Maçonaria: Origem e Desenvolvimento na História.

“Se abordarmos a história e influência da Maçonaria Contemporânea, sem pesquisar minuciosamente a respeito de suas origens, não poderemos chegar a um consenso histórico razoável de sua influência.

Pois ao ser abordado o complexo, intrincado e obscuro surgimento da Maçonaria no mundo, será necessário entrar em um campo histórico no qual os próprios historiadores maçons não formam um consenso. O escritor e historiador maçom Leadbeater afirma:

Como já disse no livro anterior, as origens da atuação da Maçonaria se perdem nas névoas da Antiguidade. Os escritores maçônicos do século dezoito lhe especularam a história sem senso crítico, baseando seus conceitos numa crença literal na história e cronologia do Antigo Testamento, e nas curiosas lendas do Artesanato, transmitidas das épocas operativas nas Antigas Ordenanças. Assim é que o Dr. Anderson, em seu primeiro Book of Costitutions, chegou a avançar que “Adão, nosso primeiro pai, criado à imagem de Deus, o grande Arquiteto do Universo, devia ter possuído as Ciências Liberais, particularmente a Geometria, escrita em seu coração, ao passo que outros, menos fantasistas, atribuíram sua origem a Abraão, Moisés, ou Salomão”. O Dr. Oliver, escrevendo na primeira metade do século dezenove, e portanto bem tardiamente, sustentou que a Maçonaria, tal qual a conhecemos hoje, é a única e verdadeira relíquia da fé dos patriarcas antediluvianos, ao passo que os antigos Mistérios do Egito e de outros países, que tanto se assemelham a ela, não passaram de corrupções humanas de uma tradição primitivamente pura (LEADBEATER, 2005, p.13-14).

Outro pesquisador e renomado escritor maçom, Elias Mansur Neto afirma que a origem da Maçonaria é desconhecida. Assim declara Mansur:

A origem precisa da maçonaria não é conhecida. Ao longo dos séculos, nas diversas situações históricas, existiram organizações que se estruturaram de maneira parecida com a maçonaria, mas tinham outros nomes e, até agora, não se pode estabelecer uma ligação clara com a maçonaria que conhecemos hoje. A certeza é que apenas seus organizadores se inspiraram em organizações semelhantes existentes num passado distante (NETO, 2005, p. 22).

Assim, pode-se notar que muito tem sido escrito e discutido sobre a origem da Maçonaria na história, resultando, pela criatividade, hipóteses sobre seu surgimento.


Nas palavras de Hortal, em Maçonaria e Igreja: conciliáveis ou inconciliáveis temos:


Como toda sociedade iniciática, a Maçonaria deu lugar a numerosas lendas sobre suas origens, às vezes fomentadas pelos próprios maçons. Desde os mistérios egípcios de Ísis e Osíris passando pelo culto a Mitra, até à Ordem dos Templários e a misteriosa Fraternidade Rosa-Cruz (diferente da atual AMORC!), não há época da história e não há região geográfica do Mundo Antigo e Medieval que não tenha sido apontada como a origem da Ordem maçônica. Até Adão foi transformado, por alguns irmãos no primeiro franco-maçom! (HORTA, 2002, P. 12).

A hipótese que está mais ligada à evolução da Maçonaria na história encontra-se no período da Idade Média: a franco-maçonaria a partir das corporações de pedreiros.


Portanto, em plena Idade Média, antes de aparecer a Maçonaria Operativa ou Maçonaria de Ofício, entrando em evidência a Arte Gótica, quando começaram a ser construídos muitos conventos, igrejas, catedrais e palácios, neste período foram importantes as Associações Monásticas principalmente constituídas pelos Beneditinos (Ordem de São Bento fundada por São Bento em 529 d.C.) e Cistercienses (monges de Císter - França - fundada em 1098 pelo abade De Molesme), que eram clérigos, experientes projetistas e geômetras, excelentes oficiais na arte de construir. Dominaram o segredo da construção por muito tempo, o qual ficou inicialmente restrito aos conventos.

