As “respostas” de Darwin, a seguir, foram todas extraídas do seu livro “A Origem do Homem e a Seleção Sexual”, da tradução para o português de autoria de Attílio Cancian e Eduardo Nunes Fonseca, publicado pela Hemus Editora.
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H.D.:
Mister Charles Darwin, hoje eu gostaria de tratar com o senhor acerca de uma questão que tem suscitado os mais ferrenhos debates nos últimos tempos: religião, fé e crença em Deus. Como senhor explica essa tendência humana à religiosidade?
CHARLES DARWIN:
"Não existe prova de que o homem originariamente fosse dotado da nobre fé na existência de um Deus onipotente. Pelo contrário, existe ampla prova, fornecida não por viajantes ocasionais, mas por homens que residiram por muito tempo entre os selvagens, de que existiram numerosas raças, e ainda existem, as quais não têm ideia de um ou de mais deuses, e que em sua língua não têm palavras para exprimir esta ideia" (p. 115).
H.D.:
Mas como isso se deu exatamente?
CHARLES DARWIN:
"Conforme mostrou Tylor, é também provável que os sonhos tenham sido os primeiros a dar origem à ideia dos espíritos, visto que os selvagens de fato não distinguem entre as impressões subjetivas e objetivas. Quando um selvagem sonha, crê que as imagens que lhe aparecem provenham de longe para se deterem diante dele; ou então: "o espírito do sonhador divaga durante suas viagens e volta para casa com a lembrança daquilo que viu. Mas enquanto as faculdades da imaginação, da curiosidade, da razão, etc. não tiverem alcançado um desenvolvimento completo na mente do homem, os seus sonhos não levarão a crer nos espíritos mais do que um cão acredita" (p. 115).
H.D.:
Certo. E como o senhor analisa esta questão entre os povos que o senhor denomina de selvagens?
CHARLES DARWIN:"A tendência que os selvagens possuem de imaginar que os objetos naturais e as causas são animados de essências espirituais ou viventes talvez possa ser ilustrada por um pequeno fato que certa vez presenciei: o meu cão, um animal adulto e muito sensível, num dia quente e tranquilo achava-se num prado; a uma pequena distância uma leve aragem de vez em quando movia uma sombrinha aberta; se alguém tivesse estado aí por perto o cão nem teria ligado para este detalhe. No entanto, toda vez em que a sombrinha se movia ligeiramente, o cão arreganhava os dentes e latia. Creio que deve ter perguntado, de maneira rápida e inconsciente, se o movimento sem causa aparente não estaria indicando a presença de algum estranho agente animado, e que nenhum forasteiro tinha o direito de estar no seu território.
A crença em agentes espirituais poderia facilmente levar à fé numa ou mais divindades. Com efeito, os selvagens atribuem aos espíritos as mesmas paixões, o mesmo amor pela vingança ou então as mais simples formas de justiça bem como os mesmos sentimentos que eles mesmos experimentam. Sob este aspecto parece que os habitantes da Terra do Fogo se acham numa situação intermediária, visto que, quando o cirurgião a bordo do "Beagle" abateu um pato selvagem novo, York Minster exclamou na maneira mais solene: "Oh, Sr. Bynoe, muita chuva, muita neve, muito vento", e isto era evidentemente uma punição atribuída ao fato de ter desperdiçado alimento destinado aos homens" (p. 116).
H.D.:
Então esse sentimento religioso nutrido pelo homem pode ser comparado com algum instinto animal?
CHARLES DARWWIN:
"Nenhum ser poderia experimentar uma emoção tão complexa sem avançar nas suas faculdades intelectuais e morais pelo menos até um certo nível moderadamente elevado. Não obstante, vemos um pálido sinal de aproximação a este estado da mente no profundo amor que um cão tem por seu dono, associado com a completa submissão, modo e talvez outros sentimentos. O comportamento que um cão tem quando volta ao seu dono e, como posso acrescentar, também o de um si mio para com o seu guarda amado, depois de transcorrida uma ausência, é muito diferente daquele que externa para com os seus próprios companheiros. Nesse último caso os transportes de alegria às vezes parecem ser menores e o senso de paridade se revela em toda ação. O prof. Braubach vai tão longe a ponto de sustentar que um cão considera o seu dono como um Deus” (p. 117).
H.D.:
Que mudanças o senhor pode apontar na forma de crença primitiva da atual, por exemplo?
CHARLES DARWIN:
“As mais elevadas formas de religião — a grande ideia de um Deus que abomina o pecado e que ama a justiça — era desconhecida durante os períodos primitivos” (p. 173).
H.D.:
A fé em Deus então evoluiu gradualmente assim como outros instintos?
CHARLES DARWIN:
"A fé em Deus tem sido muitas vezes considerada não só como a maior, mas como a mais completa distinção entre homem e animais inferiores. Contudo, conforme temos visto, é impossível sustentar que esta crença seja inata ou instintiva no homem. Por outro lado, a fé num agente espiritual onipresente parece universal e deriva, aparentemente, de um considerável progresso da razão humana e de um ainda maior avanço das suas faculdades de imaginação, curiosidade e maravilhamento. Sei que a fé instintiva em Deus tem sido usada por muitas pessoas como argumento da sua existência, mas este argumento está fora de questão, pois que assim seríamos levados a crer na existência de muitos espíritos cruéis e malignos, só em pouco mais poderosos que o homem; com efeito, a crença nestes últimos está bastante mais propagada do que aquela numa divindade benfazeja. A ideia de um Criador universal e benigno não parece que só surgiu na mente humana quando o homem se elevou mediante uma longa cultura. Quem acredita na procedência do homem de alguma forma inferior organizada, naturalmente perguntará como é que isto tem relação com a crença da imortalidade da alma” (p. 704).
