Jean Jacques Rousseau: A vida



“Os sessenta e seis anos de vida de Rousseau são permeados de uma história inquieta de dezenas de idas e vindas de diversos lugares dentro da Suíça, França e Inglaterra. Sua obra vasta reflete sua vida, seu temperamento, seu humor e seu gênio: foi escritor, músico, botânico, filósofo, romancista, escreveu sobre política, pedagogia e história.

Filho de Isaac Rousseau e Suzanne Bernard nasceu em 28.06.1712 em Genebra. Sua mãe morreu no parto e Isaac entregou o filho para ser criado por sua irmã, Suzanne Rousseau. Depois de alguns anos retomou sua criação e os juntos puseram-se a ler o acervo literário deixado por Suzanne. Aos sete anos de idade, nada mais havendo a ser lido, passou à leitura dos livros do avô materno e um novo tipo de obra e autores: Le Suer (História da Igreja e dos Impérios), Bossuet (Discursos sobre a História Universal), Plutarco (Homens Ilustres), Ovídio(Metamorfoses), Fontenelle (Os Mundos) e algumas peças de Molière.

Em 1722 o pai de Rousseau se envolve numa briga com um capitão aposentado chamado Gauthier, a quem desafiou para um duelo. Ao ser desprezado em razão de sua condição social inferior, Isaac que era um homem bom, mas violento e instável (ROLLAND, 1965, p. 146) feriu seu opositor com a espada. Para evitar uma sentença de prisão exilou-se em Nyon e deixou a guarda do filho com o tio Bernard que o enviou a Bossey para estudar com o pastor Lambercier e sua irmã. Sofreu toda sorte de humilhações e surras da irmã do pastor, uma mulher de 30 anos, o que marcou profundamente sua personalidade deixando indeléveis “sentimentos de violência e injustiça” além de despertar precocemente sua sexualidade. permaneceu por dois anos com o primo Abraham, de quem se aproximou afetivamente.

Em 1724 retorna a Genebra. Tentou o ofício de menino de recados, mas não teve sucesso, pois o notário, seu empregador o achava preguiçoso e idiota. Em seguida tentou o ofício de gravador, ofício em que também não teve êxito, pois passava o tempo cunhando medalhas para os amigos e foi acusado de ser ladrão (ARBOUSSE-BASTIDE, 1978, p. 9).Então ele retoma suas leituras alugando livros da biblioteca particular da senhora La Tribu e se entrega aos passeios no campo.

As portas da cidade se fechavam ao entardecer e foi repreendido no primeiro atraso e sofreu castigos corporais no segundo. Na terceira vez, decidiu não retornar e ganhou a estrada, imaginando que a partir desse momento faria tudo o que quisesse, conheceria a liberdade e seria feliz, mas logo a fome o alcançou e buscou ajuda com o cura de Confignon que lhe deu uma carta de recomendação e o enviou à Madame de Warens em Annecy.

chegando, ficou surpreso por não se tratar de uma velha, mas de uma jovem católica de 28 anos, que o enviou a Turim, ao Asilo do Espírito Santo, para que se convertesse ao catolicismo. Considerado converso, deram-lhe vinte francos, que logo acabaram e ele buscou emprego como gravador com a Senhora Basile e depois como secretário da condessa Vercellis e depois com o conde de Gouvon, cujo filho, que era padre lhe ensinou latim e o incentivou a ler as obras de Virgílio.

De volta a Annecy, além de ajudar sua protetora em trabalhos de medicina e alquimia, lê muito Pufendorf, Saint Evremond, a Henríada de Voltaire (1694-1778), Bayle, La Bruyère e La Rochefoucald e estudou música. A senhora de Warens então, o envia para um seminário para estudar latim e no inverno de 1729/30 estuda música na casa do Senhor Le Maître e aprende o suficiente para se apresentar como professor de música. Conseguiu se sustentar dando aulas de música no inverno de 1730/31 em Lausanne, Neuchatel e em 1731 esteve por três meses a serviço de um sobrinho de um coronel suíço em Paris.

Quando soube que Madame de Warens havia se instalado em Chambéry, logo foi ao seu encontro, passando antes por Lyon, onde ficou algumas semanas.

