História da moda: da era paleolítica ao século XXI



PANORAMA DA MODA: DA ERA PALEOLÍTICA AO SÉCULO XXI

"Ao observar a história da moda e da vestimenta, nota-se que ambas estão em constante mudança, uma vez que as diversas formas de ver e de adotar um vestuário estão inseridas no desenvolvimento da sociedade como um todo. Assim, ao verificar o modo como as pessoas usam as roupas e como as adaptam ao seu estilo de vida, é possível entender que esse processo antecede a era Cristã (a.C.) e perdura até a sociedade atual.

Com o avançar dos séculos, as mudanças na moda passaram a ser tantas e tão rápidas, que surgiu uma dificuldade natural em distinguir as peças e seu tempo. Formas mudaram, linhas variaram, comprimentos subiram e desceram, surgiram tecidos elaborados e simples, enfim, diversas variações foram sendo registradas, especialmente nos últimos cem anos
(FEGHALI; DWYER, 2001, p. 37).

A preocupação em cobrir o corpo, portanto, já é percebida na pré-história. Na cultura Paleolítica, por exemplo, com a sucessão de eras glaciais ocorridas na Europa, as pessoas aproveitavam as peles de animais, faziam roupas e as prendiam ao tronco, por meio de agulhas – nesse caso, espinhos que deram origem aos alfinetes utilizados hoje em dia – para afastar o frio. Do mesmo modo, no período Neolítico constata-se, entre os primitivos, o freqüente uso da lã que era retirada das ovelhas para que aqueles se cobrissem e se aquecessem (LAVER, 1989, p. 8).

Os egípcios, assírios, gregos e romanos, por sua vez, costumavam utilizar um traje conhecido como sarongue – uma espécie de saia feita por um retângulo de tecido enrolado na cintura – nos primórdios da civilização. Os babilônios do século VI a.C. usavam túnicas franjadas, além da lã, do linho e da nobre seda que eram buscados em lugares como a China pela rota das Caravelas (Idem, p. 11-15).

Também é possível perceber, nesse período, que os persas adotaram as calças e as jaquetas – as chamadas peças repartidas ou bifurcadas – que, para a época descrita, apresenta uma evolução, já que a indumentária mais utilizada no Antigo Império (1500 a.C.) era o chanti – um pedaço de tecido longo, parecido com uma tanga, enrolado no quadril dos homens e preso por um cinto, cuja função era cobrir toda a região lombar (FEGHALI; DWYER, 2001, p. 38; LAVER, 1989, p. 18).

No Novo Império (1500 a.C. - 332 a.C.) os egípcios habituaram-se aos calasieres – túnica longa e franjada. Os sacerdotes preferiam as vestes com representações de animais que, na visão deles, eram como figuras divinas. As mulheres, em compensação, deixavam os seios descobertos e usavam saias de várias camadas. E, a civilização Creta, preferia a cintura bem apertada, cujo efeito fino era estimulado desde a infância pelo uso de um cinto rígido (Idem, p. 38-39; Idem, p. 18-22).

A partir do século VII ao século I a.C., nota-se que os homens e as mulheres egípcias utilizavam o quíton, caracterizado por uma túnica longa e pregueada que, no primeiro caso, descia até os joelhos e, no segundo, até o tornozelo. Essa veste era feita de tecidos bem coloridos para ocasiões corriqueiras e, quando branca, simbolizava a pureza para aqueles [especialmente os nobres] que freqüentavam eventos mais formais, como o teatro (Idem, p. 38-39; Idem, p. 18-22).

No início da Idade Média – em meados de 476 d.C. – verifica-se que o Império do Ocidente passou a receber influência do Oriente através dos povos bárbaros que, por sua vez, em oposição aos romanos que utilizavam roupas mais simples, preferiam um colorido alegre. “Nesse período, a roupa dos bárbaros se institucionalizava. Com a aproximação do século XII, o vestuário começa a se sofisticar”. Contudo, é possível verificar que, embora o povo bárbaro começasse influenciar a maneira de vestir dos romanos, esses achavam à maneira daqueles usarem calções ou calças largas, uma barbárie (Idem, p.42-43).

