Sobre o "berço da humanidade"

"Em seu livro “A Origem do Homem e a Seleção Sexual”, Charles Darwin especula da seguinte forma acerca das razões pelas quais a África, na sua opinião, ter sido o berço da humanidade:

“Naturalmen­te somos levados a perguntar-nos onde teria sido o lugar de origem do homem naquela fase da evolução em que os nos­sos antepassados se diversificam do tronco dos catarríneos. O fato de eles pertencerem a este tronco demonstra claramen­te que habitavam o velho mundo, mas não a Austrália e tam­pouco alguma ilha oceânica, como podemos deduzir das leis da distribuição geográfica. Em toda região grande do mundo os mamíferos viventes estão em estreita relação com as espé­cies extintas da mesma região. Portanto, é provável que a África fosse inicialmente habitada por símios que estão extin­tos, estreitamente afins ao gorila e ao chimpanzé. Visto que agora estas duas espécies estão mais próximas ao homem, é um tanto quanto mais provável que os nossos primeiros an­tepassados habitassem o continente africano e não outro lu­gar” (Hemus Editora, p. 183).

Sobre exatamente isto, escreve Richard Leakey em “A Origem da Espécie Humana”:

“Devemos lembrar que, quando Darwin escreveu estas palavras, nenhum fóssil humano primordial tinha sido encontrado em qualquer lugar; sua conclusão era inteiramente baseada em teorias. Na época de Darwin, os únicos fósseis humanos conhecidos eram do homem de Neanderthal, na Europa, e estes representam um estágio relativamente tardio da evolução humana.
Os antropólogos não gostaram nada da sugestão de Darwin, porque a África tropical era olhada com desdém colonialista: o Continente Negro não era visto como um lugar apropriado para a origem de uma criatura tão nobre como o Homo sapiens. Quando mais fósseis humanos começaram a ser descobertos na Europa e na Ásia na virada do século, mais zombarias foram lançadas sobre a idéia de uma origem africana, Esta atitude prevaleceu por décadas. Em 1931, quando meu pai disse aos seus mentores na Universidade de Cambridge que planejava procurar as origens humanas no leste da África, recebeu uma pressão enorme para em vez disto concentrar sua atenção sobre a Ásia. A convicção de Louis Leakey era parcialmente baseada no argumento de Darwin e parcialmente, sem dúvida alguma, no fato de que ele havia nascido e sido criado no Quênia. Ele ignorou o conselho dos estudiosos de Cambridge e conseguiu estabelecer a África Oriental como uma região vital na história da nossa evolução primordial. A veemência do sentimento anti-África dos antropólogos parece agora estranha para nós, dado o vasto número de fósseis humanos primordiais que tem sido recuperado neste continente nos anos recentes. O episódio é também um lembrete de que os cientistas são muitas vezes levados tanto pela emoção quanto pela razão” (Editora Rocco, p. 16,17).

A frase de Leakey “Os antropólogos não gostaram nada da sugestão de Darwin, porque a África tropical era olhada com desdém colonialista: o Continente Negro não era visto como um lugar apropriado para a origem de uma criatura tão nobre como o Homo sapiens” me parece uma jibóica contradição, isto levando em conta os interesses ideológicos dos antigos darwinistas sociais. Ora, o “progresso” era marca registrada do pensamento racista dos antropólogos e filósofos evolucionistas nos primórdios do darwinismo. Sendo assim, a idéia de que o homem teve sua origem na África, em vez de chocar-se com seus ideais de superioridade racial, favoreceu enormemente esses sentimentos preconceituosos, já que corroborava em cheio o conceito de “progresso da civilização” ou "evolução cultural dos povos". O homem, saindo de sua ínfima origem (a África) ascendeu rumo à plena civilização (a Europa).

Isso me fez lembrar de um antigo documentário passado na TV Cultura sobre o apartheid. Quando perguntado por um repórter sobre a revolta do povo banto, um inglês “branquinho e engomado” obstou-o alegando que sequer ele “havia descido da árvore”. Ou seja, para o pensamento racista, se baseado no ideal de evolução como progresso, é muito mais interessante que o homem tenha sua origem na África, em vez da Ásia ou Caculé.

É isso!

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