A ciência como objeto de culto

O fato de alguém não ser devoto da Virgem Maria, de não venerar São Sebastião nem render culto a Santo Antônio, logicamente não torna esta pessoa imune à idolatria. Enquanto alguns prestam culto ao próprio ego, outros colocam a ciência acima dos próprios deuses. A exclusão do “milagre” como explicação para um determinado acontecimento não implica que a ciência tenha assim a resposta para todos os fenômenos que se dão neste mundo. O cientificismo, ou seja, a atitude segundo a qual a ciência resolve todos os problemas da humanidade, ou que ela, por si mesma, seja suficiente para satisfazer todas as necessidades humanas, para alguns já se tornou no seu próprio objeto de culto. Esse parece ser o caso de Richard Dawkins, que em seu livro “O Relojoeiro Cegodiz aos seus leitores que, mesmo que uma estátua da Virgem Maria acenasse para eles, tais pessoas não deveriam concluir que presenciaram um milagre. Muito provavelmente todos os átomos da braço da estátua tenham simplesmente se movido ao mesmo tempo na mesma direção:

“Assim, que significado atribuímos a um milagre? Um milagre é algo que acontece, mas é extremamente surpreendente. Se uma estátua de mármore da Virgem Maria, de repente, nos acenasse com a mão, consideraríamos que se tratava de um milagre, porque a nossa experiência e conhecimento nos dizem que o mármore não se comporta desse modo...

No caso da estátua de mármore, as moléculas do mármore sólido estão em colisão contínua em direcções casuais. As colisões das diferentes moléculas anulam-se reciprocamente, de tal modo que a mão da estátua se mantém, toda ela, parada. Mas se, por pura coincidência, acontecesse todas as moléculas movimentarem-se na mesma direção no mesmo instante, a mão mover-se-ia. E se, em seguida, todas as moléculas invertessem a direção no mesmo instante, a mão deslocar-se-ia para trás. Deste modo, é possivel que uma estátua de mármore nos acene. Podia acontecer. As probabilidades contrárias a uma tal coincidência são inimaginavelmente grandes, mas não incalculavelmente grandes. Um físico, meu colega, fez-me o favor de fazer o cálculo. 0 número é tão imenso que toda a idade do universo até hoje é um tempo demasiado curto para escrevermos todos os zeros! É teoricamente possível uma vaca dar um salto por cima da Lua, mas a improbabilidade é bastante semelhante. A conclusão desta parte do argumento é a de que podemos calcular um longo percurso que nos leve a regiões de improbabilidade miraculosa, muito superior ao que podemos imaginar como plausível” (Richard Dawkins: “The Blind Watchmaker”. Edições 73. Lisboa).

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É isso!

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