Com o passar dos tempos, entre 481-752 d.C., constata-se que o povo merovíngio, especialmente os homens, passaram a usar túnicas de linho até os joelhos, bordadas nas extremidades e presas por um cinto de couro – conhecidas como gonelles. Já, as mulheres, vestiam a stola que também se caracteriza por uma túnica adornada, porém, com faixas bordadas. Em ambos os casos, os braços ficavam descobertos e a roupa era presa aos ombros por um broche (LAVER, 1989, p.51).

Ao observar os trajes dos reis da Inglaterra, nesse período, é plausível perceber a simplicidade das cores e das formas das túnicas. Essas costumavam ser amarelas com uma estreita borda dourada. Eles adotavam também uma capa azul e meias na cor vermelha. Nota-se, portanto, que mesmo com a chegada dos dinamarqueses no país, pouca coisa mudou na maneira daqueles se vestirem, exceto o cabelo que passou ser mais comprido e o uso do bracelete, freqüente. Outra influência levada à Europa naquele momento foi o uso do véu utilizado pelas mulheres do Oriente, nesse caso, das mulçumanas (LAVER, 1989, p.53-56).

Na segunda metade do século XIV é que a moda começou a surgir. Mais precisamente, junto com o Renascimento, entre os séculos XV e XVI. Nesse momento, tanto o vestuário feminino quanto o masculino adquiriram novos formatos. As mulheres começaram a adotar um vestido justo, com mangas também justas e longas. A inovação do período é o decote que procurou valorizar o colo feminino. Foi abandonado por elas o uso do véu, anteriormente influenciado pelas mulçumanas. Esse passou a ser utilizado apenas por freiras e viúvas (FEGHALI; DWYER, 2001, p. 66).

A moda surgiu historicamente como prática social na Europa durante o século XVI e é, certamente, o seu desenvolvimento que desde então despertou o interesse por se conhecer e estudar roupas. Isto significa entender que a indumentária se constituiria gradativamente como um assunto que merecia reflexão à medida que se estabeleciam novas práticas relacionadas à atividade de vestir o corpo
(ALMEIDA, 2002, p. 198).

No que tange o vestuário masculino, esse igualmente sofreu modificações em meados do século XV por influência da moda. O gibão – peça usada por baixo do paletó que envolve o corpo do pescoço à cintura ficou extremamente curto; os ombros, almofadados, para aumentar a largura aparente do corpo e; as mangas, bufantes. Ressalta-se que, nessa época, aumentou a incidência de variados chapéus e de pontudos sapatos, cuja tendência é averiguada desde 1360 (LAVER, 1989, p. 68-71).

No decorrer do mesmo século XV, verifica-se também certa divergência dos hábitos italianos frente à Europa Medieval. Com a virada de século, já é percebida uma influência germânica nas roupas elegantes, tanto na corte francesa [especialmente] quanto na Inglesa. Essa veste alemã, conhecida como schaube – sobretudo com formato de batina, sem mangas, com ar acadêmico – ainda é utilizado pelo clero até os dias de hoje. Contudo, em meados do período mencionado, tal influência mudou. As cores vivas e as formas fantásticas utilizadas pelos alemães que, por sua vez, encantaram a Europa, deram lugar à sombria e justa moda espanhola. Havia, portanto, uma diferença real dessa voga com relação à anterior. O corte passou a apresentar, além da ausência de cor, acolchoado, cintura fina e tricô (Idem, p. 74-90).

As principais mudanças ocorridas na indumentária feminina – a partir da metade do século XVI – foram o rufo, o decote, o corpete que formava a frente da blusa, as mangas bufantes e a saia armada. O rufo surgiu na Europa em 1570 e sua função – no caso dos homens – foi de manter uma postura de desdém, uma vez que o mesmo conservava a cabeça erguida em sinal de privilégio. No que tange as mulheres, o rufo teve papel de atribuir-lhes sedução, de tentar explorar seus encantos. O decote, por sua vez, conferia-lhes status na sociedade no qual estavam inseridas. Já, a saia armada, surgiu na Inglaterra por volta de 1545 e seu uso só não era freqüente entre as trabalhadoras que precisavam de roupas mais flexíveis para se movimentar com facilidade durante o serviço (Idem, p. 91-97).