Em 1732 voltou a ensinar música e em 1733 parece que Madame de Warens decidiu seduzir seu pupilo, entendendo já ser tempo de fazer dele um homem (STRATHERN, 2004, p. 14). Em 1734 além de aproveitar a convivência dos amigos de sua protetora para se informar sobre os acontecimentos da época, também se dedicou a escrever pequenos textos como Essai sur les événementes importantes dont les femmes ont été la cause, Chronologie universelle ou histoire générale des temps depuis la création du monde jusques à présent e Narcisse ou l´amour de lui-même. Consta que viveram como amantes por três verões, entre 1738 a 1740. Viveu tempos de profunda alegria e aprimorou sua educação lendo muitos autores, entre os quais Voltaire, que se tornaria seu inimigo no futuro e a quem atribuía o mérito de o haver direcionado aos estudos.

Entre 1740 e 1741 foi preceptor dos filhos do Sr. Mably. Não teve muito sucesso, mas essa experiência proporcionou-lhe subsídios para escrever Projet pour éducation de M. Sante-Marie, que carrega a semente do futuro Emílio.

Em 1741, desiludido por madame de Warens, se dirige a Paris com um novo sistema de notação musical, que foi recebido com frieza por ser considerado complicado.

Nessa época habitava perto da Sorbonne e passou a freqüentar os cafés, que por sua vez eram freqüentados por intelectuais da época, com quem trava relações, como Marivaux (1688-1763), Condillac (1715-1780), Fontenelle (1657-1757) e Denis Diderot (1713-1784), que se tornou seu amigo. Conseguiu publicar sua Dissertation sur la musique moderne e também Epître à M. Bordes. Foi admitido como secretário do Sr. Dupin, conselheiro do rei, mas sua profunda simpatia pela senhora Dupin não passou despercebida ao marido, que se irritou e o demitiu. É também em razão de seu bom relacionamento com as mulheres que consegue um emprego com o conde de Montaigu como secretário da embaixada da França, em Veneza em 05 de setembro de 1742. Desentendeu-se com o conde que o menosprezava e por sua vez era um aristocrata arrogante e preguiçoso aos olhos de Rousseau. A péssima situação, não obstante, durou doze meses, até que o conde ameaçou atirá-lo pela janela. Deixou a embaixada em 22.08.1743.

Durante esse tempo em Veneza foi muito à ópera, apreciou a beleza e sensualidade dasmulheres venezianas e especialmente se encantou pela espontaneidade da música italiana que contrastava profundamente com a intrincada formalidade francesa (STHRATHERN, 2004, p.15). Também fez contatos diplomáticos que lhe abriram os olhos sobre a natureza e o poder da política.

Volta a Paris 1745 e se instala no Hotel Saint Quentin onde conhece a faxineira analfabeta Thérèse Levasseur de 22 anos de idade, com quem viveria toda sua vida, mas semdesposá-la, até seus 56 anos de idade e com quem teve cinco filhos, todos entregues à roda dos miseráveis para a adoção. Também conheceu Condillac e D’Alembert.

Entre 1746 e 1747 esteve em Chenonceaux novamente como secretário da senhora Dupin e aproveitou essa breve nova estada no castelo para compor L´allé de Sylvie e a comédia L´engagement téméraire. Nasce seu primeiro filho.

Agora já tinha prestígio entre os intelectuais da época, Les Philosophes e ao lado de Diderot e Condillac escreviam para o periódico Le Persifleur. Diderot era o encarregado de dirigir a Enciclopédia e convidou Rousseau para redigir artigos sobre música.

Em 1749 Diderot publica a Carta sobre os Cegos, onde professa abertamente o ateísmo e foi encarcerado na prisão de Vincennes, acusado de ter cometido “escritos irreligiosos”. Rousseau escreveu para a amante do rei, madame Pompadour para que conseguisse a libertação do amigo ou que fosse permitido a ele ir para a prisão junto com o amigo.

J´écrivis à Mme de Pompadour pour la conjurer de le faire relâcher, ou d´obtenir qu´on m´enfermât avec lui. Je n´eus aucune réponse à ma lettre: elle était trop peu raisonnable pour être efficace, et je ne me flatte pas que´elle ait contribué aux adoucissiments qu´on mit quelque temps après à la captivité du pauvre Diderot. (ROUSSEAU. 2005b, p. 427; notas de KOENIG, p. 828).

