A Morte de Tolstoi

Leon Nicolaeivitch Tolstoi (o genial autor de Guerra e Paz, Anna Karenina, A Morte de Ivan Ilitch, entre outras maravilhosas obras) nasceu em 9 de setembro de 1828, num meio tipicamente aristocrático. Foi proprietário de terras. Serviu o exército e participou do cerco de Sebastopol, em 1855. Na juventude levou uma vida libertina , e, na maturidade, elegeu o ideal de dignidade fundamentado no trabalho rural e na resistência pacífica ao autoritarismo político. Em 1901 foi excomungado pela Igreja Ortodoxa Russa, mas isso não impediu o grande escritor e filósofo de se tornar uma baluarte da moral, o qual mais tarde viria a exercer profunda influência sobre importantes líderes, como Mahatma Gandhi, e em muitos movimentos pacifistas do século XX.
Tolstoi morreu no dia 20 de novembro 1910. Sua morte foi noticiada em todo o mundo. Aqui no Brasil a revista Ilustração Brazileira, na edição de 1 de fevereiro de 1911, dedicou duas de suas páginas em atenção ao falecimento do escritor, conforme se pode observar no texto transcrito e nas imagens postadas a seguir.
Reportagem da revista "Ilustração Brazileira", edição de 1 de fevereiro de 1011


A última viagem de Tolstoi

“Leon Nicolaeivitch Tolstoi repousa, afinal, no bosque de Agonine, sobre a colina da Isnaia Poliana, no lugar que ele próprio escolhera para seu último sono.

Damos a fotografia do gigantesco e torturado pensador no seu leito de morte – o modesto leito de ferro do chefe da estação de Astapow, face serena, longo corpo descarnado e seco, que foi animado pela alma mais luminosa e vibrante dos tempos modernos.

Outros clichês mostram o que foi seu funeral, a simplicidade que ainda argumentou o caráter de grandeza desse préstito organizado de homens de todas as espécies, unidos no culto pelo grande espírito de apóstolo, de artista, homens de várias raças e condições mais diversas, representando a formidável multidão que no mundo inteiro adorava o grande morto.

A passagem do féretro pela desolada campanha russa é um dos quadros mais impressionadores que temos visto.

Quando Leon Tolstoi, com o vestuário sumário dos mujiks, seus antigos servos, e que tem pungente semelhança com o burel de um Franciscano, esse burel de aspecto severo, escolhido por muitos reis para suas mortalhas; quando Tolstoi assim verstido, com a bela e vigorosa cabeça repousando sobre uma almofada menos branca do que seus cabelos, foi colocado féretro, seus filhos o transportaram para um wagon sem ornamentos.
Na estação de Zasieka, a mais própria de Isnaia Poliana, os filhos de Tolstoi, Sérgio, Miguel, André e Ilias retomaram o fardo querido e seguiram pelo longo caminho de três verstas, aauxiliados por estudantes e mujiks, ao som de hinos fúnebres cantados em coro.

Camponeses iam adiante levando um largo estandarte no quel se liam estas palavras: - “Leon Nicolaievitch, a lembrança de sua bondade nunca se apagará de entre nós, camponeses, que tua morte deixa na orfandade”.

Em torno do féretro os mais fiéis davam-se as mãos, formando um vasto círculo, segundo o velho costume russo, que pretende assim proteger os restos dos entes queridos do contato estranho no tumulto das cidades.

Precaução inútil na estepe imensa.

Alguns trenós e carretas de mujicks carregados de flores e coroas prolongavam até o horizonte esse cortejo sem cruz nem padres.

Depuseram o morto no gabinete de trabalho, diante do leito que foi o seu nascimento, diante da mesa em que foram escritas tantas páginas eloqüentes. Uma estátua de Buda sorrindo em sua divina certeza velava sobre ele.

Na tarde do mesmo dia, às três horas, já quase noite, naquela estação sombria, foi levado o féretro para uma clareira cercada por nove cedros. Os camponeses já haviam aberto a cova. Foi descido o corpo. Todos estavam ajoelhados sobre a neve e elevou-se a melodia de um cântico. Nas pausas da música ouviam-se soluços. Não houve discursos, mas lágrimas sinceras.

Meia hora depois erguia-se sobre o solo nivelado uma pirâmide de flores e aí ficou enfim tranqüilo para sempre o corpo do filósofo impressionador e formidável.

Retiraram-se todos. Ficaram apenas alguns camponeses orando pelo benfeitor, o amigo dos infelizes.” (Ilustração Brasileira, 1 de fevereiro de 1911).


O féretro de Tolstoi saindo da estação de Asapovo, carregado por seus quatro filhos (Sérgio, Miguel, André e Ilias) e acompanhado pela viúva.


O cortejo fúnebre de Tolstoi, através da planície Russa, entre a estação de Zasieka e Isnaia Poliana.


Tolstoi em seu leito de morte
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É isso!
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