Ao verificar o vestuário masculino dessa mesma época é possível perceber que o gibão ainda era a peça principal, porém, as roupas de baixo começaram a apresentar variações. Um exemplo é a introdução das meias que passaram a ser costuradas aos calções, formando uma espécie de meia-calça. Nos pés já se utilizavam sapatos levemente arredondados, geralmente confeccionados de materiais como o couro, a seda ou o veludo, cuja inovação foi a introdução do salto alto no final do século (Idem, p. 99-102).

A partir da segunda metade do século XVI nota-se, portanto, que a Espanha passou a influenciar a moda européia – sobretudo a Holandesa – e que essa influência prosseguiu no século seguinte através do corte conservador das vestes e da tonalidade escura, como o preto. Nesse período, o rufo utilizado na França e na Inglaterra diminuiu, cedendo lugar à gola caída, cada vez mais sofisticada – em oposição à Holanda que aumentou o tamanho do rufo até o mesmo apresentar o aspecto de uma roda de carroça, de linho pregueado (Idem, p. 103-108).

Em meados do século XVII – momento em que a França começa a se colocar como o país da moda – as roupas femininas ditavam um aspecto mais natural através do corpete, extremamente decotado e amarrado com fitas de seda, das anáguas, das becas e das mangas almofadadas e bufantes. Os trajes masculinos passaram a ser associadas aos três mosqueteiros, principalmente os franceses, já que os mesmos começaram a utilizar capas mais curtas pendendo dos ombros, chapéus de abas largas adornados com uma pluma e botas. A roupa inglesa, por outro lado, associava os homens aos calaviers [cavaleiros], embora a veste também consistisse em capas, chapéus plumados e botas (Idem, p. 103-108).

No século XVII, (...) que a França começa a se colocar como grande produtora de moda. Surgem as primeiras publicações especializadas no assunto. Nesse período, 20% da produção francesa eram de materiais para o vestuário
(FEGHALI; DWYER, 2001, p. 45).

Ao observar o período anteriormente mencionado, nota-se que a França passou a determinar o tom da moda, uma vez que todo o prestígio da indumentária européia surgiu de lá. O efeito geral das vestes femininas dessa época permaneceu estático, só as saias que adquiriram uma aparência mais formal, mas as roupas masculinas passaram por transformações durante o século XVII, ao receberem um toque mais moderno. Verifica-se, também, que entre 1660-1699 a principal mudança ocorrida na corte francesa foi a introdução da peruca por parte dos homens elegantes. Essa era comprida e cacheada e a cor predominante era a branca. Quanto às mulheres, essas não adotaram a peruca, mas usavam um penteado elaborado conhecido por fontange que foi tão característico na década de 1690 (LAVER, 1989, p. 109-124).

O século XVIII distingue-se, cada vez mais, pelo domínio da França na confecção de roupas elegantes. Utilizar um traje francês era sinônimo de poder aquisitivo e de bom gosto, mas, a partir de 1715, de flexibilidade, já que a indumentária feminina ficou mais solta e com linhas mais fluídas. Essa nova Era caracteriza-se pelo conforto na composição das roupas. Nesse período, as vestes femininas buscaram a amplidão, uma vez que as saias se abriram para os lados. A roupa masculina, em contrapartida, não demonstrou sinais de mudança no começo do século. Sua composição básica formava-se por casaco, colete e calções. No pescoço, manteve-se a tradição do plastron e, na cabeça, o chapéu tricórnio (Idem, p. 127-136).

Por volta de 1760, já são percebidos vestígios de um novo costume no jeito dos europeus de vestirem. Nota-se uma ênfase maior ao estilo do “campo” dos ingleses a partir do momento em que há uma tendência para a simplicidade e para a praticidade no modo das pessoas se alinharem. Verifica-se que o chapéu tricórnio foi substituído por cartolas que, por sinal, é um esboço da moda masculina no século XIX; os “alfinetes duplos” – ou os grampos de cabelo que são conhecidos atualmente – começaram a ser utilizados; os penteados femininos se elevaram; os arcos das saias cederam lugar às anquinhas; o corpete começou a ser mais estufado; no decote, usava-se um lenço para cobrir o colo.