Os termos Venerável Mestre e Venerável Irmão eram usados pelos abades do século VI. Tais termos foram incorporados pelos maçons atuais, como praticamente tudo na Maçonaria o foi.

Dessa forma, os Monásticos com seus conhecimentos monopolizaram por longo tempo a arte de construir guardando para a sua Agremiação seus segredos.

Entretanto, eram obrigados a contratar profissionais leigos, pois a demanda cada vez maior de construções e serviços secundários assim o exigia. Estes profissionais foram aprendendo com os clérigos, de forma que, com tempo em face da decadência da fase Monástica, constituíram as Confrarias Leigas.

Assim, ressalte-se que a influência destes clérigos foi muito significativa, pois infundiram ensinamentos importantes na arte de construir, bem como princípios religiosos nas escolas e oficinas de arquitetura. Sabe-se que cada Corporação de Construtores tinha o seu Santo padroeiro, demonstrando que a Maçonaria Operativa continha bases religiosas por receber influência do clero. Os Beneditinos e os Cistercienses são considerados os ancestrais da Maçonaria Operativa.

Seguindo-se o rumo da história, juntamente com as Ordens Militares e Religiosas, vieram as Guildas as quais influíram muito nas tradições maçônicas.


Estas associações surgiram no Norte da Europa e se estabeleceram principalmente na Inglaterra, Alemanha e Dinamarca e em outros países. Eram associações inicialmente religiosas, no entanto, a partir do século XII se constituíram em associações profissionais fraternas, verdadeiras confrarias de defesa e auto-proteção de seus sócios.


Os novos participantes destas confrarias eram obrigados a um juramento; além de pagar uma jóia (importância que todo novo adepto paga ao ser admitido na Loja), coletavam dinheiro para auxílio mútuo, amparo às viúvas e despesas funerárias.


Interessante frisar que a palavra Loja surgiu pela primeira vez em um documento emitido por uma destas corporações em 1292, servindo para designar o local de trabalho ou mesmo como sinônimo de Guilda e não se dedicavam somente às construções.

No século XII, surgiu na Alemanha a Corporação dos Steinmetzer cujos membros eram conhecidos por serem escultores e entalhadores de pedras ou canteiros e que não se dedicavam exclusivamente à arte Gótica, porém, trabalharam em muitas catedrais deste estilo de construção. O canteiro esquadreja e trabalha na escultura da pedra bruta.


Os Steinmetzer tomaram grande impulso através do seu famoso arquiteto Erwin, natural de Steinbach. A Convenção de Estrasburgo, dos Canteiros, foi convocada por ele em 1275 para terminar uma importante catedral em arenito rosa existente naquela cidade.


A esta Convenção compareceram os principais arquitetos ingleses, alemães, italianos e de outros países. Nela foram adotados os sinais, palavras e toques usados para identificação secreta dos membros da Confraria (oficialmente os Steinmtzer criaram na Convenção de Estrasburgo os toques, sinais e palavras). É bem provável que outras Corporações usassem suas próprias senhas.

Ainda no século XII surgiu a Franco-Maçonaria ou Ofícios Francos, a qual era constituída de pedreiros-livres ou franco-maçons e que deixaram marcada sua influência na Maçonaria atual. Os franco-maçons puderam dedicar-se totalmente à sua arte, pois eram trabalhadores privilegiados que estavam isentos de impostos, eram, também, construtores categorizados e tinham livre trânsito, isto é, não ficavam presos numa mesma região à disposição de seu nobre senhor e além disso eram muito respeitados. O termo franco significava liberdade total, livre de qualquer tipo de servidão ou compromisso, a não ser o de criar e construir.

