflagem hipócrita de uma falsa ciência, têm alarmado o desrespeito à fé alheia, o ódio à crença, a intolerância aos que pensam diferente. As palavras, portanto, não podem mais servir como dístico ou etiqueta de religiosos ignorantes e avessos ao saber. Tais termos, em casos específicos, tanto pode referir-se ao religioso apaixonado por seus ritos, quanto ao cético ou ateu alienados em sua suposta supremacia intelectual. A moeda sempre tem dois lados!

É isso!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Excetuando ofensas pessoais ou apologias ao racismo, use esse espaço à vontade. Aqui não há censura!!!