A morte sob supervisão médica


“Vários estudos foram realizados, baseados em entrevistas e documentação histórica, com o objetivo de explicar a relação entre ciência e nacional-socialismo, ou seja, qual o papel desempenhado por médicos, antropólogos e psiquiatras que, ao invés de curar, aluavam com o objetivo de matar. Robert Jay Lifton, um desses estudiosos, chegou à conclusão de que havia uma estreita interação entre a ideologia biomédica, a ideologia nazista e a conduta pessoal daqueles profissionais. Segundo ele, os médicos nazistas atuavam em diferentes frentes, às vezes acumulando funções: nos campos de concentração, no programa de eutanásia, como teóricos da ideologia racial e como administradores e gerenciadores de projetos desenvolvidos pela alta hierarquia médica nazista.


Esses profissionais eram motivados pela ideologia nazista e por interesses pessoais, acreditando que o assassinato em massa dos judeus tinha uma função terapêutica: a de curar a Alemanha de um grande mal (os judeus), de forma a garantir a revitalização da raça ariana e da cultura alemã. Por meio dessa visão de mundo a Alemanha deveria ser tratada como um corpo doente, cuja cura implicava no extermínio das bactérias que estavam infectando seu organismo como um todo. Em 1935 um boletim médico, amplamente divulgado pela imprensa nazista, comparava os judeus ao bacilo de Koch. Eles também eram apresentados como se fossem uma gangrena que, enraizada no corpo da nação, deveria ser extirpada.


De acordo com estes princípios, os nazistas assumiram o direito de poder controlar o processo de evolução, reinterpretando a teoria desenvolvida por Darwin segundo os interesses do Reich. Fazendo suas próprias seleções, os nazistas construíram sua versão sobre a evolução humana. Acima da natureza (seleção natural) e de Deus (poder espiritual), um grupo de médicos, geneticistas, antropólogos, psiquiatras e teóricos decidia os limites entre a vida e a morte. Nesse contexto, o Instituto Imperador Guilherme, que representava o máximo do conhe cimento científico no campo da antropologia e psiquiatria, desempe nhou um importante papel.


Em 14 de julho de 1933 foi decretada a Lei para a Profilaxia da Progénie com Doença Genética, contestada por alguns psiquiatras e elementos da Igreja Católica. Determinava a esterilização forçada nos casos de imbecilidade congénita, esquizofrenia, loucura circular (psi­cose maníaco-depressiva), epilepsia hereditária, coreia hereditária, cegueira hereditária, surdez hereditária, deformações físicas graves e alcoolismo agudo. Não chegou a ser regulamentada, mas fez milhares de vítimas: em Hamburgo foram esterilizadas 62 463 pessoas em 1934 e 64 646 em 1936. Em 1935, o Centro de Estudos II da Junta Consultiva de Especialistas em Política Educacional e Racial deliberou sobre a esterilização de 380 crianças negras entregues pela Gestapo para as clínicas universitárias."


É isso!


Fonte:

"Holocausto: Crime contra a humanidade". Maria Luiza Lucci Carneiro. Editora Ática. São Paulo, 2000, p. 51, 51.

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