O fato é que visitava o amigo na prisão quase todos os dias e para isso percorria a pé um percurso de aproximadamente nove quilômetros já que não tinha dinheiro para pagar uma charrete. Numa dessas caminhadas, parou sob uma árvore para descansar do calor excessivo e leu no jornal Mercúrio da França sobre um concurso promovido pela Academia de Dijon que propunha o tema: “O progresso das ciências e das artes contribuiu para aprimorar os costumes?” Escreveu então a Prosopopéia de Fabricius (PISSARRA, 2005, p. 21) que veio a integrar o texto com o qual concorreria ao prêmio. Ele o mostra ao amigo encarcerado que o incentiva a completá-lo. O texto ganha o primeiro prêmio da Academia e foi publicado no anode 1750 sob o título de “O Discurso sobre as ciências e as artes”. Com ele veio a fama e o sucesso há muito esperado e ficou conhecido em círculos mais amplos.

Voltaire e Rousseau se encontram pela primeira vez em 1750, na residência de Madame Dupin, de acordo com notas de Koenig (2005b, p.821). Rousseau conta nas suas Confissões que a visitava constantemente e sua casa era freqüentada pela elite parisiense, como duques, embaixadores, a princesa de Rohan e filósofos como Buffon e Voltaire. Para Starobinski (2002, p. 13) em 1745 Rousseau entra em contato com Rameau e Voltaire, ou seja, pessoas ilustres, entre outras, com as quais deveria estar em contato, cujo prestígio e talento teoricamente lhe dariam acesso ao sonhado nome de respeito.

Vivendo um período de tranqüilidade pôde escrever sua ópera “Les Muses Galantes”, cuja péssima recepção por Rameau deu início a inimizade de ambos.

Rousseau, que havia lido Voltaire com voracidade no seu período de formação autodidata, ao ponto de querer imitá-lo e o adorava, decepcionou-se ao receber não mais que distantes cumprimentos por um trabalho musical que realizou na sua obra “Princesse de Navarre”. De acordo com Starobinski, o amor que nutria pela dupla Voltaire – Rameau se transformou em ódio (2002, p.14).

Em 1752 compõe a ópera O Adivinho da aldeia que é apresentada em Fontainebleau na presença do rei Luis XV e madame Pompadour. O rei fica impressionado e oferece uma pensão real vitalícia, não aceita. Diderot fica furioso com sua recusa da oferta real e o considera um irresponsável. Rousseau foge para Paris.

Publica a Carta sobre a Música Francesa (1753), em que critica o estilo formal e truncado da melodia francesa e elogia a voluptuosidade e graciosidade da música italiana. Nessa época a música tinha papel central nas artes francesas e sua Carta divide as opiniões. Os filósofos apreciam a recente melodiosa criação italiana, a Opera Buffa. Para Starobinski a “Lettre sur la musique Française” visava um adversário em especial: Rameau. (2002, p.12).

Em 1753 escreve também O Discurso Sobre a Origem e os fundamentos da Desigualdade entre os Homens para concorrer a um novo concurso anunciado pela Academia de Dijon sobre “Qual é a origem da igualdade entre os homens e está ela autorizada por lei natural?”. Ele não ganhou, mas esse discurso é considerado muito superior ao primeiro·. No caminho de volta à Genebra, em 1754, ele e Thérèse visitaram Madame de Warens. É reintegrado à fé protestante e a pedido do amigo Diderot escreve “Sobre a Economia Política” para a Enciclopédia.

A partir de 1756 muda-se com Thérèse e o gato de estimação para a casa conhecida como Hermitage, nas florestas de Montmorency, perto de Paris, de propriedade da senhora D´Epinay. Com quarenta e quatro anos de idade, em contato com a natureza teve um dos seus períodos mais férteis como pensador (PISSARRA, 2005, p. 24). Escreveu Extrait du projet de paix perpétuelle, Polysinodie, Jugement sur la paix perpétuelle e Jugement sur la Polysinodie. Escreveu o romance Julia ou a nova Heloísa e iniciou o Emílio e o Contrato Social. Em 1757, uma intrincada história entre amantes, envolvendo a Senhora D’Epinay, seu amante Grimm, a Sra. Sophie d´Houdetot amante de Saint-Lambert e de Rousseau que era amante de Thérèse e possivelmente de d´Epinay torna insustentável sua estada no Hermitage. Além disso, já se sabia a essa altura que Thérèse não era “babá”, pois não havia crianças para cuidar, a não ser o próprio Rousseau. Foi obrigado a deixar o Hermitage e se mudou para um chalé, ainda nas florestas de Montmorency, de propriedade do poderoso marechal Luxembourg. Termina de escrever Júlia. Escreve a Carta à D’Alembert sobre os espetáculos em resposta a um artigo sobre Genebra publicado por este na Enciclopédia em que falava de seu desejo que lá se instalasse um teatro, até então proibido.

