" A Física ariana e a Física judaica"

A FÍSICA E O PROJETO ATÔMICO ALEMÃES NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

A Polêmica entre a Física Experimental e a Teórica na Alemanha Nacional-Socialista ou entre a Física Ariana e a Física Judaica

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Entre os cientistas, houve aqueles que optaram pela neutralidade. Outros, pela oposição ao regime. Mas também havia os adeptos abertos do regime, cuja liberdade interna se fundia à obediência externa. Em meio a tudo isso, aconteceu, na Alemanha nacional-socialista (e na Alemanha prestes a se tornar nacional-socialista), uma polêmica que era, na verdade, uma farsa. Seria uma polêmica entre físicos experimentais e teóricos, ou entre adeptos da “Física Ariana” e da “Física Judaica”. Esses ltimos dois termos ajudam a compreender o que estaria por trás da polêmica, ou seja, o preconceito e a ideologia antissemitas.

Para situar melhor a polêmica, é preciso entender como a física experimental e a teórica eram tratadas na Alemanha. Nos institutos de pesquisa e nas universidades, haviam departamentos separados, em prédios separados, para ambas. Era comum haver, por exemplo, dois institutos de física experimental e um de física teórica na mesma universidade, ocupando espaços diferentes, com chefias diferentes, sem o mínimo contato ou colaboração. Havia mesmo uma forte concorrência entre os departamentos, e um não passava informação alguma para o outro, não havia a mínima colaboração.

Os principais líderes e proponentes da Física Ariana foram Philip Lenard e Johannes Stark , que eram nazistas de primeira hora, adeptos do nacional-socialismo antes mesmo da chegada de Hitler ao poder. Gozavam de prestígio por isso, já que não eram vistos como nacional-socialistas oportunistas ou adesistas. Eram físicos experimentais competentes, ganhadores de Prêmio Nobel. Lenard ganhou o seu em 1905, por seu trabalho sobre os raios catodos e sobre o efeito fotoelétrico, que Einstein explicou teoricamente no mesmo ano da premiação. Ele havia apoiado o conceito revolucionário de quantas de luz de Einstein. Stark foi contemplado em 1919, pela descoberta do Efeito Doppler em Raios Canais e do espalhamento das linhas espectrais em campos elétricos (que ficou conhecido como o efeito Stark). Publicaram vários textos, assim como colaboradores seus, denegrindo a física moderna (a teoria da relatividade e a teoria quântica seriam invenções tipicamente judaicas), físicos como Albert Einstein, o alvo preferido, Arnold Sommerfeld e Werner Heisenberg, entre vários outros, judeus ou não (CASSIDY; HENTSCHEL).

A matemática complexa em particular, e a crescente complexidade da física em geral, causaram desconforto em alguns físicos experimentais. Eles tinham dificuldade em entender as teorias cada vez mais complicadas, e alguns começaram a suspeitar delas, criando teorias conspiratórias. Os físicos teóricos estariam complicando suas teorias propositalmente. Nomes como Max Planck e Sommerfeld (teoria quântica) e Max Born e Heisenberg (mecânica quântica) entraram na alça de mira deste grupo. Essa teoria da conspiração foi levada ainda mais adiante por esses tradicionalistas. Eles começaram a elaborá-la baseados em algo que já existia a um bom tempo na Europa: a teoria conspiratória judaica. Seria tudo, enfim, um grande plano dos judeus, para aumentar seu raio de influência na sociedade. A física moderna se afastava da física experimental de propósito.

Um artigo em especial serviu para incentivar a polêmica. Foi um artigo de Einstein, publicado na imprensa alemã em agosto de 1920, em resposta aos ataques a ele e à Teoria Especial da Relatividade. Ele acabou por incentivar seus detratores a virem a público e contra-atacarem. Mais tarde, em uma carta a Max Born, em setembro de 1920, Einstein se arrependeu de ter escrito o texto e disse que “todo homem tem que oferecer seu sacrifício ao altar da estupidez em algum momento, para agradar a Deus e ao homem. E eu fiz um belo trabalho com meu artigo.”

Ele cita vários antissemitas, como Lenard, e como seus argumentos são, na verdade, racistas, e não científicos. A polêmica durou vários anos, e ganhou um peso muito maior após a chegada ao poder dos nazistas, em 33, com a dupla Lenard-Stark mais poderosa do que nunca. Einstein já havia deixado a Alemanha, em 32. Eles se tornaram consultores e tinham até mesmo acesso a Hitler.

