Um pouco da história do PROTESTANTISMO no Brasil

Breve história do Protestantismo

"Faz-se necessário, antes de continuarmos, entendermos em primeiro lugar o chamado campo protestante. Para tanto gostaríamos de retomar, de uma maneira breve, um pouco da história da chegada e instalação do protestantismo no Brasil.

Oriundos da Reforma Protestante do século XVI, os primeiros protestantes chegaram ao Brasil em 1555, juntamente com a expedição francesa comandada por Villegaignon. Os franceses tentaram instituir a França Antártica, na tentativa de organizarem um lugar seguro para os calvinistas franceses, os huguenote,, realizarem seus cultos reformados. O primeiro culto protestante realizado no Brasil foi em 10 de Março de 1557, dirigido por protestantes recém-chegados de Genebra, a pedido de Villegaignon. Em 1615, os franceses foram expulsos do Brasil e, em 1645, os holandeses, sob o governo de Maurício de Nassau, trouxeram pastores da Igreja Reformada Holandesa, que prestaram serviços religiosos no Nordeste brasileiro (Mendonça, 1984, p. 17).

Com a vinda da Família Real, imigrantes protestantes começam a chegar ao Brasil, surgindo assim as primeiras capelas anglicanas, ainda que voltadas para os estrangeiros, sendo os cultos celebrados em inglês, restringindo o proselitismo aos brasileiros. Somente com a Constituição de 1824, a liberdade religiosa foi instituída. Apesar de a religião católica ser mantida como a religião do Estado, a Constituição reconheceu o Brasil como nação cristã nas suas mais diversas manifestações. Várias ondas de imigração luterana de origem alemã instalaram-se no país, Nova Friburgo (1824), São Leopoldo (1825), entre outras (Siepierski, 2001, p. 22). Este tipo de protestantismo, através do qual as igrejas luteranas e anglicanas organizavam-se para assistenciar religiosamente os imigrantes, ficou conhecido no Brasil como “protestantismo de imigração”. Consolidado na Europa e transposto para os Estados Unidos da América, o protestantismo é redesenhado em sua forma organizacional, principalmente na América do Norte de onde emergem as denominações, organizações de várias igrejas que se juntam sob a mesma bandeira, possuindo a mesma visão doutrinária e litúrgica.

Um segundo tipo de protestantismo chamado “protestantismo de missão” ou “protestantismo de conversão” ocorre na tentativa de expansão do proselitismo protestante no Brasil. A primeira igreja protestante deste protestantismo de missão foi a Igreja Metodista americana que em 1836 envia seu missionário ao Rio de Janeiro, onde este organiza reuniões nas casas. Em 1855, o médico escocês Robert R. Kalley chega ao Brasil, desenvolvendo atividades proselitistas em língua portuguesa, contando com a ajuda de alguns dos madeirenses convertidos durante seu trabalho na Ilha da Madeira. Em 1858, Kalley funda a primeira igreja evangélica de língua portuguesa em solo pátrio, na cidade do Rio de Janeiro. A Igreja ficou conhecida como Igreja Evangélica e seus membros conhecidos como evangélicos, termo este que perdura até os dias de hoje.

Outra igreja a enviar missionários foi a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. A chegada de seu primeiro missionário foi em 1859, havendo a fundação da igreja presbiteriana em 1862, também na cidade do Rio de Janeiro e, em São Paulo, a segunda igreja presbiteriana em 1865. Os Batistas, outra denominação, fundaram igreja no Brasil em 1881, em Salvador, com a chegada de seu primeiro missionário. As últimas denominações deste período do protestantismo a enviar seus representantes foi a Igreja Protestante Episcopal dos Estados Unidos, organizada no Brasil em 1889, no Rio Grande do Sul e a Igreja Luterana norte-americana, em 1900, que primeiro organizou sua escola teológica em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, para depois, em 1903, fundar sua Igreja Evangélica Luterana do Brasil.

Durante todo o século XIX, este protestantismo de missão desenvolveu-se no Brasil, quer através dos processos de imigração, quer pelo proselitismo, constituindo-se no que se chama de protestantismo histórico. Após a Proclamação da República e a Nova Constituição, a liberdade religiosa foi garantida, a separação de Igreja e Estado foi consolidada, inaugurando, assim, o pluralismo religioso no Brasil. Isso contribui, ainda que não de uma forma absoluta, para o declínio do monopólio religioso católico, que se vê agora envolvido na incômoda tarefa de disputar o campo religioso brasileiro até então monopolizado.