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É isso!
Mister Charles Darwin, hoje eu gostaria de tratar com o senhor acerca de uma questão que tem suscitado os mais ferrenhos debates nos últimos tempos: religião, fé e crença em Deus. Como senhor explica essa tendência humana à religiosidade?
CHARLES DARWIN:
"Não existe prova de que o homem originariamente fosse dotado da nobre fé na existência de um Deus onipotente. Pelo contrário, existe ampla prova, fornecida não por viajantes ocasionais, mas por homens que residiram por muito tempo entre os selvagens, de que existiram numerosas raças, e ainda existem, as quais não têm ideia de um ou de mais deuses, e que em sua língua não têm palavras para exprimir esta ideia" (p. 115).
H.D.:
Mas como isso se deu exatamente?
CHARLES DARWIN:
"Conforme mostrou Tylor, é também provável que os sonhos tenham sido os primeiros a dar origem à ideia dos espíritos, visto que os selvagens de fato não distinguem entre as impressões subjetivas e objetivas. Quando um selvagem sonha, crê que as imagens que lhe aparecem provenham de longe para se deterem diante dele; ou então: "o espírito do sonhador divaga durante suas viagens e volta para casa com a lembrança daquilo que viu. Mas enquanto as faculdades da imaginação, da curiosidade, da razão, etc. não tiverem alcançado um desenvolvimento completo na mente do homem, os seus sonhos não levarão a crer nos espíritos mais do que um cão acredita" (p. 115).
H.D.:
Certo. E como o senhor analisa esta questão entre os povos que o senhor denomina de selvagens?
CHARLES DARWIN:"A tendência que os selvagens possuem de imaginar que os objetos naturais e as causas são animados de essências espirituais ou viventes talvez possa ser ilustrada por um pequeno fato que certa vez presenciei: o meu cão, um animal adulto e muito sensível, num dia quente e tranquilo achava-se num prado; a uma pequena distância uma leve aragem de vez em quando movia uma sombrinha aberta; se alguém tivesse estado aí por perto o cão nem teria ligado para este detalhe. No entanto, toda vez em que a sombrinha se movia ligeiramente, o cão arreganhava os dentes e latia. Creio que deve ter perguntado, de maneira rápida e inconsciente, se o movimento sem causa aparente não estaria indicando a presença de algum estranho agente animado, e que nenhum forasteiro tinha o direito de estar no seu território.
A crença em agentes espirituais poderia facilmente levar à fé numa ou mais divindades. Com efeito, os selvagens atribuem aos espíritos as mesmas paixões, o mesmo amor pela vingança ou então as mais simples formas de justiça bem como os mesmos sentimentos que eles mesmos experimentam. Sob este aspecto parece que os habitantes da Terra do Fogo se acham numa situação intermediária, visto que, quando o cirurgião a bordo do "Beagle" abateu um pato selvagem novo, York Minster exclamou na maneira mais solene: "Oh, Sr. Bynoe, muita chuva, muita neve, muito vento", e isto era evidentemente uma punição atribuída ao fato de ter desperdiçado alimento destinado aos homens" (p. 116).
H.D.:
Então esse sentimento religioso nutrido pelo homem pode ser comparado com algum instinto animal?
CHARLES DARWWIN:
"Nenhum ser poderia experimentar uma emoção tão complexa sem avançar nas suas faculdades intelectuais e morais pelo menos até um certo nível moderadamente elevado. Não obstante, vemos um pálido sinal de aproximação a este estado da mente no profundo amor que um cão tem por seu dono, associado com a completa submissão, modo e talvez outros sentimentos. O comportamento que um cão tem quando volta ao seu dono e, como posso acrescentar, também o de um si mio para com o seu guarda amado, depois de transcorrida uma ausência, é muito diferente daquele que externa para com os seus próprios companheiros. Nesse último caso os transportes de alegria às vezes parecem ser menores e o senso de paridade se revela em toda ação. O prof. Braubach vai tão longe a ponto de sustentar que um cão considera o seu dono como um Deus” (p. 117).
H.D.:
Que mudanças o senhor pode apontar na forma de crença primitiva da atual, por exemplo?
CHARLES DARWIN:
“As mais elevadas formas de religião — a grande ideia de um Deus que abomina o pecado e que ama a justiça — era desconhecida durante os períodos primitivos” (p. 173).
H.D.:
A fé em Deus então evoluiu gradualmente assim como outros instintos?
CHARLES DARWIN:
"A fé em Deus tem sido muitas vezes considerada não só como a maior, mas como a mais completa distinção entre homem e animais inferiores. Contudo, conforme temos visto, é impossível sustentar que esta crença seja inata ou instintiva no homem. Por outro lado, a fé num agente espiritual onipresente parece universal e deriva, aparentemente, de um considerável progresso da razão humana e de um ainda maior avanço das suas faculdades de imaginação, curiosidade e maravilhamento. Sei que a fé instintiva em Deus tem sido usada por muitas pessoas como argumento da sua existência, mas este argumento está fora de questão, pois que assim seríamos levados a crer na existência de muitos espíritos cruéis e malignos, só em pouco mais poderosos que o homem; com efeito, a crença nestes últimos está bastante mais propagada do que aquela numa divindade benfazeja. A ideia de um Criador universal e benigno não parece que só surgiu na mente humana quando o homem se elevou mediante uma longa cultura. Quem acredita na procedência do homem de alguma forma inferior organizada, naturalmente perguntará como é que isto tem relação com a crença da imortalidade da alma” (p. 704).
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É isso!
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