Em seu “Crepúsculo dos Ídolos”, escreve Nietzsche:
“Anti-Darwin. No que concerne à célebre luta pela vida, ela me parece a princípio mais afirmada do que provada. Ela acontece, mas enquanto exceção; o aspecto conjunto da vida não é a indigência e a penúria famélicas, mas muito mais a riqueza, a exuberância, mesmo o desperdício absurdo - onde há luta, luta-se por potência... Não se deve confundir Malthus com a natureza. No entanto, suposto que haja esta luta e, de fato, ela se dá -, ela transcorre infelizmente de modo inverso ao que a escola de Darwin deseja; de modo inverso ao que talvez se pudesse desejar: isto é, em detrimento dos fortes, dos privilegiados, das felizes exceções. As espécies não crescem em meio à perfeição: os fracos sempre se tornam novamente senhores sobre os fortes. Isto acontece porque eles estão em grande número e porque eles também são mais inteligentes... Darwin esqueceu o espírito (- isto é inglês!), os fracos possuem mais espírito... É preciso ter necessidade de espírito para obter um espírito - nós o perdemos quando não temos mais necessidade dele. Quem possui a força se desprende do espírito (- "Deixemo-lo ir!" pensase hoje na Alemanha - "O império há, contudo, de permanecer conosco" ... ). Eu entendo por Espírito, como se vê, a cautela, a paciência, a astúcia, a dissimulação, o grande autocontrole e tudo que é mimicry (a este último pertence uma grande parte da assim chamada virtude).”
Destaco brevemente, aqui, dois pontos apenas:
1. “No que concerne à célebre luta pela vida, ela me parece a princípio mais afirmada do que provada.”
2. “Ela acontece, mas enquanto exceção...”
Nos enxertos acima, parece claro que Nietzsche não está propriamente negando que haja uma “luta pela vida”, mas que ela existe apenas como uma exceção, e mesmo nos casos extremos de vida e morte, ainda assim seria uma “luta por potência”, e não como defendiam os evolucionistas, ou seja, uma luta para triunfo e progresso dos “mais fortes”.
Desta forma, fica evidente que, ao contestar o espírito de luta darwinista, Nietzsche contesta com isso a força propulsora que mantém esta luta afirmada, ou seja, a Seleção Natural, pelo menos nos moldes como fora inicialmente concebida por seus teóricos. E, não obstante tenha sido Herbert Spencer quem cunhou o lema “sobrevivência do mais apto”, ao transferir a “luta” de Malthus para a esfera da Natureza, Darwin deu a esta “luta” um significado próprio, que a sintetizou nesta mesma expressão “Seleção Natural”.
É isso!
“Anti-Darwin. No que concerne à célebre luta pela vida, ela me parece a princípio mais afirmada do que provada. Ela acontece, mas enquanto exceção; o aspecto conjunto da vida não é a indigência e a penúria famélicas, mas muito mais a riqueza, a exuberância, mesmo o desperdício absurdo - onde há luta, luta-se por potência... Não se deve confundir Malthus com a natureza. No entanto, suposto que haja esta luta e, de fato, ela se dá -, ela transcorre infelizmente de modo inverso ao que a escola de Darwin deseja; de modo inverso ao que talvez se pudesse desejar: isto é, em detrimento dos fortes, dos privilegiados, das felizes exceções. As espécies não crescem em meio à perfeição: os fracos sempre se tornam novamente senhores sobre os fortes. Isto acontece porque eles estão em grande número e porque eles também são mais inteligentes... Darwin esqueceu o espírito (- isto é inglês!), os fracos possuem mais espírito... É preciso ter necessidade de espírito para obter um espírito - nós o perdemos quando não temos mais necessidade dele. Quem possui a força se desprende do espírito (- "Deixemo-lo ir!" pensase hoje na Alemanha - "O império há, contudo, de permanecer conosco" ... ). Eu entendo por Espírito, como se vê, a cautela, a paciência, a astúcia, a dissimulação, o grande autocontrole e tudo que é mimicry (a este último pertence uma grande parte da assim chamada virtude).”
Destaco brevemente, aqui, dois pontos apenas:
1. “No que concerne à célebre luta pela vida, ela me parece a princípio mais afirmada do que provada.”
2. “Ela acontece, mas enquanto exceção...”
Nos enxertos acima, parece claro que Nietzsche não está propriamente negando que haja uma “luta pela vida”, mas que ela existe apenas como uma exceção, e mesmo nos casos extremos de vida e morte, ainda assim seria uma “luta por potência”, e não como defendiam os evolucionistas, ou seja, uma luta para triunfo e progresso dos “mais fortes”.
Desta forma, fica evidente que, ao contestar o espírito de luta darwinista, Nietzsche contesta com isso a força propulsora que mantém esta luta afirmada, ou seja, a Seleção Natural, pelo menos nos moldes como fora inicialmente concebida por seus teóricos. E, não obstante tenha sido Herbert Spencer quem cunhou o lema “sobrevivência do mais apto”, ao transferir a “luta” de Malthus para a esfera da Natureza, Darwin deu a esta “luta” um significado próprio, que a sintetizou nesta mesma expressão “Seleção Natural”.
É isso!
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