O protestantismo diferente do catolicismo não se configura com uma autoridade centralizada, antes permaneceu fracionado, oferecendo assim “a possibilidade de encontrar diferentes formas de expressão dessa nova religião, conferindo uma diversidade, uma plasticidade ao campo protestante que será de fundamental importância na sua dinâmica interna no decorrer do século XX” (Siepierski, 2001, p. 33).

Ainda no século XIX, mesmo com o avanço do cientificismo, presencia-se uma retomada do ardor religioso. Vários movimentos conhecidos como revivals acontecem nos Estados Unidos da América influenciando a igreja protestante norte-americana. O movimento pentecostal surge de um desses re-avivamentos ocorridos no Norte da América, influenciados principalmente pelos movimentos de santidade (holiness) que ocorriam nos países de língua inglesa, no final do século XVIII e início do século XIX.

O surgimento do moderno movimento pentecostal

Após esta breve introdução da história do Protestantismo no Brasil, passaremos a descrever acerca das tipologias organizadas por alguns dos pesquisadores da religião no Brasil, em especial do campo religioso pentecostal. As tipologias empregadas para demarcar o campo religioso pentecostal podem ser classificadas de várias maneiras.

Vejamos de uma maneira breve o início deste movimento para, em seguida, examinarmos sua chegada ao Brasil e por conseguinte algumas das tipologias empregadas na tentativa de ordenar o campo religioso pentecostal.

Primeiramente, cabe lembrar que o termo pentecostal vem do movimento surgido nos Estados Unidos no início do século XX. A ênfase do movimento está no dom da glossolalia (falar em línguas estranhas, desconhecidas), recebido através do batismo com o Espírito Santo. Esta crença está firmada no livro de Atos dos Apóstolos, capítulo II, quando reunidos, os apóstolos recebem o Espírito Santo prometido por Jesus e, cheios do Espírito Santo, começam a falar em outras línguas. Considera-se como “pentecostalismo moderno”, o movimento iniciado em Topeka, Kansas, no ano de 1900, com Charles Parham em uma escola bíblica denominada Betel. O maior expoente deste movimento foi William Seymour, nas palavras de Anderson: “O que havia sido, com Parham, um movimento relativamente pequeno e localizado, assumiria proporções internacionais através do ministério em Los Angeles de um negro obscuro”.

Aluno de Parham, negro, nascido como escravo, cego de um olho, Seymour foi convidado a pregar em Los Angeles onde o batismo com o Espírito Santo teria intensa repercussão. Sem hesitar, aluga um velho armazém na Rua Azuza Stree e inicia ali seu ministério. A liderança era formada por doze anciãos, compondo-se de brancos, negros e mulheres. O pentecostalismo rapidamente se alastrou pelos Estados Unidos e pelo mundo. Os brancos que haviam recebido a ordenação na Igreja de Deus em Cristo (predominantemente negra) saíram para fundar a Assembléia de Deus (quase exclusivamente branca) em 1914 (Anderson, 1979, p. 189).

Segundo Freston,

O pentecostalismo estava apenas na sua infância, quando chegou ao Brasil um fator importante para sua autoctonia. Sem grandes recursos ou denominações estabelecidas, e mais interessado numa última arrancada evangelística antes do fim do que na criação institucional, o movimento não estabeleceu as relações de dependência que caracterizavam as missões históricas.
(1994, p. 75)

O pentecostalismo brasileiro teve como característica fundamental o intuito de levar a mensagem do evangelho a um mundo que considerava perdido, anunciando a restauração através da ação do Espírito Santo, o qual, nas palavras de Daniel Berg: Jesus, salva, cura, vai voltar e batiza com o Espírito Santo. A militância pentecostal no Brasil foi composta basicamente de pregadores urbanos, em praças, ruas e calçadas. Neste contato com a cultura brasileira, algumas de suas práticas, doutrinas e modelos organizacionais foram influenciados pela cultura religiosa popular, constituindo assim um pentecostalismo tipicamente brasileiro, o qual iremos expor nas linhas que se seguem."

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É isso!

Fonte:
RICARDO BITUN: “Igreja Mundial do Poder de Deus: Rupturas e Continuidades no Campo Religioso Neopentecostal”. (Tese de doutorado apresentada ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de DOUTOR em Ciências Sociais sob orientação da Prof. Dra. Eliane Hojaij Gouveia). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC. São Paulo, 2007.

Nota:
O título e a imagem inseridos no texto não se incluem na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.

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