Max Weber Vs Edir Macedo

"Ao analisar o símbolo da prosperidade — encontrado no discurso religioso moderno, sobretudo no que hoje se pode definir como neopentecostal —, o sociólogo alemão relaciona essa característica ideológica utilitária na definição de avareza, traçando dessa forma o seu valor ético. Para Weber, na ética em questão...

... a peculiaridade desse apego sórdido ao dinheiro parece ser o ideal de um homem honesto, de crédito reconhecido e, acima de tudo, a idéia do dever de um indivíduo com relação ao aumento de seu capital, que é um fim em si mesmo. Na verdade, o que se é pregado não é uma simples técnica de vida, mas sim uma ética peculiar, não a do bom senso comercial, mas sim um ethos. (WEBER, 1996, p. 31)

Seguindo a lógica da idéia da prosperidade na “qualidade” da avareza, Weber relaciona essa ética hedonista com a religiosidade, atribuindo à última o mérito da instituição criadora do sentido de acúmulo de riqueza como símbolo da felicidade, ou algo maior que ela, que ao mesmo tempo mostra-se transcendental e irracional. Weber conclui que a aquisição econômica não está subordinada ao homem como meio de satisfazer suas necessidades materiais, mas sim como meio de ele se aproximar da prosperidade e, assim, ser estimado por Deus: “O rico domina sobre os pobres.... Se vires um homem diligente em seu trabalho, ele estará acima dos reis”, diz o Provérbio XXII da Bíblia. Na questão da ideologia e sua importância como controladora, influenciadora e detentora de poder, Weber faz uma consideração lógica e histórica sobre a criação da igreja como um empreendimento comercial, afirmando que é a partir do princípio de adequação — um dos fundamentais elementos da manutenção do capitalismo — que a igreja, por exemplo, na forma de empresa, ajusta-se ao mercado, influenciando desta forma o espírito capitalista. Para ele, a idéia da sustentação desse espírito capitalista é muito mais importante para a evolução do capitalismo do que as próprias somas de capital disponíveis para uso econômico.

A Igreja Universal do Reino de Deus, construída na idéia neopentecostal de organização religiosa, herda a ideologia dessa igreja moderna traçada por Max Weber, sobretudo nas questões da prosperidade e suas relações com o acúmulo de capital. A Universal destina sessões especiais aos fiéis empresários, nas quais são ensinados e debatidos princípios e técnicas de sobrevivência econômica e conquista de mercado. Alguns desses princípios foram caracterizados por Weber. Segundo o estudioso alemão, ao relacionar religiosidade com o espírito capitalista “a perda de tempo é o primeiro e principal de todos os pecados”. Nessa lógica, a duração da vida é curta demais, o que obriga ao indivíduo definir a prioridade para suas ações e seus hábitos. A perda de tempo que significam certos hábitos da vida social — como conversas ociosas —, o luxo e mesmo o sono deve ser evitada, e isso é indispensável do ponto de vista moral: como tempo é valioso, toda hora de trabalho perdida implica perda do trabalho para a “glorificação de Deus” — afinal, de acordo com a ética estudada por Weber, o homem é apenas o guardião dos bens que lhe foram confiados pela graça de Deus. E, enfim, à medida que se foi estendendo a influência da concepção devota, essa favoreceu o desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa, sendo, desta forma, o berço do moderno homem econômico. (WEBER, 1996, p. 112–125)

Outra perspectiva das operações religiosas em consonância com a lógica do capitalismo — no caso, com a “cultura do consumo” — está no artigo sobre mídia e religião A salvação cotada em dólar, de Muniz Sodré. Nesse texto, ele admite que, com a expansão de seitas nas grandes metrópoles, o fenômeno religioso torna-se cada vez mais independente frente à transcendência — o sagrado, o “além do natural” — e à própria sociedade. A experiência religiosa é hoje um estilo de vida: existem seitas para todos os gostos, assim como no mercado de consumo se diversifica a oferta e a demanda. Em outras palavras, “crença e mídia passam a ter mais afinidades do que supõe a vã teologia”. Sodré cita a definição bem humorada que crítico de cultura John Carroll faz do casamento de teologia e marketing na sociedade contemporânea: “suntuoso é o caminho para a salvação — consuma e sinta-se bem!”. Ele também menciona um curioso exemplo: o de uma igreja no Rio de Janeiro que ministra os cultos em inglês e que estes são um sucesso entre os próprios brasileiros. Isto mostra o quanto a religião pode encaixar-se numa visão de consumo, de modismo. (SODRÉ, 2001)

A salvação é um dos fenômenos vendidos pela chamada igreja eletrônica ou igreja comercial. Ainda de acordo com o artigo:

É comum que os líderes religiosos ou pastores sejam versados em técnicas de marketing ou mesmo provenham desse campo profissional. É logicamente conseqüente que o inglês, língua franca do comércio e da tecnologia mundial, termine entrando como parte da estratégia “marketeira”. Pouco importa no fundo que se entenda ou não o que se prega. Assim como a mídia comercial; tudo isso tem mais a ver com “massagem” que com mensagem. (SODRÉ, 2001)

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É isso!

Fonte:
Maria da Penha Nunes da Rocha: “AS ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS”. (Tese de doutorado apresentada ao Programa Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutora. Linha de Pesquisa: Mídia e Mediações Sócio-Culturais). Orientador: Prof. Micael Herschmann. Rio de Janeiro, fevereiro de 2006

Nota
:
A imagem e o título inseridos no texto não se incluem na referida tese.

Um comentário:

  1. Não! Existe um abismo sobre o que Webber disse e o que a Universal prega. Ela nunca, jamais "ensina e debate técnicas de sobrevivência econômica de mercado". Jamais. Sugiro assistir uma dessas reuniões para não escrever bobagem. Macedo nada ensina. O que Macedo sugere é "se você quer ser um vencedor, ter sucesso financeiro, você deve OFERTAR, SER FIEL AO DÍZIMO E OFERTAS". "O irmão deve "ofertar" como prova de fé". Se não der certo, a culpa é do fiel, da sua pouca fé. A Teologia da Prosperidade é a VENDA DE INDULGÊNCIAS com nova roupagem. Webber fala em trabalho e Macedo fala em barganhas com Deus contrariando o que diz a Bíblia que dizem seguir: "O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males",1 Timóteo 6, 10. Leiam "Fé, Vitrines e Mercado: o Marketing na igreja Universal" da publicitária Rafaela Barbosa. Um vídeo (Folha de São Paulo) mostra líder da Universal ensinando a arrecadar dinheiro na crise e a negociar com bandido", Vejam o vídeo. A IURD não ensina ninguém a prosperar com seu próprio trabalho, ela pratica estelionato religioso.

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