O "nascimento" da Eugenia

Nasce a ciência dos bem nascidos...

"A Eugenia como ciência, “nasce” na Inglaterra pautada nos estudos das leis de hereditariedade humana, o que ocorreu a partir de meados do século XIX. O termo Eugenia, datado de 1883, foi utilizado para denominar o uso social do conhecimento da hereditariedade, a fim de por em prática o objetivo da “boa” prole e, apesar de ter sido cunhado, apenas, em 1883, as discussões sobre o melhoramento da espécie não eram novidades naquele tempo.

Por volta de 1869, Francis Galton, publica o primeiro livro sobre o assunto, “Herditary Genius”, obra que teve grande influência das teorias evolutivas de seu primo, Charles Darwin. Pode-se dizer que os primeiros ensaios de Galton se deram por volta de 1865, após ler “Origem das espécies”. Seus conhecimentos matemáticos somados à inspiração dos escritos de Darwin, o fizeram propor um padrão original da raça:

Me PROPONHO mostrar neste livro que as habilidades naturais do homem são derivadas de sua herança... Assim, como é fácil... obter através de seleção cuidadosa uma raça permanente de cachorros ou cavalos, talentosos com poderes peculiares de correr, ou de fazer qualquer outra coisa, poderíamos utilizar disto para produzir uma raça altamente talentosa de homens através de matrimônios judiciosos durante várias gerações sucessivas.”(grifos do autor; tradução livre, GALTON, 1892, p. 1)

Galton conclui, então, que a sociedade poderia fazer depressa o que a natureza fazia lentamente; em outros termos, poderia selecionar deliberadamente o homem em prol da evolução de sua espécie. Neste sentido, a Estatística desponta como importante elemento dentre os muitos mecanismos que o levariam a pensar a melhoria da raça.

Autor da teoria da Regressão Estatística, ele propunha, a partir deste tratamento, estimar um padrão original da raça. A regressão indicaria o caminho a ser perseguido, no sentido de depurar a raça com o suceder das gerações. Para tanto, deveriam ser introduzidas modificações no corpo e no intelecto dos indivíduos, no sentido de retorno ao padrão original racial (BIZZO, 1995).

Na primeira edição do “Herditary Genius”, datada de 1869, Galton traz como parte integrante de seu estudo a teoria pangenética de Darwin, dizendo que todas as características presentes no indivíduo sejam elas herdadas, adquiridas ou latentes, são transmitidas a seus descendentes. Partindo deste pressuposto, o exame físico e o estudo genealógico dos indivíduos poderiam constatar o que seria perpetuado. Na segunda edição de “Hereditary Genius”, em 1892, já eram evidentes as críticas em relação à teoria pangenética; no entanto, o livro foi reeditado com o mesmo conteúdo (BIZZO, 1995).

Galton nesta reedição de “Hereditary genius”, se desculpa por não ter tido oportunidade para rever o conteúdo e ainda diz que se o tivesse feito reveria o capítulo final, o qual se refere à “teoria provisória da pangênse”. (GALTON, 1892). É interessante ressaltar que este autor opta por adotar algumas idéias da teoria pangenética de Darwin, em detrimento da então em voga teoria Lamarckiana e mesmo assim não assume a pangênese por completo em função de algumas críticas a esta teoria. Mesmo Darwin, ao debruçar-se mais detidamente sobre a hereditariedade, começa a repensar a pangênese e passa, então, a atribuir valor as teorias do uso e desuso de Lamarck. Em carta a Galton, datada de 1875, Darwin escreve: “A cada ano chego a atribuir sempre maior importância a esse fator [modificações ‘por uso e desuso durante a vida do indivíduo’]” (MAYR, 1998, p.770).

Cabe ressaltar que no período, entre 1890 e 1925, no qual foram reeditadas e reimpressas algumas obras de Galton, várias foram as mudanças ocorridas no cerne das ciências biológicas (BIZZO, 1995). Mais do que isso, no próprio período que vai de 1850 a 1900, no qual Galton sistematiza suas primeiras impressões sobre a Eugenia, as discussões sobre a Hereditariedade se desencontravam.

A crença de que era o meio ambiente ou o “uso e desuso” que afetariam as qualidades hereditárias era quase universalmente aceita, até o final do século XIX e, por numerosos biólogos, também no século XX. A aceitação desta teoria começou a ser questionada por alguns cientistas, a partir de 1850, quando passaram a experimentar a teoria de Lamarck, para justificá-la. Neste sentido, Darwin, dentre outros passam a ocupar-se desse assunto.

Darwin não se vê contemplado pela teoria da herança dos caracteres adquiridos e toma a seleção natural como causa das variantes evolutivas, assim, nas primeiras edições de “A Origem das Espécies”, o autor considera ser de pouca relevância o efeito da influência externa na produção da variabilidade. Neste momento, ele não tem claras as noções distintivas entre genótipo e fenótipo. Entretanto, como dito, após ter completado o primeiro volume de “Varietion” (1961), volta a repensar a importância das leis do uso e desuso (MAYR, 1998).

Além de Darwin, Galton também propôs alguns ensaios sobre a Hereditarieade, sobretudo na década 1970, após lançada a primeira edição de seu “Hereditary Genius (1969)”. Apesar de não atingir grandes vultos, os ensaios de Galton chegam a alguns pontos que faz pensar similaridades à idéia de plasma germinal que somente em períodos posteriores Weismann desenvolveria. Cabe ressaltar que muitas das idéias originais de Galton sobre a hereditariedade não foram publicadas (MAYR 1998)

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Fonte:
André Luiz dos Santos Silva. "A perfeição expressa na carne: A educação física no projeto eugênico de Renato Kehl – 1917 a 1929". (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para obtenção do título de Mestre em Ciências do Movimento Humano. Orientadora: Prof ª. Dr ª Silvana Vilodre Goellner. Porto Alegre, 2008.

2 comentários:

  1. Fico feliz com a referência ao texto de minha autoria. :)
    Um abraço!!!

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  2. CARO ANDRE,

    É UM PRIVILEGIO TER SEU BELO TEXTO EM NOSSO BLOG.

    UM ABRACO E OBRIGADO PELA "VISITA"!

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