Charles Darwin, Alfred Wallace e a Seleção Natural

Pouca importa se quem primeiro idealizou o conceito de Seleção Natural foi Darwin, Wallace ou outro qualquer. No que tange à formação e evolução das espécies este mecanismo (o remédio para todos os males na natureza) há tempo se mostrou frágil e insuficiente. Na realidade, se não fora o comprometimento ideológico dos defensores de Darwin, a Seleção Natural há muito teria o mesmo legado que a antiga flogística ou que a velha e carcomida teoria do éter. Seja como for, o fato é que Charles Darwin aproveitou-se muito bem da Seleção Natural, com a qual aplicou com grande êxito seu famigerado chavão “sobrevivência do mais apto”. A posição sócio-econômica de Darwin na sociedade inglesa foi sem dúvida preponderante e decisiva para que ele, e não Wallace (ou outro qualquer) fosse aclamado como o legítimo “criador da Seleção Natural” ou o "pai da evolução". Ao Wallace restava o amargo gosto da derrota, que ele por sorte soube camuflar com uma modéstia salvadora. Antes o segundo lugar do que o pleno esquecimento. Seria perda de tempo atacar de frente os poderosos clãs Wedgwoods e Darwins. A assim sobreviveu o “mais apto”.

Bom. O famoso
"bulldog de Darwin", Thomas Henry Huxley, foi um dos que, na história do darwinismo, mais colaboraram na criação do mito da “originalidade de Darwin”. Em um de seus ensaios, por exemplo, ele discorre sobre esta questão, pondo-se como sempre na apaixonada defesa de seu grande mestre. Escreveu ele:

O crítico que queira ata­car o sr. Darwin só precisa ler a sua obra com a vontade de observar os seus defeitos e não os seus méritos, e ele encontrará facilmente mais sugestões adversas do que provavelmente seriam sugeridas pela sua pró­pria argúcia, sem a ajuda da auto-abnegação do sr. Darwin.
Ora, essa qualidade de sinceridade científica não é tão comum a pon­to de ser desencorajada; a meu ver, ela merece um tratamento diferente daquele adotado pelo revisor, que trata o sr. Darwin como um velho advo­gado trataria um homem contra o qual ele procura conseguir uma condena­ção, per fas aut nefas, e abre o seu caso tentando criar para os jurados um preconceito contra o prisioneiro. Em sua ânsia de realizar esse louvável objetivo, o revisor não pôde nem sequer apresentar a história da doutrina da seleção natural sem uma oblíqua e totalmente injustificada tentativa de de­preciar o sr. Darwin. Suas palavras são: "Para o sr. Darwin e (pela reticên­cia do sr. Wallace) somente para o sr. Darwin, é devido o crédito de ter sido o primeiro a apresentá-la proeminentemente e a demonstrar sua verdade". Ninguém poderia desejar, menos do que eu, apresentar uma dúvida sobre a originalidade do sr. Wallace ou questionar sua reivindicação ao mérito por ser um dos criadores da doutrina da seleção natural, mas a afirmação do sr. Darwin possui o único crédito de originar a doutrina porque a reticência do sr. Wallace é simplesmente ridícula. E a prova disso, em primeiro lugar, é fornecida pelo próprio sr. Wallace, cuja nobre ausência de qualquer ciúme mesquinho nesse assunto muita gente deveria imitar, e que assim escreveu: "Durante toda a minha vida senti, e ainda sinto, a satisfação mais sincera pelo trabalho do si Darwin que, muito antes de mim, não deixou a oportunidade de escrever A Origem das Espécies. Há muito tempo, medi a minha força e sei que ela não estaria à altura dessa tarefa". Portanto, se houvesse qualquer reticência a respeito do assunto, seria a do sr. Darwin que, durante esses longos vinte anos de estudo, interviria entre a concepção e a publicação de sua teoria que deu ao sr. Wallace a oportunidade de ser o descobridor independente da importância da seleção natural. E, finalmente, ao lembrar que os ensaios do sr. Darwin e do sr. Wallace foram publicados simultaneamente na Revista da Sociedade Lineana de 1858, é possível que o revisor, ao depreciar indiretamente os esforços do sr. Darwin, na realidade concedeu-lhe uma prioridade que, na estrita legalidade, não existe. O sr. Mivart, cujas opiniões tão frequentemente coincidem com aque­las do revisor da Quarterly Review, coloca o caso de uma maneira que, a meu juízo, eu lamento ter de dizer que também seja incorreta, apesar de a injustiça ser menos berrante. Ele diz que a teoria da seleção natural é, de modo geral, exclusivamente associada ao nome do sr. Darwin "por causa da auto-abnegação do sr. Wallace". Corno eu já disse, ninguém poderia honrar o sr. Wallace mais do que eu, tanto pelo que fez quanto pelo que ele não fez em sua relação com o sr. Darwin. E talvez nada possa ser mais creditado a ele do que sua honesta declaração de que não poderia ter escri­to uma obra como A Origem das Espécies; e por meio dessa declaração a pessoa mais diretamente interessada no assunto repudia, por antecipação, a sugestão do sr. Mivart de que a eminência do sr. Darwin se deva, mais ou menos, à modéstia do sr. Wallace.”

Fonte:
“Darwiniana: ‘A Origem das Espécies' em Debate”. Thomas Henry Huxley. Editora Madras. Tradução: Fulvio Lubisco. São paulo, 2006, p. 108-109.

É isso!

Um comentário:

  1. IARIAIRAIRIARI DORGAS MANOLO! IARIARIARONZE!IRAI!
    EHNOIZQUEEVOLUIBRUXÃO!

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