Anúncios antigos de cigarros - IV


Poucos produtos tiveram tanta divulgação quanto o cigarro. Para quem se admira, hoje, da quantidade de pessoas que fazem uso do tabaco, talvez não façam ideia de que grande parte delas foram cativadas pela nicotina através da influência maligna da propaganda, que tratou de multiplicar as sementes para as futuras gerações. Durante décadas o cigarro foi concebido inclusive como "terapia", para aliviar as tensões do dia a dia. A mesma cousa faz, atualmente, a indústria da cerveja, que aproveitam a liberdade que os governos lhes oferecem, para inculcar nas mentes das pessoas que bebendo cerveja se é feliz ou que se aproveita verdadeiramente a vida.

Bom, mas voltando ao cigarro, seguem aqui mais alguns anúncios de antanho, antes, contudo, posto um texto que faz parte da dissertação de Mestrado de autoria de Luciana Cadore Foletto, que se intitula: “Responsabilidade civil das empresas tabagistas e o direito fundamental à saúde”, especificamente a parte que aborda as substâncias de que se compõem o cigarro.

---

SUBSTÂNCIAS DO CIGARRO
Atualmente, estudos recentes comprovam que o cigarro possui cerca de 4.700 substâncias químicas,508 sendo que 95% delas encontram-se na fase particular condensada) e 5% na parte gasosa.

Na parte condensada destacam-se a nicotina, os fenóis, o benzopireno, o criseno, aldeídos, as cetonas, os ácidos orgânicos, os álcoois e os polióis.

Na parte gasosa encontra-se nitrogênio, oxigênio, dióxido de carbono, monóxido de carbono, hidrogênio, argônio, metano, hidrocarbonetos saturados e não-saturados, carbonilas, ácido cianídrico, outros componentes gasosos e vapor d’água.

Conforme Rosemberg,

[...] as substâncias químicas isoladas do fumo e do condensado do cigarro, estudadas quanto aos seus efeitos biológicos e tóxicos, podem ser reduzidas a cinco grupos essenciais:

a) nicotina e seus derivados (alcolóides), responsáveis pelo tabacodependência e efeitos sobre o sistema nervoso e circulatório.
b) monóxido de carbono, que interfere no transporte de oxigênio aos tecidos;
c) irritantes da mucosa respiratória, com repercussão sobre os brônquios e alvéolos;
d) compostos cancerígenos;
e) substâncias adventícias.

A nicotina é um composto incolor e oleoso. É usada como inseticida e a injeção de uma gota em estado puro, setenta miligramas, causa a morte quase instantânea de um indivíduo de peso médio.

Essa substância é um composto orgânico, sendo o principal alcalóide do tabaco. Encontra-se em toda a planta do tabaco, sobretudo nas folhas e corresponde em média a 5% do peso da planta.

A nicotina, em estado puro, já era conhecida em 1571, e o produto purificado foi obtido em 1828. A fórmula molecular C10H14N2, foi estabelecida em 1843, e a primeira síntese em laboratório foi publicada em 1904.516

A nicotina age de maneira diversa no organismo do consumidor. Num primeiro momento possui efeito estimulante, passando logo após ao efeito tranqüilizante. É considerada uma droga pela Organização Mundial da Saúde e supostamente responsável pela dependência do tabaco.

É importante ressaltar que a nicotina causa hipertensão, aterosclerose, impotência, doenças coronárias, acidentes vasculares cerebrais, infarto do miocárdio, entre outros males.

A ação desta substância se faz presente, conforme Rosemberg, sobre o “sistema parassimpático e simpático e pela liberação de epinefrina.” Portanto, de acordo com o autor, “nos fumantes treinados predomina uma reação adrenérgica, produzindo a liberação das catecolaminas pelos órgãos supra-renais. Sendo assim, explana Rosemberg que “os sintomas mais comuns são de natureza cardiovascular: elevação da freqüência cardíaca vasoconstrição, especialmente dos capilares.