Enfim, nota-se que a característica da indumentária européia do Novo Regime era menos extravagante, no caso das roupas femininas e mais simples e campestre, nas vestes masculinas. Assim, vale lembrar que no final do século a roupagem – especialmente a feminina – mudou tanto que os paniers, as anquinhas e os espartilhos foram substituídos por um traje jamais usado pelas mulheres de séculos anteriores. Essa veste é conhecida por robe en chamise que se distingue por se parecer com uma peça de baixo, uma vez que o vestido é branco, de cintura alta, tão transparente, que era necessário usar uma malha cor-de-rosa por baixo para que o corpo feminino não ficasse à mostra.

No final do século XVIII a moda estabelecida na Europa já era a versão de um vestido Imperial para as mulheres e um traje típico inglês para os homens (LAVER, 1989, p. 137-153). No que diz respeito à moda brasileira – até o século XVIII – essa era baseada no vestuário português, portanto, nada de autenticidade frente à alfaiataria européia. No século seguinte é notável que o vestuário do Brasil recebesse influência do africano que, por sua vez, se difundia pela Bahia, o que o transformou em uma criação exclusivamente nacional (Idem, p. 48).

O século XIX, em compensação, é marcado pela transição do mundo antigo para a modernidade. Na entrada do período é plausível perceber a influência da França e da Inglaterra na moda. Os franceses considerados experts na confecção de roupa feminina e, os ingleses, reconhecidos pela habilidade na alfaiataria foram treinados para trabalhar com a casimira, tecido bastante utilizado nos trajes masculinos da época. Por isso, verifica-se que a vestimenta típica feminina do início do século era uma espécie de camisola comprida – até os tornozelos – extremamente decotada e caracterizada por um tecido leve. A novidade do traje, a mais nova paixão pelo xale sobre a roupa, o que marcou a elegância da mulher na sociedade em que vivia.

Na década de 1814 é que a divergência entre a alfaiataria e a preferência por roupas francesas e/ou inglesas se tornaram mais evidentes. Nesse momento, as francesas costumavam usar saias ligeiramente aberta na barras e o tom predominante das roupas era o branco. Por outro lado, as inglesas optavam por um ar mais romântico, mais elisabetano, com as mangas dos trajes mais fofas. Contudo, nesse confronto de vogas, as últimas cansaram de suas vestimentas e adotaram finalmente à moda típica da França. Em oposição aos homens que, por sua vez, mesmo sendo franceses, eram constantemente influenciados pela moda característica inglesa (Idem).

No que tange os chapéus da época, é possível perceber que as cartolas eram usadas a qualquer hora do dia, exceto durante a noite, horário propício para o uso do bicorne – chapéu com formato de lua crescente, com as duas abas apertadas uma contra a outra. Os cabelos masculinos eram curtos e despenteados à la titus [penteado típico da época]. Os civis habitualmente se barbeavam, mas os militares costumavam usar costeletas e bigode (Idem, p. 155-160).

A partir de 1822 é plausível compreender que a roupa feminina passou por consecutivas transformações. A cintura voltou a posição normal e ficou mais fina, em oposição ao que era antes: alta. A saia passou a ser novamente rodada e as mangas fofas. Entretanto, em 1830, a saia se encurtou e se ampliou e as mangas aumentaram substancialmente. Do mesmo modo, em 1837, a moda feminina voltou a mudar e com ela, as mangas que já não eram tão amplas e, por sua vez, desciam pelos braços. Igualmente as saias ficaram tão compridas que era impossível apreciar os tornozelos das mulheres quando essas andavam. Contudo, a principal alteração da moda feminina no período foi a adoção de um chapéu tipo boneca que se caracterizava pela amarração do mesmo sob o queixo e as sapatilhas que tinham o papel de deixar as mulheres tão pequenas quanto possível. No entanto, em meados de 1840, o universo feminino se voltou para a equitação, tanto que as revistas especializadas em moda mostravam trajes de montaria exclusivamente para elas. Curioso que o mesmo era masculinizado somente até a cintura. A saia foi mantida, mas ficou tão volumosa que, mesmo sentada no lombo do cavalo, essa se arrastava pelo chão. Tal fato se deu para mostrar que apenas àquelas que pudessem pagar um criado para ajudá-las a montar e a descer do animal é que poderiam arcar com os custos dessa ostentatória vestimenta (Idem, p. 168-175).

