"Darwinismo evangélico"

(Aos que dizem que “só critico” Darwin!)

Não vou tratar aqui do evolucionismo como fenômeno religioso. Em vez disso, discorrerei sobre uma versão “darwinista” inserida num contexto teológico recente. Contexto teológico, como assim?

Bem. Embora inicialmente pareça contraditório fazer qualquer tipo de associação do darwinismo propriamente dito com espiritualidade, em alguns aspectos é perfeitamente possível fazer esta ligação, pelo menos no que diz respeito a esta nova versão do “darwinismo social”.

Segundo o darwinismo (aqui sem as aspas) há certas características biológicas e sociais que supostamente indicariam que uma pessoa é superior à outra e, que, por isso, as tornariam mais aptas. Nesta ideologia, há uma clara divisão na sociedade: de um lado os membros “mais aptos”, “superiores”, sadios, inteligentes, ricos etc.; do outro lado, os membros “menos aptos”, “inferiores”, mal nutridos, fracos, doentes, pobres etc.

Na nova versão do “darwinismo” esta divisão, embora num contexto totalmente antagônico ao primeiro, é igualmente clara: de um lado os membros espiritualmente “mais fortes”, “cheios de fé”, prósperos, plenos de saúde etc.; do outro, os membros espiritualmente “mais fracos”, “debilitados na fé”, fracassados financeiramente, enfermos etc. Os “mais fortes” espiritualmente não mais podem, suplicam, imploram e rogam a Deus uma bênção. Agora eles exigem, decretam, determinam e reivindicam que os céus os atendam. Já os espiritualmente “mais fracos” esses apenas estão nessas condições porque não têm fé e, caso a tenha, esta fé deve ser muito fraca.

O “verdadeiro cristão”, dizem estes “darwinistas da fé”, não fica doente, não passa por dificuldades financeiras, não trabalha como faxineiro etc: - "Têm que ser “cabeça” e não cauda”, repetem com certa ostentação, como se fossem a última flor do "jardim de Deus"!

Para muitos que compartilham dessas idéias, Jesus foi um grande milionário e até usava roupas de grife. O apologista Paulo Romeiro os denominam de “supercrentes”, àqueles que “podem tudo”, que estão sempre “amarrando satanás” e que, aparentemente, estão isentos dos dissabores da vida.

Ainda nesta nova versão do “darwinismo”, a ambição por dinheiro ganhou respaldo bíblico. Fazem uso da Bíblia para justificar suas doutrinas de prosperidade. O “trazei o dízimo” de Malaquias é mais e enfatizado do que, por exemplo, o “vinde a mim” de Jesus. A situação chegou a um ponto de a prosperidade financeira ter se transformado numa espécie de “femômetro” (ou “fidemômetro”), capaz de medir o grau da fé de alguém: se prosperou, a fé é grande; se fracassou, é pequena. Mui provavelmente para estes, os somalis, os etíopes, os afegães, os iraquianos, etc. são “darwinianamente” os mais fracassados. Já os suecos, os japoneses, os americanos (principalmente estes, de onde veio tal doutrina) são os “mais fortes”, os “poderosos na fé”. Fazendo um paralelo com as idéias de Darwin, os primeiros seriam os "selvagens africanos", e os últimos, os "civilizados ingleses".

Esta é, portanto a nova e metafórica versão do darwinismo social existindo às avessas! ((rs))

É isso!

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