A reação da igreja às idéias de Darwin

“O milagre da criação — a interpretação literal da Bíblia — também impediu que a Igreja Católica se acomodasse às opiniões de Origem. A Igreja Católica, na verdade, respondeu lentamente à hipótese evolucionista e não discordou publicamente de Darwin, até o aparecimento de A descendência do homem. Católicos, como Mivart, haviam expressado antipatia pessoal. Mas, na última parte do século, foram assinados decretos oficiais desencorajando qualquer discussão sobre a evolução. Darwin, no entanto, não apareceu no Índex: seus livros não foram proibidos à leitura, como os de seu avô, Erasmus Darwin. Mas a proclamação da infalibilidade do Papa, em 1870 — e as posteriores encíclicas anunciando a infalibilidade da Bíblia —, desencorajaram a discussão aberta da teoria darwiniana. Não haveria acordo com a nova ciência. Só em 1951 — quando o papa Pio XII relaxou a interpretação dogmática da Bíblia — é que a discussão aberta sobre a evolução tornou-se oficialmente tolerada. Em 1951, foi feita uma referência específica à evolução na encíclica, mas os católicos “não devem fiar-se”, advertia, “que a evolução seja um fato comprovado”.

A idéia biológica da mudança e a exigência evolucionista da mudança geológica eram inimigas da igreja. Ambas as teorias — a de Darwin e a de Lyell — exigiam uma imensa escala de tempo para que as mudanças ocorressem e, no entanto, a Bíblia ensinava que tudo fora criado em sete dias.Mesmo que os dias fossem interpretados literalmente, a Bíblia no dava muito tempo para a evolução, uma vez que, em 1665, o bispo Ussher havia proclamado que o Começo ocorrera precisamente às 9 horas da manha, no dia 23 de outubro do ano 4004 a. C. Estava bem longe da estimativa “conservadora” de Lyell de pelo menos 240 milhões de anos desde o começo da Terra e até mesmo longe da “ultraconservadora” e provavelmente preconceituosa estimativa de Lord Kelvm, de 20 milhões de anos. A teoria Darwin. Wallace pedia muito mais — uns 500 milhões de anos. Isto no era aceitável de forma alguma pelos que aderiam a uma interpretação literal da Bíblia. Mas havia alguns que, acreditando em milagres e apregoando a revelação, estavam, no entanto, desejosos de pensar na idéia de uma Terra antiga. Whewell e Sedgwick se opunham à teoria darwiniana porque ela rejeitava um plano e o status especial do homem, mas estavam desejosos de abandonar o Dilúvio e aumentar a idade da Terra. Estavam até mesmo desejosos de permitir que — após a criação — um sistema auto-evolutivo tivesse sido responsável pelo menos por alguns dos animais da Terra.

Na última metade do século XIX, muitas seitas religiosas, na Inglaterra, faziam concessões à teoria evolucionista. Ma só homem era ainda um problema. Foi o lugar do homem no Universo que levantou o tumulto quando do aparecimento da Origem. Foi o lugar do homem no Universo que atraiu uma audiência tão grande no debate de 1860, entre Huxley e Wilberforce. Foi o lugar do homem no Universo que provocou todos os insultos, muito embora a Origem fizesse apenas duas insinuações de que a evolução pela seleção natural devia aplicar-se ao homem. Com a publicação de O lugar do homem na natureza, de Huxley, A antiguidade do homem, de Lyell, ambos em 1863, — e A descendência do homem, em 1871 — a natureza animal do homem quase no podia ser negada.”

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É isso!

Fonte:
Wilma George: “As idéias de Darwin”. Editora Culturix – Editora da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1982.

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