A linguagem do darwinismo

Um golpe com a língua pode até quebrar os ossos” Provérbio chinês

“Língua é poder”, diz a máxima popular, em referência ao uso da língua como instrumento ideológico. E neste âmbito específico, o darwinismo nos oferece incontestáveis lições, como aquelas que se pode extrair da mídia de um modo geral. Por exemplo, passando hoje pela seção de ciência do jornal Folha de São Paulo deparei-me com a seguinte manchete: “Perda de gene explica evolução de barbatana de peixe para membro”.

Note-se que o verbo
explicar, da forma como foi usado aqui está explicitando uma um fato que é dado como certo ou que realmente aconteceu. Não se usou o modo subjuntivo, que expressa incerteza e dúvida; mas o indicativo, que denota algo do qual não se pode duvidar. Todavia, mais adiante o “fato real” vem à tona, como demonstração do uso tendencioso da língua. Analisemos por partes:

1.
"Descobrimos que não havia genes equivalentes em animais com membros, o que sugere que esses genes podem ter sido perdidos durante a evolução", explicou Akimenko à "BBC News".

Perceba que o resultado da pesquisa apenas
sugere, ou seja, dar a entender de forma sutil, que tal hipótese pode ser verdadeira.

2. "Os cientistas sugerem, em estudo publicado na revista "Nature", que a família antiga de genes persistiu em peixes ósseos e foi perdida quando eles evoluíram para animais de quatro patas".

Novamente o verbo
sugerir (provocar a imaginação de, inspirar, fazer uma sugestão etc.) utilizado sorrateiramente, uma vez que o estudo realizado não pode ser testado empiricamente, já que dependeria do conhecimento dos supostos animais transicionais extintos.

3. "O desenvolvimento de embriões pode fornecer importantes pistas genéticas sobre a evolução, pois muitas mudanças que ocorrem cedo no desenvolvimento de um animal se parecem com mudanças que se acredita terem ocorrido cedo na evolução".

Observe que a locução verbal
pode fornecer não oferece margem a certezas, mas tão somente a hipóteses, que podem ou não serem verdadeiras. O “se parecem e o “se acredita” mais uma vez remetem à esfera de um fato ou ação que podem vir a ocorrer ou não.

4. "A perda desses raios, segundo os cientistas, foi o passo principal no processo que transformou barbatanas de peixes em membros de animais".

A expressão “
foi o passo principal”, embora contradiga o “sugere” ou o “se acredita”, foi utilizada como desfecho da matéria, remetendo à manchete inicial na qual a “certeza” parece tão certa quanto o resultado de 2 + 2 = 4.

Eis aí mais uma faceta dessa ideologia altamente manipuladora, que nos tenta vender gato por lebre, ou melhor, peixe por réptil.

É isso!

2 comentários:

  1. Iba, no quarto parágrafo a palavra "sugere" saiu escrita erradamente.

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  2. Caro Marco,

    Muito agradecido pela correção. É este meu péssimo hábito de não revisar o que escrevo.

    Um abraço!

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