Mais ou menos a partir do século XV nasce, na França, um tipo de agremiação de operários cristãos itinerantes, a Corporação dos Companheiros e que teria sido fundada pelos Cavaleiros Templários. Os Companheiros iam de cidade em cidade, solicitando trabalho e prestavam assistência mútua. Não era permitido ingresso na organização até que o ingressante passasse por um tempo de aprendizado e, por fim, recebido por meio de um cerimonial. Eles construíram no Oriente Médio durante as Cruzadas, fortificações, cidadelas, especialmente pontes e obras de defesa militar. Ao voltarem às suas pátrias, construíram obras civis, igrejas e catedrais. Estas organizações duraram muito tempo e desapareceram por completo no início do século XIX com nascimento da grande indústria e do sindicalismo.

Interessante que estas Corporações de Ofício se tornaram importantes em função da arte gótica que nasceu na França e se notabilizou na Alemanha e outros países, durando cerca de trezentos anos. A Renascença viria e suas conseqüências se fizeram sentir tanto na arte gótica como no monopólio das Corporações das construções das fraternidades maçônicas que dominavam as construções góticas, cujas edificações mais importantes, as catedrais, já estavam todas construídas. Não havia mais o que construir neste estilo.

Este fato ocasionou a decadência das Corporações e no século XVII, podemos notar que o povo europeu estava preferindo o estilo clássico romano que era mais alegre que o estilo gótico. Sendo assim, a arte da construção teve que sair das mãos dos franco-maçons e se tornar conhecida entre outros operários construtores que não faziam parte da Confraria.

Foi mais ou menos nesta fase da história que as fraternidades maçônicas operativas foram obrigadas a aceitar outras pessoas que não estavam ligadas à construção, muito embora já as estivessem aceitando. O primeiro maçom aceito de que se tem provas foi John Boswel1, que era um lorde e ingressou numa Confraria em 08.06.1600 como maçom aceito, não profissional na Loja da Capela de Santa Maria em Edimburgo, Escócia. Esta aceitação passou a ser comum, em virtude da decadência das corporações admitindo-se sábios, filósofos, naturalistas, artistas, antiquários, nobres, militares, comerciantes, escritores e pensadores, marcando assim, uma grande transformação na Maçonaria. Estes Aceitos trouxeram novas concepções e contribuições para as agremiações, contudo, a transformaram radicalmente. Inclusive, segundo alguns autores, os Rosacruzes foram os que mais contribuíram para a filosofia maçônica, já que muitos destes primeiros aceitos eram Rosacruzes.


Entretanto, a Maçonaria Operativa faz alusões aos Old Charges, cerca de 140 a 150 manuscritos antigos, os quais não fazem quaisquer referências aos templos, aos hermetistas, templários, rosacruzes, não citam o sentido simbólico das ferramentas, não é citada a Bíblia, não se fala em ocultismo, esoterismo, alquimia, cabala, etc. Era uma maçonaria francamente católica. E as Lojas eram constituídas dos chamados Maçom livre em Loja livre.

Estes documentos não citam os famosos landmarques, tal como é conhecido hoje. Se lermos as mais variadas classificações de landmarques, as quais estimam em mais de sessenta, veremos que elas nada mais são que cópias dos estatutos das referidas Corporações quer de Construtores, quer das Guildas, cujos artigos foram copiados e adaptados à Maçonaria depois de 1717, tendo muito pouco a ver com a atual Maçonaria.

Verdade seja dita, se analisarmos com cautela e sem predisposições, veremos que a Maçonaria Operativa tem menos a ver com a Maçonaria Moderna ou Especulativa do que se divulga em muitas publicações maçônicas.

Foi uma Ordem que se sobrepôs à outra, adotando seu nome, seus costumes, suas lendas, suas alegorias, seus sinais, suas palavras, a sua estrutura já pronta, porém modificando-a quase que totalmente e revestindo-a de valores simbólicos modificados.

