Darwin, o neo-ateu e a Bíblia


Aos afeiçoados beatos de Richard Dawkins, os quais ridiculamente tentam associar a pessoa de Charles Darwin aos ideais neo-ateístas, basta dizer que, embora o naturalista tenha feito uso de sua teoria como uma espécie de antítese ao que ele denominou de “teoria da Criação”, ou seja, a crença na literalidade bíblica, não se pode afirmar, a partir de seus escritos que ele fosse realmente um ateu ou que repugnasse o livro judaico-cristão, a Bíblia. Muito pelo contrário, em seu livro “A expressão das emoções no homem e nos animais” ele até faz menção de alguns trechos das escrituras para ilustrar algumas de suas teses. Por exemplo:

“A ação das glândulas salivares é prejudicada; a boca fica seca, abrindo e fechando com frequência. Também notei que sob um medo discreto, há uma forte tendência a bocejar. Um dos sintomas mais marcantes é o tremor de todos os músculos do corpo; e isso muitas vezes é primeiro notado nos lábios. Por essa razão, e pela secura da boca, a voz torna-se rouca ou indistinta, ou pode simplesmente desaparecer. "Obstupui, steteruntque comce, et vox faucibus boesit." Há uma belíssima e muito conhecida descrição de um medo indefinido em Jó: "Em pensamentos provocados pêlos fantasmas da noite, quando o sono profundo envolvia os homens, fui tomado pelo medo e tremi até que todos os meus ossos balançassem. Então, um espírito passou diante de meu rosto; os pêlos de minha pele levantaram-se. Ele ficou imóvel, mas eu não podia discernir sua forma: uma imagem estava diante de meus olhos, havia silêncio, e ouvi uma voz dizendo: Pode um homem mortal ser mais justo que Deus? Pode um homem ser mais puro que seu Criador?" - Jó, 4:13-17 (p. 249).

“Presumo que isso se deva às glândulas lacrimais receberem parte do aumento de
fluxo sanguíneo que sabemos existir nas regiões adjacentes, inclusive a retina. Muitos autores, antigos e atuais, perceberam os movimentos até aqui citados. Já foi demonstrado que os aborígines, em diversas partes do mundo, frequentemente demonstram vergonha olhando para baixo ou para o lado, ou mexendo os olhos sem parar. Esdras (9: 6) exclama: "Oh, meu Deus! Estou envergonhado, e coro ao levantar a cabeça para vós, meu Deus". Em Isaías (1:6) encontramos as seguintes palavras: "Não escondo meu rosto por vergonha" (p. 213).

“O rubor é visível em todas as nações arianas da Europa, e em certa medida nas da índia. Mas o sr. Erskine nunca viu o pescoço dos hindus realmente afetado. Entre os lepchas de Sikhim, o sr. Scott frequentemente observou um discreto rubor nas bochechas, na base das orelhas e nos lados do pescoço, acompanhados de olhar caído e cabeça baixa. Isso ocorreu quando descobriu que estavam sendo falsos, ou quando os acusou de ingratidão. A compleição pálida e amarelada desses homens faz com que o rubor seja neles bem mais visível do que na maioria dos outros nativos da índia. Nestes últimos, a vergonha ou, em parte, o medo são expressos muito mais claramente virando-se a cabeça ou abaixando-a, com os olhos vacilantes ou desviados, do que por qualquer mudança de cor na pele.
As raças semíticas coram com facilidade, como seria de esperar, pela sua semelhança com os arianos. Assim, dos judeus está dito no Livro de Jeremias (6: 15): "Não, não estavam nem um pouco envergonhados, nem podiam corar". O sr. Asa Gray viu um árabe manobrando seu barco desajeitadamente no Nilo, e quando seus companheiros riram-se dele, "corou quase até a nuca". Lady Duff Gordon observa que um jovem árabe corou por estar em sua presença” (p. 267).

É isso!

Fonte: Charles darwin: “A expressão das emoções no homem e nos animais”. Tradução: Leon de Souza Lobo Garcia. Editora Schwarcz. São Paulo, 2009.

2 comentários:

  1. Darwin sempre se afirmou agnóstico, termo cunhado pelo amigo Huxley.

    Um homem que se sensibiliza perante a tortura de outro é bastante mais justo e puro do que um qualquer Deus que participa numa aposta.

    Darwin, introduziu um conceito que explica a existência dos seres vivos sem necessidade a recorrer a histórias do incrível e do fantástico, quer ele fosse ou não, o contributo para a causa ateísta é enorme. De "foi Deus" passou-se a "e se?". Não se terá ganho bastante?

    http://www.ted.com/talks/richard_dawkins_on_militant_atheism.html
    (legendas em português)

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  2. Arian Desmond e James Moore discorrem sobre isso em “Darwin - a vida de um evolucionista atormentado”:

    http://humordarwinista.blogspot.com/2010/07/ateu-nunca.html
    --
    Um abraço!

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