Parece ter sido em 1757 o rompimento das relações amistosas entre Rousseau e Diderot. Este precisa das relações sociais não apenas em razão de sua atuação profissional, mas também como “fluído espiritual sem o qual não conseguia pensar”. Desta maneira o gosto de Rousseau pelo isolamento e solidão lhe parecia uma “aberração moral e espiritual” e considerava “o ímpeto indomável de Rousseau para a solidão como um capricho estranho”. Quando Diderot, em seu Fils Naturel (1757) fala que “só o mau ama a solidão”, Rousseau toma para si essas palavras entendendo-as como um recado a ele dirigido e pede satisfações ao seu amigo (CASSIRER, 1999, p.88).

Na noite de seu último encontro com Rousseau, Diderot escreve a Grimm: “Este homem me deixa intranqüilo; em sua presença sinto-me como se uma alma amaldiçoada estivesse ao meu lado [...] Não quero voltar a vê-lo nunca mais; ele seria capaz de me fazer acreditar no inferno e no diabo” (DIDEROT, apud CASSIRER, 1999, p. 88).

Enquanto terminava o Emílio, em 1760, começava a escrever o Contrato Social. Por essa ocasião a nova Heloísa era um sucesso em Londres e em Paris, mas continuava a ser criticado por seu relacionamento com Thérèse e pelo abandono de seus filhos. Em 1761 sentia-se muito doente e achou mesmo que morreria. Providenciou um testamento, e encarregou Malesherbes de reunir suas obras e publicá-las e como isso tardava a acontecer, passou a supôs ser vítima de um complô, o que parece ter sido a primeira crise grave de seu delírio de perseguição que a partir de então se agrava. Um editor de Amsterdã, Marc-Michel Rey pediu que escrevesse uma obra sobre sua vida. Escreve então quatro cartas autobiográficas a Malesherbes, onde relata seus problemas e conta sobre sua vida.

O contrato Social foi publicado em abril de 1762 e o Emílio em maio. A paz que teve para escrever essas que são suas mais importantes obras foi interrompida pela terrível notícia de que o Emílio fora condenado à fogueira pelo parlamento francês, antes mesmo de sua divulgação no país e que havia sido decretada a prisão de seu autor. Aconselhado por seus protetores, fugiu da França em 11 de junho em direção à Suíça. Mas sua obra também em Genebra foi condenada e queimada e seus opositores o perseguiram avidamente. Durante essa fuga descreveu no romance Lévite d´Ephraim, sobre infortúnios de um jovem casal, que eram na verdade, suas próprias misérias. Le Lévite d´Ephraïm, s´il n´est pas le meilleur de mes ouvrages, en sera toujours le plus chéri” (ROUSSEAU. 2005b, p. 696)

Fugiu para Berna, Suíça, de onde foi expulso e em 9 de julho de 1762 instalou-se em Môtiers, no principado Prussiano de Neuchâtel, sob a proteção de Frederico II, embora não lhe agradasse a idéia de lhe dever favores, pois ao contrário dos filósofos que o adulavam, sentia aversão por ele. Lá permaneceu por dois anos.

Ele conta que em Môtiers recebia quase tantas visitas quanto no Hermitage e em Montmorency. A diferença é que nestas últimas, os visitantes eram “gente de talento, de gosto” e no primeiro os visitantes não tinham “nenhum gosto pela literatura”, a “maior parte não havia sequer lido suas obras” e que não desejavam senão “visitar o ilustre, o célebre homem” (ROUSSEAU, 2005b, p. 723).

O Arcebispo de Paris, Christophe de Beaumont publica um texto intitulado Mandement condenando o Emílio, ao qual Rousseau responde com “Carta a Christophe de Beaumont”. A Sorbonne publica censura ao Emílio. Seus inimigos continuavam a investir contra suas obras e com a publicação das Lettres Écrites de la Campagne, de autoria de Jean Robert Tronchin (1710-1793), procurador geral, em que o Emílio sofria sérias críticas, resolve fazer publicar as Lettres Écrites de la Montagne, onde mantinha todas as afirmações contidas em seus textos condenados.

