As incertezas das evidências

Quem já travou algum tipo de debate com os devotos de Darwin, deve ter notado a obstinação de muito deles em sempre confundir “evolução” com Teoria da Evolução. Daí aquela enfadonha pergunta: “Em que isso invalida a evolução?”, como se uma cousa fosse obrigatoriamente sinônima da outra.

Embora a Teoria da Evolução se paute também na “evolução”, o seu conteúdo epistêmico vai muito além da simples constatação de que os seres vivos mudam ao longo do tempo. Em seu bojo incluem-se aspirações e crenças que extrapolam qualquer observação da Natureza. Obviamente que uma afirmação desse tipo sempre vai ser recebida como sendo fruto da ignorância e do desconhecimento do que seja “evolução”. Mas essa é uma maneira que eles encontraram de se sentirem cada vez mais os donos da verdade. Cada louco com sua mania, diz o dito popular.

Isso me remete a um texto de James George Frazer, um antropólogo evolucioniasta, autor de “O Ramo de Ouro”, escrito em 1890, no período em que o darwinismo fincava sua base também na esfera social.

Defendendo a tese de que a sociedade humana desenvolveu-se em estágios sucessivos e obrigatórios, numa trajetória unilinear e ascendente rumo à civilização, escreveu ele:

Em suma, a definição pressupõe que a civilização, sempre e em toda parte, tem evoluído a partir da selvageria. A massa de evidências sobre a qual se baseia esse pressuposto é, em minha opinião, tão grande que torna indiscutível este raciocínio indutivo. Pelo menos, penso que, se alguém discorda disso, não vale a pena discutir com ele. Ainda existem, creio, na sociedade civilizada, pessoas que sustentam que a terra é plana e que o sol gira ao seu redor; mas nenhum homem sensato perderá seu tempo na vã tentativa de convencer tais pessoas de seu erro, muito embora esses aplanadores da terra e giradores do sol apelem, com perfeita justiça, para a evidência de seus sentidos em apoio a sua alucinação, algo que os oponentes da primitiva selvageria do homem não são capazes de fazer.”

Segundo Frazer “em comparação com o homem civilizado, o selvagem representa um estágio estacionado, ou melhor, retardado do desenvolvimento social, e, portanto, um exame de seus costumes e crenças fornece o mesmo tipo de evidência da evolução da mente humana que o exame de um embrião fornece da evolução do corpo humano. Em outras palavras, um selvagem está para um homem civilizado assim como uma criança está para um adulto” (“O Escopo da Antropologia Social”, in: “Evolucionismo Cultural”, tradução e organização: Celso Castro. Zahar Editor. Rio de Janeiro, 2009, p. 107).

Já há bom tempo que esses ideais de evolução como progresso foram devidamente superados. Todavia, fica aqui a lição da interinidade das evidências. O que hoje é tão claro como o Sol, amanhã pode tornar-se mais sombrio que o abismo de Dante.

Para Frazer suas teses eram tão óbvias que desmereceria qualquer discussão. Isso me remete mais uma vez aos devotos atuais de Darwin, os quais da mesma forma que o citado antropólogo, acreditam que seus amontoados de "evidências" sejam o óbvio multiplicado por mil. Mas, como já dizia J. Bailey: “A
primeira e pior de todas as fraudes é enganar-se a si mesmo. Depois disto, todo o pecado é fácil.”

É isso!

3 comentários:

  1. Confundir evolução darwiniana com progresso é um erro não só de evolucionistas ingênuos, mas da maioria de teístas e criacionistas que dizem aceitar a evolução.

    Mas é só uma deturpação ou uma grande falta de capacidade de entender uma teoria que originalmente deixa claro que o "processo é cego".

    Os cientistas esclarecidos atualmente não estão insistindo na "interinidade das evidências" . O caso, é simplesmente saber usar o que funciona quando se está num determinado domínio.

    "De que vale para um marinheiro no meio de uma grande tempestade, saber a composição química da água?" _________ Nietzsche.

    "O que hoje é tão claro como o Sol, amanhã pode tornar-se mais sombrio que o abismo de Dante."

    Nem sempre...

    A Teoria da Relatividade veio para explicar novos fenômenos que a mecânica clássica não conseguia explicar. Explicou os novos fenômenos mas mostrou que a Mecânica Clássica (Mecânica Newtoniana) era um caso particular dela além disso a teoria da relatividade fez previsões testáveis.

    Não se podia revogar a lei da gravidade e se não fizesse previsões testáveis não seria uma teoria científica.

    Pode-se mandar um homem a lua usando a teoria newtoniana... Ela ainda brilha.

    Considerando a infinidade de evidências de que ocorreu evolução e que o processo descrito por Darwin (e aprimorado a partir de novos conhecimento e idéias) é aplicável à natureza - qualquer nova teoria terá que mostrar que o evolucionismo é um caso particular desta teoria e fazer previsões testáveis.

    Qualquer coisa que vir só servirá para iluminar a Teoria da Evolução como uma de duas alternativas:

    Será ela um caso particular ou a explicação definitiva para evolução de tipos especiais de moléculas replicantes?

    Independentemente do final da história, nada impede que algum algoritmo evolucionário, rodando num supercomputador, nos permita chegar até algo inusitado... algo mais que iluminador.

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  2. Resumindo o que quis dizer (pois acho que não fui claro no texto acima):

    A expressão "Interinidade das evidências" não faz sentido em ciência.

    A evidência para teoria inicial que funcionava não deixa de existir, ela apenas passa a ser evidência de uma teoria mais restrita (funciona num domínio menor).

    Funciona num domínio menor, mas não deixa de ser aplicável para decisões seguras.

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  3. Complementando o comentário anterior:

    Sobre a "interinidade das evidências"
    Sugestão: Leiam "A Relatividade do Errado - Isaac Asimov"

    Sobre: "O que hoje é tão claro como o Sol, amanhã pode tornar-se mais sombrio que o abismo de Dante."
    Nem sempre. Leia o texto citado acima.

    Sobre "De que vale para um marinheiro no meio de uma grande tempestade, saber a composição química da água?" Nietzsche.

    Sob certo sentido é verdade. Mas se soubesse a composição química da água, ninguém acabaria num barco de madeira no meio de uma tempestade.

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