Além disso, a nicotina possui grande ação sobre o sistema nervoso central. Após uma tragada, ela chega ao cérebro em nove segundos, valendo dizer que, em média, traga-se dez vezes cada cigarro. Desta forma, “quem fuma um maço de cigarros por dia, sofre portanto, duzentos impactos cerebrais de nicotina, totalizando setenta e três mil impactos por ano.” A ingestão de nicotina pelo macaco ou homem, na dose diária de 0,002 mg por quilo de peso corporal, produz redução das normas de comportamento ou irritabilidade e agressividade.

Vale registrar ainda, que atualmente como bem explica Rosemberg, constatou-se o efeito broncoconstritor da nicotina, o qual majora a resistência bronquial à ventilação respiratória. Além disso, verificou-se também que esta substância influi na “diminuição do consumo de oxigênio e da atividade da enzima adenosina trifosfatase dos macrófagos alveolares, prejudicando a função fagocitária destes últimos.”

Shryock explica que o principal efeito da nicotina
é exercido sobre os gânglios nervosos e nos locais de junção entre os nervos e os músculos. Os gânglios são pontos de retransmissão dos circuitos nervosos que controlam as diversas partes do corpo. O primeiro efeito da nicotina é estimular. Mas esta estimulação logo é seguida por um efeito oposto. Em doses adequadas, o breve efeito estimulante da nicotina é seguido por uma condição em que os impulsos nervosos não podem mais ser transmitidos. Isso resulta em paralisia das estruturas providas de circuitos nervosos.

Porquanto, de acordo com Shryock:
A causa da morte proveniente de grandes doses de nicotina é uma paralisia que abrange os músculos da respiração. Os impulsos não conseguem mais atingir os músculos que dilatam o tórax. Os músculos em si permanecem em boas condições, mas a nicotina impede as correntes nervosas de chegarem até os músculos. Em caso de envenenamento acidental por nicotina, como o que é causado por inseticidas que a contenham, às vezes é possível salvar a vida efetuando respiração artificial durante o tempo em que os músculos respiratórios da vítima estiverem paralisados. Se o coração continuar batendo durante todo este processo, a nicotina excedente poderá acabar sendo eliminada ou destruída, de modo que a pessoa intoxicada consiga desempenhar novamente sua própria função respiratória.

Em razão disso, vale salientar que não se encontra diferença de nicotina nos usuários tanto de cigarros de alto, quanto de médio ou de baixo teor de nicotina,531 pois os dados demonstram que o importante é o quanto se fuma. Sendo assim, se um consumidor de alto teor de nicotina passa a consumir cigarros de baixo teor de nicotina em uma maior quantidade estará causando, da mesma forma, graves danos à saúde.

Além do mais, Rosemberg esclarece que não existem cigarros com baixo teor de nicotina. A proporção de nicotina é igual em todos os cigarros. O diferencial é que os cigarros de baixo teor de nicotina possuem menos tabaco e também mecanismos que facilitam a retirada da nicotina e do alcatrão por filtração e difusão de ar.

---
Fonte:
Luciana Cadore Foletto: “Responsabilidade civil das empresas tabagistas e o direito fundamental à saúde”. (Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Direito da Universidade Luterana do Brasil como requisito para a obtenção do título de Mestre em Direito. Área de concentração: Direitos Fundamentais. Orientador: Dr. Luciano Benetti Timm). Canoas, 2007.

Nota:
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.


---
ANÚNCIOS:


Marca: "Hollywood", da Companhia Souza Cruz (anúncio de 1952)

Marca: "Elmo", da Companhia Souza Cruz (anúncio de 1946)

Marca: "Castellões" (anúncio de 1928)

Marca: "Castellões" (anúncio de 1922)

Marca: "Astoria", da Companhia Souza Cruz (anúncio de 1937)

---
Fonte das imagens:
Revista "O Malho" (anúncio 1), edição de 1952,
Revista "A Cigarra" (anúncios: 2-5), ambas disponível digitalmente no site do Arquivo Público do Estado de São Paulo

2 comentários:

  1. qual foi a agência publicitária que produziu esses anúncios? vocês sabem?

    ResponderExcluir
  2. qual foi a agência publicitária que produziu esses anúncios? vocês sabem?

    ResponderExcluir

Excetuando ofensas pessoais ou apologias ao racismo, use esse espaço à vontade. Aqui não há censura!!!