Muitos investigadores acreditavam que a seleção natural não era suficiente para produzir uma diversidade nas espécies.No final do século XIX vários estudiosos como Karl Ernst von Baer (1792-1876), Rudolph Albert von Kölliker (1817-1905) e Karl Wilhelm von Nägeli (1817-1891) criticavam a seleção natural e procuravam explicar as variações que ocorriam nos organismos de modo diferente, considerando a influência do meio. Nesta época havia diversos estudos sobre a influência direta das condições do meio sobre a variação na estrutura dos organismos e discutia-se se os fatores responsáveis pela mesma estavam relacionados ao própr io meio ambiente ou à seleção natural. Vários deles admitiam que o grau de salinidade da água, por exemplo, poderia alterar a estrutura de protozoár ios, crustáceos e ouriços do mar.
Os estudos sobre a hereditariedade sofreram uma grande mudança depois da adoção dos princípios mendelianos, a partir de 1900. A proposta de Mendel que apareceu em seu artigo sobre a formação de híbridos (1866) baseada principalmente em estudos envolvendo cruzamentos experimentais de ervilhas do gênero Pisum admitia a existência de elementos celulares encontr ados nos gametas responsáveis pela transmissão das características hereditár ias os quais não se misturavam e que seguiam determinados padrões que não eram universais.
William Bateson (1861-1926) publicou a tradução para o inglês do artigo de Mendel em seu livro Mendel’s principles of heredity: a defence (1902), já trabalhava com cruzamentos experimentais envolvendo não apenas vegetais mas também animais como borboletas e galinhas. Juntamente com seus colaboradores (Leonard Doncaster, Reginald Crundall Punnett e Edith Saunders) procurou verificar se os princípios que Mendel tinha encontrado em ervilhas se aplicavam aos outros organismos. Além disso, buscou desvios dos padrões mendelianos propondo novas leis, desenvolvendo o chamado “ programa de pesquisa mendeliano”. Os resultados obtidos nos cruzamentos experimentais que Bateson realizou reforçavam a idéia da descontinuidade das variações e minimizavam o papel da seleção natural no processo evolutivo, priorizando o papel da evolução saltacional8. Na época, além de Bateson, diversos pesquisadores como Thomas Hunt Morgan (1866-1945), por exemplo, consideravam que a seleção natural sozinha, não poder ia dar conta da formação de novas espécies.
O livro Mendel’s principles of heredity: a defence, de autoria de Bateson, foi uma resposta às inúmeras críticas que haviam sido feitas por parte do biólogo Walter Frank Raphael Weldon (1860-1906) e do matemático e estatístico Karl Pearson (1857-1936) não apenas aos princípios mendelianos como também à forma pela qual Bateson os interpretava. Pearson e Weldon desenvolviam estudos estatísticos em populações sobre a herança de características que eram herdadas de modo contínuo como, por exemplo, a estatura do povo inglês, em cuja herança existe uma gradação de possibilidades entre estaturas mais baixas e as mais elevadas. Este tipo de estudo substanciava, portanto, a idéia de que a evolução era principalmente gradual e conferia um papel importante à seleção natural no processo. As diferentes interpretações acerca do processo evolutivo bem como de aspectos relacionados à hereditariedade provocaram uma das mais acirradas controvérsias da história da biologia: a controvérsia mendeliano-biometricista. Esta se deu principalmente entre 1902 e 1906 na Grã Bretanha, envolvendo por um lado William Bateson, Charles Chamberlain Hurst e outros e, por outro lado, Weldon e Pearson e outros. Esta dizia r espeito, entre outr os, a aspectos relacionados ao processo evolutivo (continuidade / descontinuidade das variações) e a relevância da seleção natural no processo” (p. 5-8).
Fonte:
Waldir Stefano. “Os estudos experimentais de Herbert Spencer Jennings com protozoários (1908-1912): aspectos evolutivos e genéticos". (Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em História da Ciência, sob a orientação da Profa. Doutora Lilian Al-Chueyr Pereira Martins. São Paulo, 2009).
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