A CONDIÇÃO PÓS-MODERNA DE JEAN-FRANÇOIS LYOTARD



A Condição Pós-Moderna de Jean-François Lyotard

Neste início de século XXI, a teoria do pós-modernismo encontra-se, de certo modo, mais estabelecida em relação ao seu momento de chegada na filosofia durante o final da década de setenta e início da década de oitenta do século XX. Após o aparecimento dos principais trabalhos filosóficos neste período, muito já se refletiu sobre a influência deste conceito, sobre suas bases e sobre suas origens, de modo que um mapeamento do pensamento pós-moderno já não escapa totalmente a uma sistematização de seus procedimentos, como já chegou a aparentar em décadas anteriores. Não são raras a publicações dedicadas a apresentar um panorama da teorização e do debate em torno do pós-moderno. Como exemplo, podemos citar a obra de Perry Anderson, As Origens da Pós-Modernidade (1998), a obra de Cristopher Butler, Postmodernism: A Very Short Introduction (2002), ou a obra de Steven Connor, Cultura Pós-Moderna: introdução às teorias do contemporâneo (1992), dentre outras. A essas somam-se uma grande quantidade de compêndios que, além de apresentarem textos referentes ao pós-moderno em sua relação com as mais diferentes áreas (artes, ciências humanas), sempre apresentam uma visão panorâmica dos mais importantes e influentes autores para o debate pós-moderno. Este é o caso do Compêndio Routledge Para o Pós-Modernismo, editado por Stuart Sim, autor do texto do panorama de teorias desta publicação. Essa constatação da existência de uma vasta lista de publicações a respeito das teorias pós-modernas nos exime da responsabilidade de traçá-la, aqui, novamente. No entanto, algumas informações serão fornecidas com o objetivo de ilustrar o momento histórico deste debate no qual A Condição Pós-Moderna foi publicado.

Perry Anderson, em As Origens da Pós-Modernidade, traça um histórico do termo e da idéia de pós-modernismo, dividindo esse panorama em quatro etapas: primórdios, cristalização, compreensão e efeitos posteriores. Aos primórdios ele vincula os autores: Frederico Onís, Arnold Toynbee, Charles Olson, Wright Mills, Irving Howe, Harry Levin, Leslie Fedler e Amitai Etzioni. A Geração da cristalização está ligada a Willian Spanos, Ihab Hassan, Robert Venturi, Denise Scott Brown, Steven Izenour, Robert Stern, Charles Jencks, Jean-François Lyotar, Jürgem Habermas. A compreensão é um momento reservado a obra de Fredric Jameson. Os efeitos posteriores estão relacionadas a Terry Eagleton, a David Harvey e a Alex Callinicos. O livro de Anderson não apresenta alguns autores importantes para o debate pós-moderno. No entanto, ele possui grande mérito ao se propor a pensar uma linha histórica evolutiva para o conceito e por apresentar um quadro detalhado das teorias anteriores a década de 1970, quando a noção de pós-moderno se restringia aos domínios da crítica literária e das ciências sociais.

Steven Connor, já em 1989, escreve Cultura Pós-Moderna: introdução às teorias do contemporâneo. Connor atribui a três filósofos o papel de orientadores das discussões da pós-modernidade. Dois deles, Lyotard e Jameson, coincidem com o panorama de Anderson. O outro é Jean Baudrillard. A presença deste nome em obras dedicadas a traçar um panorama das teorias do pós-modernismo abre o precedente para a inclusão de uma série de autores que não se referem diretamente ao termo pós-modernismo na lista dos pensadores influentes nos debates dedicados a esse tema. Autores importantes para uma compreensão da pós-modernidade em um campo mais amplo de influência, como Michel Focault, Jacques Derrida, Gilles Deleuze e Félix Guatari, não mencionam os termos pós-modernismo/pós-moderno/pós-modernidade em suas obras. Este filósofos, muitas vezes agrupados sob a designação de desconstrucionistas ou de pós-estruturalistas, são, por esse motivo, tidos também como pilares das noções de pós-modernismo. Outra desconstrucionista comentada é Luce Irigaray.

Stuart Sim, em seu ensaio Postmodernism And Philosophy (1999), enfatiza o grupo de pensadores designados comumente por pós-estruturalistas ou desconstrucionistas (Derrida, Focault, Deleuze e Guatari). Além destes autores mais inclinados a desconstrução do legado estruturalista, Sim inclui no seu panorama filosófico do pós-modernismo, Lyotard, Habermas Jameson e Eagleton, já comentados por Anderson, e outros nomes como Jean Baudrillard, Ernest Laclau, Chantal Moufe e Richard Rorty. Atribui a esses últimos nomes a designação de “pós-marxistas”, os quais seriam não somente os dedicados a superação do legado marxista como também os intelectuais devotados a revisão e ampliação do marxismo (SIM, 1999, pg.11). Nesta discussão, Sim realiza uma tentativa de separação: por um lado os pensadores que, à luz de teoria marxista, negam a legitimidade da noção de pós-modernismo sob o argumento de que a aceitação desta noção seria a aceitação da ordem capitalista contemporânea, colocando o pós-modernismo como ideologicamente suspeito; e por outro, os pensadores que, imersos no processo de desconstrução das autoridades modernas intelectuais, político e culturais, vêem o pós-modernismo como uma perspectiva.

Nas últimas décadas, nomes como Gianni Vattimo, Zygmunt Bauman, Anthony Guidens também são de grande importância para um panorama do pensamento pós-moderno. Estes três autores possuem os termos pós-modernismo/pós-modernidade frequentemente presentes nos títulos de suas publicações denotando a importância que atribuem a esse conceito como compreensão das questões contemporâneas.



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Fonte:
JOÃO PAULO COSTA DO NASCIMENTO: “ABORDAGENS DO PÓS-MODERNO EM MÚSICA: a incredulidade nas metanarrativas e o saber musical contemporâneo”. (Dissertação apresentada para a obtenção do título de Mestre junto ao Programa de Pós-Graduação em Música do Instituto de Artes da UNESP. Área de Concentração: Musicologia/Etnomusicologia/Educação Linha de Pesquisa: Abordagens Históricas, Estéticas e Educacionais do Processo de Criação, Transmissão e Recepção da Linguagem Musical. Orientador(a): Profa. Dra. Lia Vera Tomás).  São Paulo, 2009.

Notas:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
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