O "progresso" de Herbert Spencer

O conceito de evolução como "progresso" estava profundamente arraigado na sociedade inglesa quando Charles Darwin publicou seu livro "A Origem das Espécies". O título inicial desta obra ('Sobre a Origem das Espécies por meio da Seleção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida") já comportava em si este conceito de "progressão evolutiva" entre as "raças". O homem, vindo de uma ínfima origem progrediu gradualmente ao longo dos tempos rumo ao seu supremo ápice: o branco europeu. Em "Do progresso - sua lei e sua causa", o influente filósofo da era vitoriana Herbert Spencer trata desta questão e aponta o europeu como o mais perfeito exemplo de civilidade e inteligência entre os povos:

"Seja ou não o progresso do homogêneo para o heterogêneo bastante visível na história biológica do globo, ele aparece, com relevo suficiente, no desenvolvimento do ser mais moderno e mais heterogêneo, — o
Homem. É inegável que, desde o período em que a terra foi povoada, aumentou a heterogeneidade do organismo humano entre os grupos civilizados da espécie; também a heterogeneidade desta última, considerada como um todo, aumentou por virtude da multiplicação das raças e da sua diferenciação entre si.

Como prova da primeira tese, podemos citar o fato de que no desenvolvimento relativo dos membros, os homens civilizados se afastam muito mais dos tipos placentários que as raças humanas inferiores. As pernas dos
papuas , que têm freqüentemente os braços e o corpo bem desenvolvidos, são muito curtas, lembrando os quadrúmanos, que não oferecem grande contraste no tamanho das extremidades toráxicas e das abdominais. Nos europeus, pelo contrário, é muito visível o maior comprimento e robustez das pernas, apresentando-se neles, portanto, uma maior heterogeneidade entre estas extremidades e as superiores. Outro exemplo da mesma verdade é a diferente relação que existe entre o desenvolvimento dos ossos do crânio e os da face, no selvagem e no homem civilizado.

Nos vertebrados, em geral, o progresso manifesta-se pela heterogeneidade crescente da coluna vertebral e, sobretudo, pela heterogeneidade das vértebras em que assenta o crânio, distinguindo-se as formas mais elevadas pelo tamanho relativamente maior dos ossos que cobrem o cérebro comparados com os maxilares, etc. Pois bem, este caráter, mais acentuado no homem do que em nenhum outro indivíduo do grupo, acentua-se mais no europeu do que no selvagem. Por outro lado, a julgar pela maior extensão e variedade das funções que desempenha, podemos inferir que o homem civilizado possui também o sistema nervoso mais complexo ou heterogêneo do que o homem não civilizado, fato que corresponde à maior relação que o cérebro do primeiro tem com os gânglios subjacentes.

Se fosse necessário dilucidar mais este tema, bastaria fixarmo-nos nas crianças. A criança européia tem muitos pontos de semelhança com a das raças inferiores, como se vê no achatamento das asas do nariz, na depressão deste, na divergência e abertura das narinas, na forma dos lábios, na distância entre os olhos e na pequenez das pernas. Pois bem, como o processo evolutivo que transformou estes traços nos do adulto europeu, é a continuação do precedente desenvolvimento do embrião, — asserção admitida por todos os fisiólogos, — daqui resulta que o processo paralelo, em virtude do qual os traços semelhantes das raças bárbaras se converteram nos das civilizadas, foi também a continuação da mudança do homogêneo para o heterogêneo" (p. 11).
Fonte:
"
Do progresso - sua lei e sua causa". Herbert Spencer. Tradução: Eduardo Salgueiro. Editorial Inquérito, Lisboa, 2002.

Nota 1:
Não custa lembrar que partiu de Spencer o lema "sobrevivência do mais apto". Darwin remete a esse fato em seu já citado livro "A Origem das Espécies":
"Dei a este princípio, em virtude do qual uma variação, por insignificante que seja, se conserva e se perpetua, se for útil, o nome de seleção natural, para indicar as relações desta seleção com a que o homem pode operar. Mas a expressão que M. Herbert Spencer emprega: «a persistência do mais apto», é mais exata e algumas vezes mais cômoda. Vimos que, devido à seleção, o homem pode certamente obter grandes resultados e adaptar os seres organizados às suas necessidades, acumulando as ligeiras mas úteis variações que lhe são fornecidas pela natureza. Mas a seleção natural, como veremos mais adiante, é um poder sempre pronto a atuar; poder tão superior aos fracos esforços do homem como as obras da natureza são superiores às da arte" (p. 76).

Nota 2:
Para Herbert Spencer, mediante uma contínua marcha do homogêneo para o heterogêneo, os seres tornam-se cada vez mais diferenciados e complexos, de maneira que sua existência, relacionada com os meios de conservação, progride em permanente luta, em que triunfam os "mais aptos". O europeu ao fazer sucumbir uma determinada tribo africana que se rebelou contra sua autoridade, apenas exerceu o "legítimo" direito de prevalecer sobre "os mais fracos". O darwinismo social desta forma ofereceu forte munição aos imperialistas que se sentiam assim justificados em sua ganância pelo vil metal em terra alheias.

É isso!

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