Organização do trabalho – História e contemporaneidade



"Neste estudo, semelhante ao de Nascimento Sobrinho (2005), optou-se por usar o conceito de organização do trabalho como conjunto de normas e regras que definem o modo como se executa o trabalho num ambiente de produção de bens materiais ou de serviços. A organização do trabalho refere-se à divisão técnica e social do trabalho, o conteúdo da tarefa, ou seja, à hierarquia interna dos trabalhadores, ao controle por parte da empresa do ritmo e pausas de trabalho.

No modo de produção capitalista, a organização do trabalho humano é importante instrumento para a racionalização e maximização da utilização da força de trabalho, no sentido da produção de mercadorias e serviços. Transformações substanciais ocorreram na organização do trabalho humano nos últimos tempos, em decorrência do grande desenvolvimento científico-tecnológico e da concentração em um mesmo espaço (fábrica) de força de trabalho e equipamentos, Druck (1999).

Essa forma de organização do trabalho – denominada taylorismo/fordismo – presente em grande parte do desenvolvimento do capitalismo, conformou um padrão de organização do trabalho caracterizado pela produção e consumo de massa. Esse modelo impôs ao trabalhador um rigoroso sistema de controle e avaliação de desempenho, pautado em critérios de produtividade individual e coletiva, Dejours (1986).

Como características desta forma de organização, têm-se: concentração de recursos no interior de uma mesma organização; separação entre trabalho intelectual (planejamento) e trabalho físico (execução), sendo o controle e a fiscalização das atividades realizadas pelos planejadores; estímulo à divisão de saberes e práticas no interior das organizações (especialização); divisão da organização em setores com objetivos comuns (departamentos) com comando único; e adequação do trabalhador à tarefa executada, para garantir maior eficiência e produtividade, Antunes (2000).

Na década de 1980, foram intensas as modificações no mundo do trabalho, de grande salto tecnológico, automação, robótica e a microeletrônica, que invadiram o universo fabril, inserindo-se e desenvolvendo-se nas relações de trabalho e de produção do capital. O Fordismo e o Taylorismo já não são únicos e mesclam-se com outros processos produtivos, sendo em alguns casos até substituído, pela experiência japonesa, pelo modelo denominado de Toyotismo (ANTUNES, 2000; GRAVE, 2002; TAVARES, 2004).

Com o Toyotismo, novos processos de trabalho emergem, onde o cronômetro e a produção em série e de massa são “substituídos” pela flexibilização da produção, pela “especialização flexível”, por novas formas de adequação da produção à lógica do mercado. Ensaiam-se modalidades de desconcentração industrial, buscando novos padrões de gestão da força de trabalho, dos quais os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs), a “gestão participativa”, a busca da “qualidade total”, são expressões visíveis já na maioria dos países, e não mais só no Japão, (GRAVE, 2002).

É o Toyotismo, portanto, que maior impacto tem causado, tanto pela revolução
técnica, quanto pela potencialidade de propagação, expansão hoje que atinge uma escala mundial. Este modelo se firmou na necessidade de o trabalhador operar simultaneamente várias máquinas, o dito trabalhador polivalente, na necessidade da empresa aumentar a produção sem aumentar o número de trabalhadores e na importação das técnicas dos supermercados, baseando-se na reposição dos produtos somente depois de sua venda.

A Especialização Flexível é uma nova forma produtiva que articula, de um lado, um significativo desenvolvimento tecnológico e, de outro, uma desconcentração produtiva baseada em empresas médias e pequenas, “artesanais”. Recusa a produção em massa, e recupera uma concepção de trabalho que, sendo mais flexível, estaria isenta da alienação do trabalho, intrínseca à acumulação de base fordista. Um processo “artesanal”, mais desconcentrado e tecnologicamente desenvolvido, produzindo para um mercado mais localizado regional, que extingue a produção em série (ANTUNES, 2000; GRAVE, 2002; TAVARES, 2004).

Entretanto, a característica mais marcante da flexibilização do mundo do trabalho na contemporaneidade, acontece com impacto, sobretudo para o trabalhador, onde os direitos do trabalho são desregulamentados, são flexibilizados, de modo a dotar o capital do instrumento psíquica da saúde do trabalhador, estudar as repercussões psicopatológicas geradas pela organização do trabalho, constitui-se como categoria central para a psicodinâmica do trabalho.

O estudo do processo de trabalho / saúde do trabalhador deve levar em conta três condicionantes básicos deste processo: as condições gerais de vida, as relações de trabalho o processo de trabalho propriamente dito. As condições gerais de vida devem ser entendidas em duas dimensões distintas; através das condições propiciadas pelo padrão e volume dos bens de consumo coletivo oferecido pelo Estado (água, transporte coletivo, segurança etc.) e pelas condições que incidem sobre o consumo individualizado, que é obtido através do salário (bens de consumo e serviços individualizados). Esta segunda dimensão pressupõe a forma de inserção no mercado de trabalho (PICALUGA, 1990; SILVA, 1986, 1987).

