O Cais do Porto do Rio de Janeiro

O Arquivo Vivo de hoje trará imagens dos idos anos de 1911, quando estava a todo vapor as obras do Cais do Porto na cidade do Rio de Janeiro. Tais obras faziam parte do processo de urbanização na capital do Brasil nos primórdios do século XX, mais precisamente durante o governo de Rodrigues Alves.

As fotografias aqui postadas foram publicadas na revista “Ilustração Brazileira”, do dia 01 de outubro de 1911, já durante o governo de Hermes da Fonseca. E o texto, que transcrevo logo a seguir, reflete todo o otimismo que marcou a modernização do Rio de Janeiro, quando este era administrado pelo prefeito Pereira Passos, mostrando aspectos interessantes no decorrer das obras. Vejamos...

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O novo Cais do Porto
“Vai-se tornando uma realidade o grandioso empreendimento das obras do novo cais do nosso porto. Complemento necessário e indispensável aos melhoramentos da cidade, prosseguem com a possível rapidez as obras de construção, prolongando-se a muralha protetora até à base do morro de S. Bento.
Todo o vasto quarteirão da Praia Formosa, que formava como que uma cidade à parte da nossa capital, apesar de estar encravada em um dos bairros mais centrais e mais comerciais, transforma-se aos poucos, arrasado impiedosamente pelos alviões e picaretas demolidoras.
As velhas ruas, becos e vielas, formadas a la diable pelos ancestrais casarões, disformes, servindo há longos anos de trapiches e entrepostos, caem dia a dia, envoltas na poeira secular, algumas, ainda, dos tempos coloniais.
Vão-s, com elas, as tradições temerosas do primitivo desenvolvimento da cidade, quando, naquele bairro, suas habitações, que davam passagem diretamente para o mar, apesar da vigilância da Alfândega e da Polícia, serviam de valhacouto de contrabandistas do fisco.
Com as novas obras, o novo cais ficou retirado dos antigos ancoradouros, estaleiros e trapiches centenas de metros, deixando uma grande área suficiente para a construção de armazéns alfandegários.
Da Avenida Central, onde foi a antiga estação marítima das barcas de Petrópolis, avista-se já essa praça denominada Mauá, onde se ergue a estátua de um dos mais empreendedores brasileiros; desse ponto ainda se notam as grandes pontes de embarque, de tosca e rude construção de madeira e os escombros dos vetustos casarões.
Estão, assim, em vias de demolição, alguns quase arrasados já, os grandes trapiches e armazéns que da nova Avenida Central vão até à praça Municipal; desta, das antigas Docas de Pedro II por uma longa faixa de terra, até os moinhos inglês e Fluminense.
E neste último ponto, fronteiro, fronteiro ao Moinho inglês, que estão sendo ativados os trabalhos de terraplenagem, feitos simultaneamente por terra, com barro e terra do morro do Senado, transportados em vagões da Light e, por mar, com as grandes bombas de sucção que extraem a areia do fundo do mar, junto ao cais, que já se acha construído, dando-lhe a necessária profundidade.
Para aquém da Avenida estendem-se os trabalhos até o morro de S. Bento e para além, até a antiga Mortona, cujo dique foi aterrado, aproveitando-se a pedra para os trabalhos de construção do cais.
Á medida que vão sendo acabados alguns metros de cais, são eles logo aproveitados para a atração de grandes embarcações e em duas gravuras mais adiante podem os nossos leitores verificar a descarga do trigo do convés do vapor “Helingwood”, e a descarga de sal, a granel, de um grande vapor de cabotagem, nacional, da Companhia Comércio w Navegação. Um constante vai-e-vem de automóveis, bondes, carros e carroças cruzando-se nas bem lançadas ruas dos terrenos , junto aos armazéns das obras do porto, dão idéia do extraordinário movimento que há já por todo esse vasto terrapleno conquistado ao mar.
Ao fundo, em uma eminência, o hospital de Saúde, dominando toda essa movimentada faixa.
Há construções e em função 10 grandes armazéns para os serviços de descarga, estando em construção mais 4 armazéns.
Além desses, arrendados à Compagnie du Port de Rio de Janeiro, foram construídos aramazéns externos para depósitos e trapiches.

Uma visita retrospectiva
Volvendo alguns anos atrás, a 1904, encontramos toda esta zona, ora tão cheia de vida, completamente deserta, ou desprezada, então com as denominações de Praia Formosa e Vila Guarani.
O canal do Mangue desaguava próximo à ilha das Moças, onde existia o trapiche Carvalhaes. Deste ponto foi começando o novo cais do porto.
A ilha das Moças era uma grande elevação de terrenos, que servia para o aterramento de grande parte da Vila Guarani e, por nossas fotografias, pode-se verificar a metamorfose que sofreu essa vasta planícies do mangue, cortada pelo rio Maracanã.
As velhas pontes foram substituídas por outras novas e elegantes; encerrado o canal em sólidas muralhas, e o lençol de asfalto em breve veio dar o tom chic a essa zona, completada com a arborização e a luz elétrica, em duas extensas Avenidas que, desde a Praça 11 de Junho, se prolongam paralelas até o Cais do Porto.
Grandes trabalhos e movimentos de terra foram feitos, arrasando-se o “morro do Senado” para o aterramento dessa casta zona.
[...]
O serviço do Canal do mangue importa em uma despesa de 80 contos de réis, por ano, sendo ali extraídos cerca de 30.000 metros cúbicos de lama.
[...]
Espera-se, mesmo, que dentro de algumas semanas já se possa desembarcar na Avenida Central, isto é, no coração da cidade, graças aos grandes melhoramentos, que trazem as obras do novo cais do porto.

Outras notas e informações
Superintendendo todos esses trabalhos entregues à Comissão Fiscal e Administração das Obras do Porto, acha-se o moço engenheiro Dr. Alfredo Niemeyer, cuja atividade e competência são por todos reconhecidas.

Fonte:
Revista “Ilustração Brazileira”, n 57, 1 de outubro de 1911, disponível digitalmente no site: Domínio Público


A Praia Formosa: 1905 e 1011


A legendária Ponte dos Marinheiros, no fim da Rua Senador Eusébio: o que era antes das obras do cais e o que se tornou após elas. Nota-se diferença inclusive no bonde, antes puxados por animais, e depois por eletricidade.


O Canal do Mangue, ao fim da Rua Senador Eusébio: antes das obras e depois delas (1911)


Estação Leopoldina Railway: antes e depois das obras, em 1911


O ponto onde o canal do Mangue deságua sobre o mar: antes e depois das obras do cais (1911)


A Vila Guarani depois das obras do porto e antes delas


A ponte do Mangue, antes das obras e depois delas, em 1911


O cais em festa, com a recepção do Dr. Lauro Muller, que iniciou as obras do Porto


Armazéns do novo cais


Trecho do Cais do Porto, quando era aterrado próximo à Praça Municipal


Aterramento do Cais mediante bomba de sucção
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Fonte:
Revista "Ilustração Brasileira", edição de 1911, disponível digitalmente no site: Domínio Público

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