A influência bíblica em Olavo Bilac

A influência da Bíblia na literatura “secular”, é indiscutivelmente notória. Não há escritor de renome universal, especificamente, no Ocidente, que não tenha se imbuído do conteúdo bíblico para seus fins literários. Na Literatura Brasileira, essa influência é ainda mais destacada, uma vez que o Brasil, desde suas origens, sempre foi um país profundamente religioso, tendo sido colonizado por outro não menos religioso, Portugal. Não obstante, muitos desses escritores ignorassem a Bíblia como de “inspiração divina”, ainda assim fizeram uso desta maravilhosa fonte para criar títulos, compor personagens, formar tramas e desenvolver estilos. Especialmente na Poesia, e mais exatamente em Olavo Bilac, o “Livro Santo” serviu constantemente como manancial de inspiração. Vejamos, pois, dois exemplos:

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A RAINHA DE SABÁ
O rei Salomão deu à rainha de Sabá o que ela lhe desejou, e lhe pediu, afora os presentes que ele mesmo lhe deu com liberalidade real. A rainha voltou, e se foi para o seu reino com os seus servos. Reis, Liv. III(?) . cap. X, 13.

“Que mais queres? Sião? E, entre os bosques
[sombrios,
O meu colar de cem cidades deslumbrantes?
O Líbano, pompeando em paços, em mirantes,
Em cedros, em pavões, em corças, em bugios?

O povo de Israel, em tribos formigantes
Do Eufrates ao Mar Morto e o Egito? Os meus navios,
As esquadras de Hirão, coalhando o oceano e os rios,
Atestadas de pratas e dentes de elefantes?

O meu leito, ainda olente e morno do teu sono?
O cetro? O gineceu, e a guarda, e as mil mulheres
Como escravas, rojando aos teus pés? O meu trono?
Os vasos do holocausto? O templo de ouro e jade?

A ara, em sangue e fulgor, ante Jeová?... Que
[queres?”
...................................................................................
“O teu último beijo... o deserto... e a saudade...”

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MADALENA
Maria Madalena, Maria de Tiago e Salomé compraram aromas, para irem embalsamar a Jesus. Mas, olhando, viram revolvida a pedra... E Jesus, tendo ressurgido, apareceu primeiramente a Maria Madalena. São Marcos, cap. XVI.

Quedaram, frio o sangue, as mulheres chorosas,
Sem cor, sem voz, de espanto e medo. E, de repente,
Caíram-lhes das mãos as ânforas piedosas
De bálsamo odoroso e de óleo recendente.

Enfeitiçou o chão de um perfume dormente,
E o arredor trescalou de essências capitosas,
Como se a terra toda abrisse o seio, e o ambiente
Se enchesse de jasmins, de nardos e de rosas.

E Madalena, muda, ao pé da sepultura,
Tonta de exalação dos cheiros, em delírio,
Viu que uma forma, no ar, divinamente bela,
Vivo eflúvio, vapor fragrante, alva figura,
Aroma corporal, pairava...
Como um lírio,
Num sorriso, Jesus fulgia diante dela.

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Fonte:
Poesias Olavo Bilac. Organização e prefácio Ivan Teixeira. Editora Martins Fontes. São Paulo, 1997.

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