Anúncios antigos de cigarros - III


Desde seus primórdios a indústria do tabaco primou por uma propaganda altamente sedutora. Nos anúncios, a seguir, por exemplo, pode-se observar a associação do cigarro com castelos suntuosos e outras imagens desafiadoras. Antes, porém, faço menção de um texto extraído Mariela Cristina Sell, intitulado "Práticas ambientais na produção do tabaco: um estudo a partir das interações entre organizações sociais e produtores", especificamente aquele que versa sobre a origem do tabaco:

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O surgimento da cultura do tabaco
Alguns autores defendem que o tabaco surgiu em uma ilha do Caribe ou com os índios Arawak, no Haiti. Mas, segundo Etges (1991) há autores que defendem o termo tabaco já era conhecido na Ásia desde o século IX, originando da palavra árabe Tabbaq.

Conforme Nardi (1985) a planta de fumo (nicotina tabacum) surgiu nos Andes bolivianos e foi trazida ao Brasil pelos movimentos de migração dos índios Tupi- Guarani, muito antes da chegada dos europeus. O fumo era utilizado para a iniciação dos pajés e nas cerimônias tribais. A fumaça era considerada purificadora e a planta como medicinal pois acreditavam que curava feridas, enxaquecas e dores de estômago.

Com a chegada dos europeus ao Brasil, o fumo passou a ser conhecido entre os marinheiros e soldados e, posteriormente, foi difundido pelo mundo pelas cortes portuguesa e francesa, conforme relato de Jean-Baptiste Nardi:

Em 1530, após a expedição de Martin Afonso de Souza no sul do país, um donatário português, Luiz de Góis, em 1542, levou a planta para Portugal. Por seu aspecto ornamental (como planta exótica) e por suas virtudes medicinais, foi cultivada no quintal da infanta D. Maria, e em 1560, Jean Nicot, então embaixador da França em Portugal, a conheceu. Ouvindo dizer que a planta curava enxaquecas, das quais padecia a rainha da França, Catherina de Medicis, ele a enviou a Paris. A rainha começou a pitar e imediatamente foi imitada pelos nobres de sua corte e logo pelos das cortes européias, dando nascimento ao mercado de fumo em pó (Nardi, 1985, p. 6).

Ainda conforme Nardi (1985), com o aumento do consumo e da busca pela iguaria surgem as primeiras lavouras de fumo no Brasil, localizadas no chamado Recôncavo Baiano, entre Salvador e Recife, regidas pelo monopólio português através da chamada Junta de Administração do Tabaco, criada em 1674, que regulamentava os impostos e os contratos originados das negociações do fumo. Já em 175l, com as reformas criadas pelo Marquês de Pombal, surgem novas legislações e regulamentos, que vigoraram até alguns anos após a Independência do Brasil. O hábito de fumar o tabaco foi evoluindo e tornou-se comum entre os povos, perdendo seu valor religioso. Segundo Nardi:

Ao passar pela Europa e pelo mundo, o fumo não levou seu valor religioso e ficou para os povos pelo puro prazer. O sociólogo cubano Fernando Ortiz diz que com o fumo ocorreu um dos maiores fenômenos de transculturação no mundo (Nardi, 1985, p. 13).

De 1680 a 1730, a Bahia atravessava a crise do açúcar e muitos senhores de engenho passaram a se dedicar ao cultivo do tabaco, tendo a produção atingido em torno de 3.750 toneladas por ano. A abolição dos escravos, no fim do século XIX, não afetou a produção, e as lavouras continuaram prosperando com o consumo crescendo no mundo todo. “A partir do fim do período colonial (1808) até o início do século XX, o fumo brasileiro diversificou-se tanto a nível da agricultura como da indústria e do comércio” (Nardi, 1985, p. 8).

Uma política de desenvolvimento instituída na época permitiu a criação de novas áreas fumageiras. Assim o tabaco passou a ser cultivado em Minas Gerais, Goiás, São Paulo e, em 1824, com a chegada dos imigrantes alemães, no Rio Grande do Sul. No século XIX, o comércio ganha força através do desenvolvimento das comunicações internas do país, como novas estradas, ferrovias e companhias de navegação.

É no período de 1900 a 1930 que o cultivo do tabaco e as condições de industrialização e de comércio se estabelecem e formam as estruturas atuais, sendo que somente o Rio Grande do Sul e a Bahia continuaram investindo na cultura, embora com tipos diferentes da planta. Na Bahia se cultiva o fumo escuro para charutos, produzidos de forma artesanal, enquanto no Rio Grande do Sul o cultivo é de fumo claro, para cigarros, seguindo um sofisticado processo industrial. Um fato marcante na disseminação do tabaco foi a II Guerra Mundial, que proporcionou o aumento no consumo de cigarros e, conseqüentemente, dos volumes plantados e exportados pelo Brasil, aumentando também a procura no mercado interno, movido pelo processo de urbanização e participação das mulheres no consumo. Ainda assim, conforme Nardi (1985), até 1970 a Europa absorvia quase 80% do fumo brasileiro, e a cadeia produtiva local foi uma das grandes beneficiárias do Acordo Monetário europeu de 1955, que tornou o dólar, a partir de 1959, a moeda de intercâmbio internacional, aumentando ainda mais a lucratividade do negócio.

Por sua antiqüíssima presença no país, o fumo é, talvez, de todos os produtos brasileiros, o mais genuíno. Se houve, outrora, produtos mais valiosos como o açúcar, o ouro ou o café, todos foram vítimas das conjunturas e das crises. O fumo prevaleceu sobre as tempestades. Devagar, pacientemente, encaminhou-se para os primeiros lugares, esperando sua hora [...] a luz dos tempos passados nos ensina que o fumo foi sempre um valor seguro para o país. Sem idéia preconcebida, podemos afirmar que o fumo, por sua estabilidade e seu progresso regular, é talvez, o verdadeiro ouro do Brasil (Nardi, 1985, p. 37).

Fonte:
Mariela Cristina Sell: “Práticas ambientais na produção do tabaco: um estudo a partir das interações entre organizações sociais e produtores”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós–graduação em Ambiente e Desenvolvimento do Centro Universitário Univates, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ambiente e Desenvolvimento. Orientadora: Dra. Jane Márcia Mazzarino Co-orientador: Dr. Glauco Schutz). Lajeado, 2009.

Nota
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As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
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Fonte das imagens:
Revista "A Cigarra", edições de 1942, 1945, 1946 e 1947, disponível digitalmente no site do Arquivo Público do Estado de São Paulo

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