Os maçons se reuniam em tabernas, cervejarias, hospedarias e nos adros das igrejas. Não existiam templos. Estes locais de encontro tinham mais uma função social e de comemoração. O primeiro templo (Freemason’s Hal ) foi construído em 1776 em Londres. Aliás, este templo foi ornamentado com as cinco Ordens de Arquitetura, de inspiração do grande escritor e o primeiro professor de Maçonaria, o inglês Wil ian Preston, tido como o primeiro maçom a dar o sentido simbólico às ferramentas de pedreiro, ligadas à construção, tal qual as conhecemos hoje.

A Maçonaria caminhava neste trajeto, se transformando dia a dia como o mundo estava se modificando e evoluindo. Na Inglaterra, que foi o berço da Maçonaria Moderna, existia uma famosa cervejaria “O Ganso e a Grelha”, onde se reuniam os franco-maçons, inicialmente esta Corporação constituída por profissionais de ofício, mas a partir de 1703 começou a receber os “aceitos” indistintamente de todas as classes sociais, fazendo com que houvesse uma profunda reforma na organização. Um dos líderes dos “aceitos” o pastor protestante Desagul iers conseguiu reunir quatro lojas cujos nomes soam um tanto estranho para nós. Os nomes eram: a Macieira, a Coroa, O Ganso e a Grelha e o Copázio e as Uvas. Estas quatro Lojas no dia 24.06.1717 se reuniram e fundaram a Grande Loja de Londres, surgindo daí o sistema de submissão a um Grão-Mestre.

Assim, cria-se a primeira Potência ou Obediência maçônica no mundo. Haviam até então apenas dois graus, sendo que em 1725 foi criado o grau de Mestre finalmente incorporado nos Rituais a partir de 1738.


Inicialmente a Grande Loja de Londres não foi bem aceita na Inglaterra. A partir deste ponto a Maçonaria seguindo a libertação que o Século das Luzes trouxe ao mundo, foi uma verdadeira mistura de experiências culturais e ritualísticas. A Inglaterra ordeira e rígida em suas tradições manteve como mantém até hoje apenas os três graus simbólicos. A França com o seu perfil latino e ousado proporcionou uma enxurrada de graus, criando os Graus Superiores, e além dos ritos tradicionais, criou uma série de outros ritos, alguns exóticos e mágicos. A Alemanha e outros países inicialmente acompanharam a França neste festival de graus e ritos, porém a Alemanha, resolveu enxugar o que tinha de exagero. De qualquer forma neste século foi criada a base da Maçonaria Moderna ou Especulativa tal qual conhecemos hoje a partir da Maçonaria Operativa.

Todavia, é em 1723 que a maçonaria se consolida e se organiza com As Constituições dos Franco-Maçons de 1723, em Londres, sob a direção de John Desaguil ers e do Dr. Rev. James Anderson. Sendo assim, Londres se tornou o centro do pensamento cultural e liberal do continente europeu. Aqui começamos a observar a influência que a maçonaria está tendo na sociedade européia, pois assim informa J. Scott Horrel:

A franco-maçonaria cresceu com força e rapidez extraordinárias. Tanto na França, na Itália, na Espanha, em Portugal, na Prússia como em muitos outros países, a fraternidade maçônica tornou-se o centro – por vezes permitida, por outras clandestina – de intelectuais, de aristocratas e de dissidentes religiosos e políticos da alta sociedade (HORRELL, 1995, p. 35,36).

De acordo com Horrel , é notado que a influência da maçonaria sobre a sociedade, tanto européia, como depois em outros continentes, tornou-se evidente pelo caráter dela ter os princípios de Igualdade, Fraternidade e Lealdade. Logo, forma-se uma poderosa ordem nos séculos XVIII e XIX.”

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É isso!

Fonte:
Wilson Ferreira de Souza Neto: “PRESBITERIANISMO E MAÇONARIA: UMA ANÁLISE DA CONTRIBUIÇÃO MAÇONICA AO PRESBITERIANISMO BRASILEIRO NO PERÍODO DE 1859 A 1889”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião. Orientador: Prof. Dr. Hermisten Maia Pereira da Costa). Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo, 2008.

Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.

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