No que diz respeito à indumentária masculina da época é possível perceber que essa ficou mais sóbria. A cintura apertada, os ombros almofadados, os coletes e as peles foram deixados de lado. O que predominava nesse momento era a ausência da extravagância e das cores berrantes que só retornaram à ativa, em momentos mais modernos. “Por volta de 1850, a hegemonia do terno com gravata e uma sobriedade de cores passam a caracterizar a indumentária masculina. A fantasia e a decoração eram reservadas às roupas das mulheres” que se caracterizavam pelo excesso de anáguas que, por ficarem muito pesadas junto ao corpo, foram substituídas por anáguas de arco – as chamadas crinolinas de armação – por volta de 1856 (Idem, p. 168-169).

Essa estrutura surgiu para o conforto feminino. Isso porque, livres do exagero de camadas e de anáguas, as mulheres se movimentavam livremente dentro do arco. Só as pernas que ainda não podiam ser mostradas a terceiros, tanto que mesmo dentro dessa gaiola, as mesmas utilizavam calças tipo pantalona, de linho, rendadas na barra, até os tornozelos, para evitar quaisquer infortúnios. Assim, a crinolina durou quase 15 anos e, nesse período, passou por diversas alterações até que em 1860 foi eliminada completamente. Em seu lugar, surgiu a anquinha que também perdurou até 1870 e cedeu espaço a um estilo de saia com uma cauda longa. Na década de 1880 é percebido o ressurgimento da anquinha, só que em uma outra versão. A mesma se projetava horizontalmente nas costas. Contudo, esse modelo de saia, caracterizado pela “anca”, desapareceu de vez em meados de 1890, juntamente com os drapeados horizontais nas saias. Os vestidos já eram lisos sobre os quadris; as saias, compridas e em forma de sino, com uma cauda (Idem, p. 168-169).

Outra alteração ocorrida no vestuário feminino em meadas de 1840 foi a substituição das sapatilhas pelas botas com saltos altos, amarradas até o meio das canelas. Também, verifica-se que a partir de 1870 as cores suaves foram substituídas por aquelas mais berrantes e mais vibrantes. Do mesmo modo, o chapéu boneca foi trocado por outros menores, caídos sobre a testa e usados sobre um penteado alto. As mangas, por sua vez, adquiriram proporções enormes por volta de 1894, assim como, ocorreu a introdução de um traje bifurcado que foi elaborado para que as mulheres pudessem andar de bicicleta – esporte que se tornou bastante popular no momento – sem que as mesmas arrastassem as saias pelo chão (Idem , 1989, p. 184-185; 190-191; 208).

Os trajes masculinos da década de 1890, em compensação, não eram muito diferentes dos da década anterior. As vestes mais comuns eram os fraques para serem utilizados a noite, a sobrecasaca para o dia e o casaco para a manhã. Além disso, nota-se uma forte incidência de casacos de marujo entre os homens que são reflexos da influência do esporte, principalmente, do iatismo em meio à população. Também, percebe-se que as calças do início da década de 1890 eram mais folgadas em cima e as pernas, mais afuniladas. Só os mais jovens que costumavam usar a calça com a bainha dobrada (Idem, p. 202-206).

A partir do início do século XX, nota-se que a moda passou por um momento de ostentação e de extravagância. As mulheres adotaram uma saia lisa sobre os quadris que se abria em direção ao chão, formando um sino. No decote, um excesso de renda descia colo abaixo. As mangas, já eram justas e compridas o suficiente para chegarem até o meio da mão. Os homens, imediatamente se habituaram a sobrecasaca e a cartola. Nas pernas, calças bastante curtas e estreitas. Só os rapazes que as usavam com a bainha virada e com um vinco na frente (Idem, p. 213-221).

O período compreendido entre o início do século XX e o princípio da Primeira Guerra Mundial é marcado por grande ostentação e extravagância. A moda, como sempre, refletia a época. (...). A roupa tinha de ser adaptada ao ritmo acelerado que as cidades estavam gerando
(Idem, p. 48).