A partir de 36, os físicos arianos aumentaram a escala de seus ataques. Não eram mais somente os judeus que eram atacados, mas arianos como Heisenberg, Von Laue e Sommerfeld, chamados de judeus brancos. A classificação pseudorracial da Física era abrangida para judeus raciais e judeus de espírito, ou judeus brancos.

O motivo para existirem judeus brancos seriam os longos anos da influência judaica no ensino de física, o que faria que mesmo arianos como Heisenberg agissem sob essa égide. A predominância judaica teria chegado até mesmo ao Prêmio Nobel, que premiara Einstein e Heisenberg. Somente a premiação de 19, para Stark, teria sido justa, numa época em que a banca do Prêmio Nobel ainda não havia sido permeada pela força judaica. Daí, eles extrapolam para afirmar que a física teórica seria o terreno ideal para o judeu, mas a física experimental seria a verdadeira física. A distinção que os físicos arianos fazem é que o espírito pragmático existente na física experimental é alemão, enquanto que o espírito dogmático presente na física teórica é judeu. Teorias seriam simplesmente ficções com fórmulas matemáticas.

A situação chegou a tal ponto que um grupo de cientistas lançou um manifesto contra os ataques dos físicos arianos, que estavam colocando a física teórica como algo inútil e inferior à física experimental, quando as duas deveriam interagir e se complementar. Isso era prejudicial à física alemã, e faria com que ela perdesse o status que havia conquistado na comunidade científica internacional. 75 físicos o assinaram, entre teóricos, experimentalistas, física pura e aplicada, membros e não membros do partido.

Se publicamente e politicamente Lenard, Stark e seus seguidores mostravam força, com artigos publicados em periódicos nacional-socialistas e com Stark ocupando um cargo de direção em um importante instituto de pesquisas alemão, academicamente, as coisas não iam bem para eles.

Porque, se, por um lado, o comando geral (através da presidência e reitoria) de institutos de pesquisa e universidades era passado a aliados do regime, outros cargos menos importantes continuavam nas mãos de cientistas geralmente não ligados ao nacional-socialismo. Chefes de departamento, componentes de bancas examinadoras de teses, editores de publicações científicas eram cientistas, que tomavam suas decisões baseados em critérios acadêmicos e científicos, além de se posicionarem contra os físicos arianos na polêmica criada por eles.

Antes da chegada ao poder dos nazistas, a situação era bem pior para os físicos arianos. Além de não conseguirem publicar quase nada, ainda eram barrados para cargos que se candidatavam, como Stark, que teve sua candidatura à vaga de física experimental na Universidade de Munique em 1929 barrada por Sommerfeld. Antes, em 1920, Stark fundara uma sociedade, A Sociedade Profissional de Físicos da Alemanha, para competir com a já estabelecida Sociedade Física Alemã (DPG), sem sucesso. Lenard abdicou da DPG em 1925. Outros, como o físico Ernst Gehrcke, do PTR, e Ludwig Glaser, pupilo de Stark, se uniram a grupos extremistas de direita e tiveram suas reputações destruídas (HENTSCHEL).

O que quer dizer tudo isso? Que Stark e seus seguidores tinham imensas dificuldades de progredir academicamente. Não conseguiam publicar seus artigos em periódicos científicos, pois os editores não queriam publicá-los. Stark teve enorme dificuldade em contratar cientistas para o instituto que presidiu de 33 a 39, o Physikalisch-Technische Reichsanstalt (PTR), ou Instituto Físico-Técnico do Reich, apesar do grande aumento do orçamento que aconteceu após sua posse. Ele pretendia aumentar o número de pessoas trabalhando lá, principalmente cientistas. Houve um aumento, porém, mais em número de funções não estritamente científicas. Os cientistas hesitavam em fazer parte do PTR, por várias razões. Stark redirecionou as pesquisas do instituto para campos de seu interesse, que ele estava pesquisando no momento. Seu estilo ditatorial e até mesmo seu posicionamento político ostensivo na polêmica da física ariana também podem ter contribuído para esse afastamento dos cientistas. Além disso, sua indicação foi cercada de polêmica. Os cientistas consultados vetaram a indicação de Stark para a presidência do PTR, mas ele foi indicado mesmo assim. Ele também tentou se tornar presidente da DPG, porém, dessa vez, os cientistas conseguiram barrar suas pretensões.

