A febre do Naturalismo no século XIX


"A visão de mundo do homem do século XIX foi muito guiada pelo forte cientificismo então em voga. O determinismo e o darwinismo social foram influências diretas para as teorias defendidas por sociólogos e antropólogos do período. Tal contexto, como já seria de se esperar, ecoou no âmbito literário, fazendo com que diversos escritores se tornassem representantes dessas correntes cientificistas e expusessem em suas páginas personagens e situações que exemplificassem e comprovassem as idéias de maior prestígio do referido período. Assim o cenário literário viu a ascensão do Naturalismo.

O Naturalismo floresceu primeiramente na França na segunda metade do século XIX, mas teve repercussão também em outros países europeus, nos Estados Unidos e no Brasil. Seguindo os princípios cientificistas que lhe deram origem, o movimento tem como base a filosofia de que só as leis da natureza são válidas para explicar o mundo e de que o comportamento do homem está sujeito a um condicionamento puramente biológico e social. As obras naturalistas retratam a realidade de forma ainda mais objetiva e fiel do que seu movimento predecessor, o Realismo. Nas artes plásticas o movimento não tem o engajamento ideológico do Realismo, mas na Literatura e no Teatro mantém a temática dos problemas sociais.

Influenciados pelo Positivismo de Auguste Comte e pela Teoria da Evolução das Espécies de Darwin, os naturalistas enxergam e reproduzem a realidade sob uma ótica totalmente científica. Sua visão de mundo é guiada por princípios como objetividade, imparcialidade, materialismo e determinismo. Ao contrário da maioria dos movimentos literários, o Naturalismo teve uma figura intelectual em sua liderança – Émile Zola. O ano de 1880 foi um marco para o movimento, pois foi o ano em que o escritor publicou a coletânea de ensaios
O romance experimental, onde define os princípios básicos do movimento.

Nas artes plásticas, o Naturalismo retratou fielmente paisagens urbanas e suburbanas, nas quais os personagens são pessoas comuns. O artista pinta o mundo como o vê, sem idealizações e distorções, com o objetivo de expor posições ideológicas. Em meados do século XIX, o grande interesse por paisagens naturais leva um grupo de artistas a se reunir em Barbizon, na França, para pintar ao ar livre, fato considerado inovador na época. Um dos principais artistas do grupo é Théodore Rousseau, autor de “Uma alameda na floresta” de L’Isle Adam. Outro nome importante é Jean-Baptiste-Camille Corot. O francês Édouard Manet é um nome fundamental do período, fazendo a ponte do Realismo e do Naturalismo para um novo tipo de pintura que levará mais tarde ao Impressionismo. Na literatura naturalista, a linguagem empregada nos romances é, em geral, coloquial, simples e direta. Muitas vezes, para descrever vícios e mazelas humanas, são empregadas expressões vulgares. Temas do cotidiano urbano, como crimes, miséria e intrigas são uma constante. O estudo dos desvios do comportamento humano, marcado pela influência exercida pelas noções de “raça” e “meio” sobre o indivíduo, foi uma das mais importantes características do Naturalismo literário. Os personagens são tipificados: o adúltero, o louco, o pobre, etc. O descritivismo na narrativa é excessivo. O maior expoente do Naturalismo literário é o líder do movimento, Émile Zola, autor de
Nana e Germinal.

No Naturalismo dramático, as principais peças são baseadas em textos de Zola, como
Thérèse Raquin, Germinal e A Terra. A encenação deste último constitui a primeira tentativa de criar um cenário tão realista quanto o texto. Na época, o principal diretor de peças naturalistas na França é André Antoine, que põe em cena animais vivos e simula coisas como um pequeno riacho. Outro autor importante do período, o francês Henri Becque, aplica os princípios naturalistas à comédia de “boulevard”, que ganha caráter amargo e ácido. Suas principais peças são A parisiense e Os abutres. Também se destaca o sueco August Strindberg, autor de Senhorita Julia.

Sendo o Brasil do século XIX um pólo receptor das idéias da França, seria apenas uma questão de tempo para que as idéias naturalistas fossem incorporadas ao ideário cultural brasileiro. No país, a tendência manifesta-se nas artes plásticas e na literatura. Em relação ao teatro, várias peças francesas são encenadas no Brasil, porém não ocorre a produção de textos nacionais. Nas artes plásticas estão presentes na produção dos artistas paisagistas do chamado Grupo Grimm. Seu líder é o alemão George Grimm, professor da Academia Imperial de Belas-Artes. Em 1884, após romper com a instituição, ele funda o Grupo Grimm em Niterói, Rio de Janeiro. Outro naturalista importante é João Batista da Costa, que tenta captar com objetividade a luz e as cores da paisagem brasileira. Na literatura, o romance O mulato, de Aluísio Azevedo, é considerado o marco inicial do Naturalismo no país. Trata-se da história de um homem culto, mulato, que vive o preconceito racial ao se envolver com uma mulher branca. Outras obras naturalistas marcantes são O bom crioulo, de Adolfo Caminha, A carne, de Júlio Ribeiro e sobretudo O cortiço, também de Aluísio Azevedo."

Fonte:
"A herança do período naturalista nas letras do século XX": Flavio Pereira Senra (d
issertação de Mestrado em Literatura Comparada apresentada à coordenação dos cursos de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientador: Prof. Dr. Eduardo de Faria Coutinho. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006).

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