Em 1764 toma conhecimento de um panfleto intitulado O Sentimento dos Cidadãos, escrito por Voltaire, onde é severamente criticado por ser pai sem coração, hipócrita e amigo ingrato (ARBOUSSE-BASTIDE, 1999, p.11). Ele se sente profundamente ferido e começa então a escrever em quase mil páginas sobre acontecimentos em sua vida, suas opiniões e explicações sobre sua conduta: Confissões.

Em 1765 as Cartas Escritas da Montanha foram queimadas em Haia, Holanda, e em Paris. Sua casa foi apedrejada e teve que fugir de Môtiers em outubro. Foi para a ilha de Saint-Pierre, onde ficou pouco até ser expulso e a caminho de Berlim, parou em Strasbourg, onde assistiu a encenação de O Adivinho da Aldeia.

Não estava sozinho. Ainda tinha o reconhecimento de admiradores, entre eles filósofos, como Buffon, cuja admiração por Rousseau foi marcada por cartas e demonstrações explícitas de respeito mútuo.

Em 4 de julho 1766 partiu para a Inglaterra em companhia do filósofo escocês David Hume. Instalou-se primeiro em Chiswick e depois em Wootton. Hume empenhou-se em conseguir-lhe uma pensão do rei inglês e Davenport não teve êxito em convencê-lo a aceitá-la. Esse período foi particularmente produtivo para a redação de suas Confissões.

A convivência de Rousseau e Hume era difícil. Rousseau continuava com seus delírios de perseguição, doença que se agravou até a última página das Confissões que é “loucura pura” (ROLLAND, 1965, p. 17). Hume por sua vez mantinha amizade com os inimigos de Rousseau e fez publicar a Exposé Succint, um relato sobre a convivência dos dois, o que alarmou ainda mais a mente persecutória do filósofo alucinado.

No final de 1767 faz publicar o Dictionnaire de Musique e se muda para o castelo de Trye junto ao seu protetor, o Príncipe de Conti, onde permaneceu até 10 de junho de 1768. Visitou o túmulo de madame de Warens e em 30 de agosto, já então aos cinqüenta e seis anos, casou-se no civil com Thérèse.

Numa fazenda, na região dos Alpes redigiu quase toda a segunda parte das Confissões e aproveitou o relevo da região para suas pesquisas botânicas, que agora eram bem mais intensas. Voltou para Paris, onde se dedicou ao trabalho de copista enquanto fazia leituras das Confissões para alguns amigos, que foram interrompidas pela polícia e algumas pessoas que temiam ser denunciadas. As Confissões não alcançaram o objetivo pretendido por seu autor e ao invés de respaldo viu todos unidos contra ele, principalmente os iluministas. Assumindo então que as suas Confissões haviam sido um fracasso no intento de expor suas idéias, em 1772 escreveu Diálogos de Rousseau, Juiz de Jean-Jacques, numa busca desesperada para mostrar a verdade (PISSARRA. 2005, p. 31). Também nesse ano aceita escrever Considerações sobre o governo da Polônia, a pedido do conde Wielhorski e redige Cartas Elementares sobre a Botânica. Aliás, começou a redigir um dicionário de termos usuais em botânica, dictionnaire des termes d´usage em botanique (1774), que não concluiu.

No verão de 1776 escreveu a História do precedente escrito (os diálogos) e no outono inicia os Devaneios de um Caminhante Solitário, obra interrompida por sua morte, dividida em doze “caminhadas” ou “passeios”. Mostrava-se mais sereno, menos acometido de seus delírios.

Em 20 de maio de 1778, último mês de sua vida, retirou-se para um recanto harmonioso, Ermenonville, poucos quilômetros de Paris, pela gentileza do fidalgo Senhor Girardin e na manhã de 2 de junho de 1778 morria de edema cerebral. Graças aos esforços de Robespierre, seus restos mortais foram transportados tempos depois, durante a Revolução francesa, para o Panteon."

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Fonte:
KATHYA CIBELLE ABREU DE SOUSA: “A CONTRIBUIÇÃO DO PENSAMENTO DE ROUSSEAU NA CONSTRUÇÃO DA ANTROPOLOGIA COMO DISCIPLINA ACADÊMICA NO SÉCULO XIX”. (Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação à Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília da Universidade Estadual Paulista, como requisito para obtenção do título de mestre. Orientadora: Profa. Dra. Christina de Rezende Rubim) Marília, 2008.

Nota
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