Seus orientandos também começaram a ter problemas com suas teses, amparadas na Física Ariana, que não se sustentava. Uma banca ameaçou refutar uma defesa de tese de um deles. Stark acabou se afastando da ciência. A física clássica, que eles defendiam, não era mais universalmente aplicável. Em alguns casos, a teoria da relatividade e a mecânica quântica passaram a ser aplicadas. Vários experimentos realizados sob essa perspectiva também fracassaram, e alguns poderiam até ter dado certo, se vistos sob uma perspectiva diferente (HENTSCHEL).

O livro de Lenard, Física Ariana, publicado em 35, foi bem recebido somente por seu pequeno grupo. No geral, foi ignorado ou criticado. Mesmo nas escolas, os professores se recusavam a abordá-lo.

Por mais que tenham fracassado acadêmica e cientificamente, os adeptos da Física Ariana acabaram por impor uma série de dificuldades para os cientistas alemães, principalmente no campo político, o que era um problema enorme no período nacional-socialista.

Um dos alvos preferidos dos arianos era Heisenberg. Um dos motivos que levaram Stark, particularmente, a ter ainda mais rancor de Heisenberg foi o fato de ele ter se recusado a assinar uma declaração pública de apoio a Hitler para um plebiscito que seria realizado em 34, para ratificar as mudanças que Hitler já havia posto em prática após a morte de Hindenburg (unificação dos cargos de chanceler e presidente e controle do aparato político e estatal). Laue, Planck e Walther Nernst também se recusaram a assinar. A justificativa oficial era que física e política não deveriam se misturar. Stark era o proponente dessa declaração de apoio. Para Stark, porém, apoiar Hitler não era um ato político, mas um ato de aprovação do Führer pelo povo. Não apoiá-lo e, ainda por cima, elogiar Einstein, é que era um ato político.

Para Stark, v rias eram as a es ofensivas de Heisenberg: ele “escondeu” um artigo seu defendendo o ensino da relatividade em um jornal do partido; circulou uma petição entre físicos para influenciar uma agência estatal (REM) e silenciar seus críticos legítimos (documento citado acima); recusou-se a juntar-se a seus colegas também ganhadores do Nobel na declaração de apoio à presidência de Hitler de 34; sua indicação para o cargo de professor titular em Leipzig em 27 não foi merecida, já que ele era muito novo para merecer qualquer cargo de valor - o que provava que ele tinha o apoio do establishment judeu; ele demitiu um assistente "alemão" para favorecer os físicos judeus Bloch e Beck; e seu instituto continuava a abrigar um grande número de judeus e estrangeiros, em detrimento de "alemães"; e assim por diante.

Heisenberg cogitou sair da Alemanha por causa dos ataques e das pressões que sofria. Em uma carta, diz que poderia ir embora, mas somente se fosse a última alternativa, pois gostaria de permanecer em sua terra natal. Sentindo-se ofendido e desprestigiado, decidiu dar um ultimato: se não obtivesse apoio, iria embora da Alemanha. Em seu favor, intercedeu Ludwig Prandtl, físico que já havia, ele mesmo, sido investigado e absolvido pelas autoridades alemãs, por seu distanciamento político, reputação ilibada e interesses somente científicos. Ele escreveu uma carta a Heinrich Himmler (comandante da Schutzstaffel-SS e da Gestapo, segundo-em-comando na hierarquia nazista), com quem já havia tido contato pessoal anteriormente, em favor de Heisenberg. O próprio Heisenberg escreveu uma carta a Himmler, entregue por sua mãe à mãe de Himmler. Parece que o pai de Heisenberg e o avô de Himmler eram membros do mesmo clube de hiking, e gozavam de uma relação pessoal. Himmler acabou intercedendo em favor de Heisenberg (CASSIDY). Escreveu-lhe uma carta, dizendo que era contra os ataques dos físicos arianos a ele. No final da carta, porém, em forma de Post Scriptum, sugere a Heisenberg que, no futuro, separe claramente resultados de pesquisas científicas das posições políticas e pessoais dos cientistas. Uma investigação contra Heisenberg foi iniciada, mesmo assim, que incluía escutas em sua casa e agentes nazistas infiltrados em suas palestras.

