“Pensar também que os melhores são os que continuam existindo no meio é uma forte influência do darwinismo no positivismo. O darwinismo valoriza a existência de maneira medíocre, pois considera a mera sobrevivência de uma espécie em relação a uma outra que tenha se extinguido como um aperfeiçoamento e melhora. Isto, para Nietzsche, é um valorar de uma maneira que privilegia o simples viver, que privilegia o simples vagar de um ser pelos limites da Terra. Ao contrário, o valorar nobre é aquele que atribui a qualidade de bom ao ser que se lança, ao ser que não se contenta só com o sobreviver, mas que busca mais, que quer o diferente.
É certo dizer que o positivismo e o darwinismo atribuem às diferenças ocorridas na humanidade através dos tempos um caráter positivo, e que Nietzsche vê também na mudança do humano (no sentido em que ele espera) uma positividade. Mas, em primeiro lugar, Nietzsche não pensa que o simples estar de uma espécie ou de homem o caracteriza como melhor, isto de maneira alguma é motivo para uma classificação qualitativa. Mais tarde, ele chamará “superação” o estado próprio do mundo sensível. Darwin será criticado por descrever o vivo como aquele que busca a conservação e a preservação. Em Humano, demasiado humano, O bom, o nobre, o espírito livre, é aquele que não se acomoda. Do mesmo modo, o espírito científico não considera a estabilidade uma meta natural do vivente. Mais tarde, esta visão será ainda mais enfatizada, o que de certa maneira afasta Nietzsche ainda mais da ciência tal como praticada em sua época. Olhar o mundo sensível como o mundo marcado pela vontade de superação – e o próprio homem como marcado por ela, na medida em que ele pertence a este mundo - já é um dos legados de Humano, demasiado humano, como Fink parece dizer:
Ele manobra a barca do homem para novos mares, afasta-se de todas as costas e ruma ao infinito, que já não se encontra por cima do homem, como Deus, como a lei moral ou a coisa em si; o infinito é agora descoberto dentro do próprio homem – ele é o ser que se supera a si próprio, as estrelas da idealidade são apenas as perspectivas da superação de si mesmo, perspectivas que ele próprio abriu.! (FINK, 1983, p. 56)
Em segundo lugar, o positivismo vê a evolução do homem como uma linha contínua e ininterrupta de melhoramento; não é dessa forma que Nietzsche pensa. É só pensarmos que o advento do cristianismo no Ocidente é visto por Nietzsche como uma piora, um adoecimento do homem, em relação ao homem da antiguidade. Nada garante que tempos vindouros serão melhores que os de hoje, pois não basta a simples sobrevivência dos indivíduos para afirmamos a melhora dos mesmos. Em Nietzsche, temos uma medida qualitativa diferente dos movimentos em voga no século XIX – a medida, em Humano demasiado humano, é a disposição para o espírito crítico.”
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É isso!
Fonte:
Victor Tartas “A noção de ciência de Nietzsche em Uumano, Demasiado Humano: Os primeiros passos da genealogia”. (Dissertação apresentada à linha de pesquisa da área de ontologia, mestrado, programa de pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina.Orientador (a): Profa. Dra. Cláudia Drucker). Universidade Federal de Santa Catarina. Santa Catarina, 2007 .
Nota:
O título e a imagem inseridos no texto não se incluem na referida tese.
O positivimo, o darwinismo e Nietzsche
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