Em meados de 1908, portanto, a silhueta feminina deixou de ser moldada em formato de “S” – aquela que, através dos espartilhos, empinava o busto para frente e o quadril para trás. Os chapéus se tornaram maiores, o que fez com que os quadris parecessem menores. Em 1910, o vestuário feminino sofreu uma modificação fundamental: as cores se tornaram espalhafatosas; as saias, estreitas nas barras; os vestidos, adornados com renda e botões. Em 1913, as golas que até então eram levantadas até o pescoço, cederam lugar ao decote “V”; os chapéus, também ficaram menores antes da primeira guerra e, a extravagância, deixou de ser o foco principal da indumentária, uma vez que a partir desse momento, as mulheres perceberam que era inútil esse tipo de comportamento em períodos de conflito (FEGHALI; DWYER, 2001, p. 222-229).

No entanto, percebe-se que a alta moda voltou ao seu ritmo normal a partir de 1919, quando o universo feminino passou a se vestir e a se comportar diferentemente do que costumavam antes do combate. A saia, que era ampla, passou a ser “barrete”, com o efeito tubular. O busto era de menino; a cintura desapareceu; os cabelos cacheados ficaram curtos e lisos. Ou seja, nesse momento, todas as curvas femininas foram abdicadas para que essas se adaptassem à nova voga. Não obstante, nota-se ainda que a década de 1920 seja conhecida pelo talento protuberante de Coco Chanel que, diferentemente de muitos estilistas da época, soube se adaptar à nova tendência do pós-guerra (Idem, 2001, p. 50; LAVER, 1989, p. 230-232).

Ao observar, portanto, o período compreendido, nota-se que as mudanças na maneira dessas pessoas se vestirem foram tantas que, entre 1925-1927, é possível considerar a maior revolução no que tange o comprimento das saias. Essas, para o escândalo de muitos, ficaram curtas como jamais foram no decorrer do século XX. Porém, logo se fizeram tentativas de alongá-las novamente à medida que a década chegava ao fim. Do mesmo modo, as mulheres deixaram o cabelo crescer outra vez; as mangas compridas voltaram a ser usadas; os ombros largos e os quadris estreitos passaram a ser o estereotipo do momento (LAVER, 1989, p. 234-240).

A década de 1930, por sua vez, caracteriza-se pelo destaque dado às costas que acabaram sendo desnudadas. Tais roupas foram influenciadas pela evolução ocorrida nos trajes de banho. Esses eram recatados até 1920 e, a partir de 1930, com a moda de se tomar banho de sol, as roupas passaram a ser mais decotadas atrás. Também é possível verificar que, nessa época, os saiotes foram reduzidos; a cavas, aumentadas e o decote, ampliado (Idem, p. 240-242).

Por outro lado, ao observar a ocasião que compreende a Segunda Guerra Mundial, é plausível perceber que novamente o vestuário sofreu a influência do período instaurado. No entanto, verifica-se que a silhueta feminina começou a ser modificada; a saia adquiriu um estilo camponês, além de ficar mais curta e franzida. As vestes masculinas, em contrapartida, caminharam em sentido à informalidade, já que a freqüência de uso de trajes como a casaca e o casaco para a manhã diminuíram, sendo, portanto, usados em ocasiões mais formais, como funerais e casamentos. Todavia, a principal mudança ocorrida no vestuário masculino no decorrer de 1920 foi na largura das calças, a chamada Oxford Bags que permaneceram muito largas até o final da década e se afunilaram um pouco mais em meados de 1930 (LAVER, 1989, p. 246-250).

Por volta de 1940, em compensação, já se pode perceber que a guerra praticamente interrompeu o curso da moda. Nesse período, a mão-de-obra e os tecidos ficaram limitados; a matéria-prima, escassa e os estilistas; barrados com suas idéias inovadoras, o que dificultou a elaboração de peças novas e extravagantes. Nesse sentido, afirma-se que a Segunda Guerra Mundial mudou toda a estrutura dessa indústria, uma vez que as roupas da época de conflito passaram a refletir a situação vigente no momento. Tanto, que as vestes – especialmente as femininas – faziam alusão às fardas: com ombros quadrados, retos, de corte masculino, cor de debrum e bolsos falsos. As saias já eram mais curtas, tinham pregas finas e eram franzidas a uma blusa justa (Idem, p. 252-254).