Toda essa pressão fez com que os cientistas remanescentes na Alemanha, e que não fossem adeptos da Física Ariana, tivessem que adotar algumas posturas, uma versão dos fatos que satisfizesse os donos do poder. Separar, como pediu Himmler, a ciência da pessoa do cientista foi uma delas. A teoria geral da relatividade é uma coisa, Einstein é outra (“No caso de Einstein, deve ser feita uma distin ão entre o homem e o físico. O físico é de primeira linha, mas sua fama precoce parece ter subido a sua cabeça, tanto que ele tornou-se intoler vel como pessoa”, diz Prandtl, em sua carta a Himmler defendendo Heisenberg). Outra defesa da física teórica era dizer que conferir a judeus a criação e desenvolvimento da física quântica é fazer propaganda a eles, que é o contrário do que os físicos arianos queriam. Vários arianos haviam participado da criação e do desenvolvimento da física quântica, e deixar de dar-lhes crédito para dar crédito a judeus era absurdo. Um desprestígio para a Alemanha. Outra atitude comum era simplesmente deixar de citar Einstein, nenhuma referência a ele era mais feita. Foi o que Heisenberg, e outros, passaram a fazer. Usavam Einstein, mas não o citavam.

A entrada de Himmler em cena ajudou a acalmar os ânimos, principalmente em relação a Heisenberg, apesar dos físicos arianos continuarem firmes em suas convicções racistas e pseudocientíficas.

Colaborar aqui e ali, ceder um pouco em alguns pontos não era algo mal visto entre os físicos alemães. O que era mal visto era adotar a ideologia nazista, tentar impregná-la na ciência. A ciência era vista como algo que ultrapassava raças e países. Não fazia sentido falar em ciência ariana ou judaica, ou qualquer coisa do tipo. A moralidade externa política estava tentando interferir na moralidade interna apolítica, acabando com a liberdade interna criativa de antes.

Cientistas como Heisenberg usaram esse estado de coisas como uma justificativa para explicar por que eles ficaram na Alemanha. Eles não poderiam deixar a ciência alemã na mão destas pessoas, elas acabariam por destruir a ciência feita em seu país. Preferiram ficar, cedendo um pouco ali, outro tanto ali. O problema é que todos esses recuos o fariam tornara-se, de certa forma, colaboradores do regime nazista.

O debate não parou, com ataques e contra-ataques, e até mesmo com eventos organizados para reunir os defensores e opositores da teoria da relatividade. Em 15 de novembro de 1940, foi realizado um debate com 14 participantes de ambos os lados, organizado pela Liga Alemã Nacional-Socialista de Palestrantes Universitários (NSDDB) em Munique, na Casa dos Físicos. A Física Ariana saiu, mais uma vez, perdedora. Wolfgang Finkelburg foi o idealizador. O consenso criado no debate foi dividido em 5 pontos:

1 - A teoria física, juntamente com todos os seus auxílios matemáticos, é uma parte necessária da física como um todo.
2 - Os fatos observados resumidos na teoria especial da relatividade são uma parte estabelecida da física. A aplicabilidade da teoria especial da relatividade a relações cósmicas não é tão certa, para poder eliminar a necessidade de verificação posterior.
3 - A descrição quadridimensional dos processos naturais é uma ferramenta matemática útil: mas ela não implica na adoção de um novo conceito de espaço e tempo.
4 - Qualquer ligação da teoria da relatividade a um relativismo geral é rejeitada.
5 - As mecânicas quântica e de ondas são os únicos modos conhecidos no presente para descrever processos atômicos quantitativamente. É desejável ir além do formalismo e de suas regras de correspondência para chegar a um entendimento mais profundo dos átomos.

O que é curioso notar é que essas conclusões eram rapidamente aceitas pelos físicos defensores da teoria da relatividade, não há nenhuma concessão feita em nenhum ponto em favor dos detratores. A partir da explosão da guerra e, mais especificamente, com a entrada dos EUA nela, o debate não parou, mas outros tipos de protagonistas entraram em cena. O espírito mais pragmático foi valorizado, para poder reunir forças e contribuir efetivamente para o esforço de guerra alemão.