As relações de trabalho podem ser percebidas pela jornada de trabalho (número de
horas trabalhadas, obrigatoriedade de cumprir horas extras, etc.); o tipo de contrato de trabalho (carteira assinada, prestação de serviços, etc.); a forma de pagamento (por mês, semana, dia, tarefa, etc.); o horário de trabalho (diurno, noturno, por turnos, etc.); a exigência de conhecimentos técnicos; sistema de ascensão previsto; forma de controle sobre os trabalhadores (no horário de trabalho, nos intervalos, na utilização dos banheiros, na hora das refeições, etc.) tempo de folga (cumprimento, ou não, da legislação); local para refeições e condições ambientais; existência de banheiros (quantidade e qualidade); serviços médicos e refeição são aceitos como determinantes da qualidade de vida e condições de saúde do trabalhador (PICALUGA, 1990; SILVA, 1986, 1987).

O processo de trabalho propriamente dito, refere-se à especificidade de uma dada categoria profissional, ao esclarecer como se dá o processo de trabalho. Nesse condicionante inclui-se à exposição a agentes nocivos à saúde durante o desempenho da atividade laboral. Este é o caso mais facilmente reconhecido e diz respeito a agentes físicos (luz, ruído, temperatura, umidade, radiações), químicos (substâncias inorgânicas, substâncias orgânicas) e biológicos (vírus, bactérias, protozoários) (PICALUGA, 1990; SILVA, 1986, 1987).

Nos últimos anos os profissionais de saúde, vêm apresentando significativa deterioração nas suas condições gerais de vida, fruto da redução da remuneração, e da minimização das ações sociais desenvolvidas pelo Estado. Este fator afeta estes trabalhadores duplamente, como usuários e como prestadores de serviços estatais (NASCIMENTO SOBRINHO, 2005). Essas transformações vêm, nos últimos anos, alterando o sistema de remuneração que de um modelo de assalariamento, vem-se constituindo em um modelo de remuneração por procedimento, gerando redução dos salários e instabilidade.

Nos ambientes hospitalares, sobretudo, nas Emergências, ocorrem situações dramáticas que não se fazem presentes em nenhum outro campo de atividades humanas em tempos de paz; exposição íntima à dor, ao sofrimento, ao adoecer, à emoção do outro e ao morrer. Transformações importantes ocorreram nos processos de trabalho, com incorporação de novas tecnologias na área de diagnóstico e tratamento, que devem ser estudadas.

Dejours (1992) declara que o sofrimento mental do trabalhador resulta da organização do trabalho, na sua divisão do trabalho, nos conteúdos das tarefas, no sistema hierárquico imposto, muitas vezes bastante rígido, nas modalidades de comando, nas questões de poder, enfim em tudo que implica a organização do trabalho. E, que por condições de trabalho é preciso entender como ambiente físico, ambiente químico, ambiente biológico, condições de higiene, segurança, e as características antropomédicas do posto de trabalho.

A organização do trabalho influencia o planejamento, a execução e a avaliação, permeando todas as etapas do processo produtivo. Ela prescreve normas e parâmetros que determinam quem vai fazer, o que vai ser feito, como, quando e com que equipamentos/instrumentos; em que tempo, com que prazos, em que quantidade, com que qualidade, enfim, a organização do trabalho constitui a "viga central" da produção. Considerando as tantas transformações ocorridas é normal também esperar que a organização do trabalho tenha se transformado. Afinal, desde a Organização Científica do Trabalho - OCT, de Taylor, muitas outras escolas despontaram. No entanto, quase todas elas guardam, nos seus princípios, resquícios da OCT. O que se
questiona hoje é se os modelos vigentes são compatíveis com as exigências das novas configurações do mundo do trabalho (ABRAHÃO; TORRES, 2004, p. 68).

Buscando na literatura vigente, encontraremos diversas tendências e opiniões sobre organização do trabalho. Entretanto, ainda se faz necessária muita reflexão sobre sua importância tanto na saúde do trabalhador como no desenvolvimento da humanidade.

Segundo Maslach e Leiter (1999), um grave problema da atualidade é que as
organizações não existem para possibilitar a capacidade dos trabalhadores de ganhar a vida e poderem realizar conquistas significativas, o que há são pessoas sacrificando as próprias vidas, os sonhos, os desejos, pelo bem das empresas, tornando o trabalho uma obrigação e não um recurso ou realização.

Assim, diante desse quadro, os trabalhadores estão vivendo um total desgaste físico e mental, beirando a exaustão, sobrecarregados, desanimados, esgotados e sentindo-se incapazes de relaxar e de se recuperar, faltando-lhes energia para enfrentar outro projeto de vida, completam os autores."

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Fonte:PATRÍCIA FREITAS MARTINS: "ABSENTEÍSMO POR DOENÇA EM TRABALHADORES DE SAÚDE EM UM HOSPITAL PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, 2005-2006". (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva do Departamento de Saúde da Universidade Estadual de Feira de Santana, como pré-requisito obrigatório para a obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Orientador: Prof. Dr. Carlito Lopes Nascimento Sobrinho). Feira de Santana-BA, 2008.

Nota
:
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O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.

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