"A noção de concorrência, de luta pela vida e de sobrevivência do mais forte deu nascimento a uma "sociologia da guerra" que prosperou sobretudo na Alemanha. Mas mesmo em França, no período anterior à Primeira Guerra Mundial, a exaltação emocional e romântica da luta e da morte caminhou conjuntamente com os ímpetos de révanche que iam contribuir para o genocídio bélico. Místico católico que morreria no insano massacre mútuo iniciado em agosto de 1914, Charles Péguy ruminou sobre os valores supremos do heroísmo guerreiro. Ouçam estes versos:
Heureux ceux qui sont morts dans une juste guerre!
Heureux ceux qui sont morts dans une juste guerre!
Heureux lês épis mûrs, et lês blés moissonés...
Trinta milhões de "felizardos" foram sacrificados como trigo maduro, ceifados pela foice de Bellona, no conflito e em suas sequelas. Um milhão só nesse fatídico mês de agosto. Comandando um pelotão na primeira fila de um regimento de infantaria e observando o inimigo com binóculos, suas calças vermelhas facilitando a identificação pelas metralhadoras alemãs, o magnífico poeta recebeu em plena testa a bala dos boches... Centenas de milhões seriam abatidos no período de cinquenta anos que se seguiu - o preço cobrado pela horrenda ideologia coletivista do Estado-nação soberano e da fraternidade so cialista... O extraordinário nos versos de Péguy, que sempre gosto de citar, é que era um católico fervoroso e sua paranóia belicista coincidiu com a crise mística de que estava sofrendo. Mas duvido que muitos se sentissem felizes com os eventos...
Konrad Lorenz é o mais renomado dos etólogos no domínio da agressividade humana. Não obstante terminar a obra Zur Naturgeschichte der Aggression confessando a esperança que o poder da seleção natural conduza a humanidade no caminho da obediência ao mandamento de amor e fraternidade, o Prémio Nobel austríaco estuda esse "instinto homicida" cuja história descreve como paralela no homem e na besta. Em sua autobiografia, Naturalist (Penguin, 1995), Edward Wilson confessa a impressão decisiva que, na Universidade de Harvard e sendo ele, Edward, ainda jovem estudante que trabalhava em seu doutoramento, causou o impacto das idéias de Lorenz sobre etologia na for mação de sua ideias, encaminhando-o para a criação da nova ciência da sociobiologia."
Fonte:
José Osvaldo de Meira Penna: "Polemos: Uma análise crítica do darwinismo". Editora UnB, p. 266, 267
É isso!
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