Os cientistas alemães eram indiscriminadamente recrutados e postos em campos de batalha. Vários morreram assim. Somente em dezembro de 1943, Hitler emitiu um decreto que autorizava a dispensa de 5.000 cientistas das Forças Armadas. Entretanto, somente por volta da metade desse número foram realmente liberados pelas Forças Armadas. Além disso, cerca de 10.000 pessoas ligadas de alguma forma à pesquisa científica foram dispensadas das obrigações militares. O responsável por isso foi Osenberg, membro do partido, professor de engenharia mecânica na Universidade de Hannover. Não era um cientista renomado, mas era um alto membro da Gestapo, a polícia secreta de Himmler. Trabalhava no Conselho de Pesquisa do Reich (era chefe do Escritório de Planejamento), e se convencera que os cientistas seriam mais valiosos se voltassem a trabalhar em seus laboratórios e colaborassem com projetos científicos com aplicações militares do que servindo no front de batalha. Ele passou a ser considerado como o homem que salvou a ciência alemã, ao trazer de volta milhares de cientistas que poderiam ter morrido nos conflitos.

Osenberg também tinha o poder de transferir cientistas para quaisquer institutos, assim como aprovar ou encaminhar pedidos de financiamentos para projetos científicos. Como membro da Gestapo, mandava espiões para investigar cientistas e institutos, elaborando relatórios sobre eles, que explicavam porque determinado projeto não estava progredindo como esperado. Também eram preparados perfis dos cientistas, com seu posicionamento político, grau de adequação ao ideário nazista e se eram confiáveis ou não.

Por volta de 40% dos professores foram demitidos, o que levou a uma séria falta de pessoal. Os nazistas disponíveis para os cargos, muitas vezes, não satisfaziam os mínimos critérios de preparação para ocuparem tais cargos . Em agosto de 1944, um estudo feito indicava que, de 800 projetos científicos estudados, por volta de 70% eram ligados à agricultura e engenharia florestal, e somente 3% à Física, e aqueles ligados ao esforço de guerra diziam respeito a mísseis guiados (CASSIDY).

Baseando-se em um decreto de Hitler de junho de 1944, ordenando a concentração de pesquisa científica para o esforço de guerra, Goering criou o Pool de Pesquisa de Guerra, chefiado por Osenberg. Osenberg tentou colocar o projeto em prática, mas o segundo semestre de 44 já era tarde demais para uma tentativa dessa dar resultado (HENTSCHEL).

A SS tentou ter seu próprio instituto científico. Estudos com água pesada, inclusive, foram desenvolvidos. Esses estudos não foram bem-sucedidos, porém. Seu principal interesse era história germânica antiga, e para estudá-la foi criada a Ahnenerbe, Academia de Herança Ancestral, que acabou se tornando mais um instrumento de propaganda do regime. Além de departamentos que tentavam provar a ancestralidade da ideologia nazista, existiam departamentos de ciência natural, como zoologia e geologia aplicada. Mesmo nestas áreas, o oculto fazia parte das teorias. Departamentos especiais eram criados, por exemplo, quando havia falta de matemáticos em um projeto de guerra específico. Prisioneiros com formação em matemática eram convocados, e costumavam apresentar bons resultados.

Havia a divisão de Pesquisa de Guerra Aplicada, que conduzia pesquisas terríveis contra prisioneiros, como testar a resistência ao frio extremo (HENTSCHEL).

Os principais membros da Física Ariana eram: Lenard, Stark, Glaser, Wilhelm Müller, August Becker, Ludwig Wesch, Alfons Bühl, Ferdinand Schmidt, Fritz Kubach, Bruno Thüring, Willi Menzel e os filósofos Hugo Dingler, Eduard May e Friedrich Requard. No final de 39, das 81 vagas de professor disponíveis na Alemanha e na Áustria, os físicos arianos ocupavam somente 6, menos de 10% do total.

A física teórica, porém, sofreu consequências dos ataques dos arianos no campo acadêmico. As universidades passaram a dar maior ênfase à física experimental. O número de alunos de física teórica e os doutorados na área começaram a cair. Para se ter uma idéia, dos 18 doutorados em física teórica produzidos por Heisenberg durante sua estada em Leipzig - 27 a 42 - dezesseis graduaram-se no 3º Reich. Mas somente um (Erich Bagge) conseguiu o doutorado entre o ataque da SS e o início da segunda guerra e somente três durante a guerra, sendo que dois eram estrangeiros (CASSIDY; HENTSCHEL).”

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Fonte:
Marcelo Barros Sobrinho: “A Física e o Projeto Atômico Alemães na Segunda Guerra Mundial” – Vol. 1. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre em HIstória. Orientador: Prof. Dr. Shozo Motoyama. Universidade de São Paulo – USP. São Paulo, 2010.

Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.

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