Os Estados Unidos, com menos restrições, começaram a desenvolver sua própria linguagem de moda. E, ao final da guerra, as bases de uma alta-costura independente e de uma indústria visando à massa ficaram claras, revelando um gosto diferente do europeu
(FEHALI; DWYER, 2001, p. 51).

Em 1945, depois de uma exposição no Musée des Arts Décoratifs, Paris voltou a ser o centro da moda. Mas, não era mais a única, já que a Inglaterra e os Estados Unidos começaram a ter suas produções independentes (LAVER, 1989, p. 255). Entretanto, após esse período escasso, surgiu a tendência para o luxo e para a nostalgia, uma vez que as mulheres européias desejavam substituir aquelas roupas de corte masculino por saias mais dançantes. Aí que surgiu o New Look. A veste masculina, por sua vez, passou a produzir um look “eduardino”, com os paletós mais compridos e ajustados e as calças mais apertadas (Idem, p. 256-259).

Percebe-se, deste modo, que as parisienses da década de 1950 começaram a despender de mais tempo para cuidar da própria aparência. A beleza passou a ser fundamental no pós-guerra, pois as mesmas já podiam encontrar todos os cosméticos com mais facilidade, o que não acontecia anteriormente, em momentos de conflito, escassez típica dos combates.

Fora desse contexto, as jovens européias cansaram de utilizar versões mais modernas das roupas de suas mães. Elas queriam ter sua própria moda, sua própria identidade. Tanto, que alguns figurinos jovens baseavam-se no sportwear, nas peças separadas e nos artefatos versáteis dos Estados Unidos que, por sua vez, compreendiam-se por calças tipo cigarrete, sapatos mais baixos, parecidos com sapatilhas e, o jeans que, se popularizava (Idem, p. 260).

Deste modo, nota-se que a década de 1960 foi baseada nos adolescentes e nas suas vontades. Os modelos mudavam constantemente para se adaptarem à nova realidade juvenil. Porém, essa mudança era tão rápida que os diversos fabricantes tinham dificuldade para renovar seus estoques com a mesma agilidade em que os jovens desejavam trocar de modelos. Nesse período, as saias ficaram mais curtas do que já foram em meados de 1920. Os cabelos; compridos e soltos (Idem, p. 262).

As roupas de 1960 passaram por diversas modificações e tendências, uma vez que os trajes adquiriram inúmeras formas: desde as mais duras às geométricas. Essas eram eróticas no tanto que desnudavam o corpo. Como exemplo, o comprimento da saia que, nessa época, chegou à altura da coxa. Igualmente, os decotes se aprofundaram e as blusas e tecidos ficaram mais transparentes. Além disso, a peça de baixo se adaptou a nova voga. Tanto que as calcinhas ficaram menores para serem usadas com minissaias saint-tropez – cintura abaixo do umbigo. Posteriormente, as malhas justas entraram na moda à medida que as saias se alongaram mais (Idem, p. 263-265).

Ao observar, portanto, o período mencionado, nota-se que a maior parte dos jovens adquiriu um estilo próprio e, por sua vez, tinha o direito de mudá-lo constantemente se quisesse: ultrapsicodélicos; geométricos; retro; românticos; ou orientais. Igualmente, os tecidos sempre mudavam de cor, de textura para se adaptarem a nova era. Surgiram as fibras naturais; os sintéticos se popularizaram e, ao mesmo tempo, eram fáceis de cuidar e dispensavam o ferro de passar (Idem p. 265).

A moda, entretanto, é diferente; logo que um item se exaure, outro toma o seu lugar e assim por diante. Outro nome para esse ciclo de obsolescência internamente construído ou planejado é moda. Conseqüentemente, o desejo por outro modelo, o mais recente possível, é instantaneamente satisfeito pelo ciclo da moda na pós-modernidade. Esse ciclo é o desejo pela diferença sem fim
(BERNARD, 2003, p. 227).

