Eu li isso...

"Como decorrência da visão de um único caminho evolutivo humano, os povos "não-ocidentais", "selvagens" ou "tradicio­nais" existentes no mundo contemporâneo eram vistos como uma espécie de "museu vivo" da história humana — represen­tantes de etapas anteriores da trajetória universal do homem rumo à condição dos povos mais "avançados"; como exemplos vivos daquilo "que já fomos um dia". Para Prazer, "o selvagem é um documento humano, um registro dos esforços do homem para se elevar acima do nível da besta". Nas palavras de Morgan:

... as institui
ções domésticas dos bárbaros, e mesmo dos ances­trais selvagens da humanidade, ainda estão exemplificadas em partes da família humana, e com tamanha completude que, exceto pelo período estritamente primitivo, os diversos estágios desse progresso estão razoavelmente preservados.

Na medida em que a arqueologia era ent
ão pouco desenvol­vida e não havia registros históricos disponíveis para a reconstituição dos estágios supostamente mais "primitivos" — a maior parte da trajetória humana — o estudo dessas sociedades assu­mia enorme importância, pois assim se poderia reconstituir o caminho evolutivo da humanidade, através de suas diferentes etapas. Passava-se a dispor de uma espécie de "máquina do tem­po" que permitia, observando o mundo dos "selvagens" de hoje, ter uma ideia de como se vivia em épocas passadas. Assim, as in­formações sobre a sociedade antiga e sobre a mente do homem primitivo, até então dependentes dos relatos da antiguidade greco-romana — Heródoto, Tucídides, Tácito etc. — poderiam ser complementadas por novos relatos. Nas palavras de Prazer,

...
um selvagem est
á para um homem civilizado assim como uma criança está para um adulto; e, exatamente como o crescimento gradual da inteligência de uma criança corresponde ao cresci­mento gradual da inteligência da espécie e, num certo sentido, a recapitula, assim também um estudo da sociedade selvagem em vários estágios de evolução permite-nos seguir, aproximadamen­te - embora, é claro, não exatamente —, o caminho que os an­cestrais das raças mais elevadas devem ter trilhado em seu pro­gresso ascendente, através da barbárie até a civilização. Em su­ma, a selvageria é a condição primitiva da humanidade, e, se qui­sermos entender o que era o homem primitivo, temos que saber o que é o homem selvagem hoje."

É isso!

Fonte
:
"Evolucionismo Cultural: textos de Morgan, Tylor e Frazer". Organização: Celso Castro. Editora Zahar. Rio de Janeiro, 2009, p. 29, 30.

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