"Universo aberto"

Se há algo porque tenho alguma aversão, este algo são o determinismo religioso e o determinismo genético. O primeiro por colocar o ser humano numa posição de títere (marionete, fantoche, bonifrate) de alguma divindade manipuladora, que o controla conforme seus caprichos e vontades; o outro, por dar legitimidade à ordem social vigente. No caso específico do determinismo genético, a xenofobia e a guerra, por exemplo, seriam conseqüências inevitáveis de um instinto tribal de posse de um território e de um instinto bélico, cujo objetivo seria a propagação dos genes. Segundo esta vertente darwinista defendida pela chamada Sociobiologia, existem genes para os mais variados tipos de comportamentos: genes do altruísmo, genes da religiosidade, genes da violência, genes do egoísmo etc.

O determinismo (seja qual for sua esfera) sintetiza de certo modo aquele quase latente desejo humano em se ver livre de responsabilidades sociais num mundo que se mostra em perene conturbação. É comum no determinismo religioso culpar-se os demônios por certos males que acometem a sociedade. No determinismo genético, o papel dos tais “demônios” recai sobre os genes, que se tornam os responsáveis por uma ampla variedade de comportamentos humanos específicos. Assim, se no determinismo religioso há os demônios da doença, do alcoolismo, da prostituição, da dissolução dos bons costumes, do fracasso financeiro etc.; no determinismo genético, por sua vez, atuam os genes do amor, da vaidade, do caráter, da espiritualidade, da compaixão, entre tantos outros.

Em seu livro “
O Universo Aberto: argumentos a favor do indeterminismo”, Karl Popper tenta mostrar que nem mesmo a validade da física clássica nos imporia qualquer doutrina determinista acerca do mundo. Ele resume muito bem sua postura contra o determinismo com as seguintes palavras: “Nenhuma boa razão foi até agora apresentada contra a abertura do nosso universo ou contra o fato de coisas radicalmente novas estarem constantemente a emergir dele; e nenhuma boa razão foi até agora dada que tivesse lançado dúvidas acerca da liberdade e criatividade humanas, uma criatividade que é restringida e inspirada também pela estrutura interna do mundo” (p. 129, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1988).

É isso!

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