No final da década de 1960, a atmosfera da moda novamente começou a mudar. A partir desse momento, já são verificados tecidos mais finos, de algodão, com estampas florais, motivos campestres, chifons estampados, chapéus de palha adornados com flores e penteados levemente ondulados. Essa mudança ocorreu porque a rebeldia apontada nos jovens, no período anterior, começou a perder a força, cedendo lugar a pessoas que almejavam a tranqüilidade e um estilo de vida mais simples (LAVER, 1989, p. 268-269).

Nesse período, a alta moda realçou mais o quadril, logo que as calças jeans ficaram mais apertadas e as malhas, colantes. Observa-se que em meados de 1970, a preocupação com a saúde, as corridas e caminhadas entraram em voga. Por isso que as roupas se modificaram nesse sentido (Idem, p. 270).

No que tange as roupas femininas para o trabalho – especialmente os paletós e as jaquetas - passaram a apresentar cortes basicamente masculinos entre 1870-1980, uma vez que as mulheres começaram a tentar se igualar aos homens nesse aspecto. Por outro lado, as vestes masculinas se tornaram menos formais na medida em que poucas profissões exigiam o uso do terno. Assim, os homens começaram a usar camisas listradas, com estampas florais e, até mesmo, camisetas de beisebol e de algodão. A camisa, também tinha a cintura mais fina em meados de 1970 e, as jaquetas mais usadas, eram as esportivas (Idem, p. 272).

Ao observar, portanto, essas mudanças, tanto no vestuário masculino quanto no feminino, desde a Primeira Guerra Mundial, as vestimentas começaram a apresentar uma qualidade de unissex. Esse fator é verificado nas jaquetas de aviador e nas camisas adotadas pelas mulheres do determinado período e, nas calças esportivas, listradas e/ou coloridas usadas pelos homens. Por outro lado, no final da década de 1970, verifica-se também a influência marginal na alta costura: a moda que saiu dos guetos para as passarelas. Nessa ocasião, o penteado punk, ouriçado, tingido de vermelho, verde, amarelo e azul nas raízes e, as correntes usadas nas pernas das calças, viraram moda (Idem, p. 273-274).

Em 1980, a alta-costura evaporou-se. As mulheres passaram a adquirir mais conhecimento sobre cortes e tecidos, o que facilitou a criação de looks próprios. Do mesmo modo, os estilistas americanos se preocupavam em deixar as roupas mais confortáveis e as linhas mais simples, tanto que as peças brancas entraram em voga (FEGHALI; DWYER, 2001, p. 54).

No que se refere ao Brasil, foi nessa década que surgiram as primeiras escolas de moda no país e, a partir daí, a busca pelo conhecimento científico no assunto. Igualmente, a partir da metade de 1980 começou a preocupação, por parte dos pesquisadores, com a qualidade dos tecidos, das fibras e do acabamento. Evolução marcada pela década de 1990, passando por desenvolvimento tecnológico, com o nascimento de tecidos “inteligentes” que, por sua vez, proporcionavam um tratamento mais inusitado às roupas da época (Idem, p. 55).

Contudo, essa evolução no tratamento dos tecidos permitiu que a moda futurista começasse a aparecer no final da década de 1990. Nesse momento, também veio à tona a necessidade da sociedade moderna “ser cada vez mais prática, versátil, conceitual, veloz e criativa”. O que acelerou os acontecimentos no mundo fashion, o surgimento e a exportação de modelos que, por sua vez, começaram a ganhar espaço na mídia – o que não acontecia antes – e a serem pagos em dólar pelas grandes grifes mundiais. O futuro da moda, do mesmo modo, vai continuar nesse caminho, já que a chave para o sucesso no setor é a constante inovação, a renovação e a criatividade inesperada (Idem, p. 57).

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Fonte:
ARLETE ENI GRANERO: "A LINGUAGEM DAS MARCAS DE CALÇADOS DA MODA: UM ENFOQUE PUBLICITÁRIO" (Tese de Doutorado. Banca Examinadora ORIENTADORA: Drª. Yolanda Lhullier dos SANTOS). Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006.

Nota
:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.

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2 comentários:

  1. Gostei muito do artigo publicado, Porém poderia ser mais específico, quanto á indumentária. Mesmo assim está de parabéns. pois é muito difícil encontrar artigos como o seu.

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  2. Muito bom trabalho! Parabéns! ;) apenas senti falta de algumas imagens, beijos.

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