Por que se tem preconceito?

1. Não é porque experimentamos uma repulsa natural em relação às pessoas que são diferentes de nós pelo aspecto, comportamento ou língua. Na realidade, essas diferenças só serão sensíveis, se já se tem preconceitos. Só então, é que elas provocam repulsa, desprezo ou ódio.

2. Não é porque se teve experiências desagradáveis com os representantes dos grupos minoritários. É por vezes verdadeiro, talvez, mas, mesmo assim, não foram essas as únicas experiências desagradáveis que tivemos. Se nos lembramos precisamente dessas, significa que já temos preconceitos.

3. Muitas vezes, as pessoas têm preconceitos porque estão insatisfeitas e infelizes de uma maneira geral. As crises econômicas, o desemprego, a insuficiência dos salários são as principais causas de descontentamento num país. Mas há outras. Muitas pessoas experimentam temores, angústias, que derivam de outras razões. Quando não se compreende a causa de um sentimento de frustração ou quando nos sentimos impotentes para remediá-lo, procuramos um bode expiatório. Certos homens políticos alcançam popularidade denunciando, assim, os negros, os judeus ou qualquer outro grupo.

4. Aceita-se considerar estes grupos como bodes expiatórios, porque eles se tornaram os simbolos daquilo que se detesta. Não podendo manifestar abertamente seu ódio e sua aversão a certas pessoas ou a um certo estado de coisas, porque tal atitude seria inconveniente ou ridícula, eles se mantêm aparentemente ligados àquilo que detestam, ao mesmo tempo que transportam a sua aversão sobre este símbolo: o grupo minoritário.

5. O temor de perigos imaginários representa um papel essencial nos preconceitos. Uma das razões pelas quais as pessoas imbuídas de preconceitos odeiam os grupos minoritários consiste no fato de que imaginam todas as espécies de abominações a seu respeito.

Fonte:
Arnold M. Rose: "A Origem dos Preconceitos", in: "Raça e Ciência II". Coleção Debates. Editora Perspectiva. São Paulo, 1992.