A Teoria de L. S. Vygotsky

"É possível identificarmos os três pilares da teoria “vygotskiana” no diagrama abaixo:

Para Vygostky (Moreira, 1999), a internalização, isto é, a forma com que o indivíduo aprende algo externo é fundamentada na capacidade de mediação entre as relações e eventos sociais e o desenvolvimento dos processos mentais superiores que incluem pensamentos, linguagem, capacidade de abstração. Desta forma, podemos perceber que na teoria de Vygotsky a socialização leva ao aprendizado e não o contrário.

Para tornar viável essa mediação, o ser humano utiliza-se de instrumentos, que caracterizam-se por serem usados para fazer algo, e de signos, que são representações de alguma coisa. Os signos podem ser indicadores, icônicos ou simbólicos.

Tanto os instrumentos quanto os signos são construídos socialmente, ao longo da história e conforme a cultura local. Quando o ser humano consegue se apropriar deles, ocorre o desenvolvimento cognitivo. O desenvolvimento das funções mentais e dos processos psicológicos no ser humano são típicos e nos diferenciam do restante dos animais.

A manifestação de qualquer função ocorre socialmente e depois é interiorizada pelo indivíduo, quanto mais signos são internalizados, maior a capacidade de realizar operações psicológicas em número e complexidade. Toda a capacidade cognitiva de um ser humano tem inicio nas relações sociais.

Essas relações implicam num envolvimento de ambas as partes, considerando o mínimo de duas pessoas para que ocorra uma socialização, é necessário que ambas participem ativamente do processo. Isso não significa que o grau de envolvimento deva ser idêntico, mas o fluxo de experiências e conhecimentos deve fluir em ambas as direções.

As palavras são classificadas como signos lingüísticos, em cada cultura as palavras têm seu significado e são construídos socialmente. Internalizar essas palavras é essencial ao indivíduo que quer aprender. Captar o significado dos signos, nesse caso, das palavras, é o que permite ao aluno desenvolver-se mentalmente.

A inteligência prática e abstrata é algo que surge ao convergirem a fala e a atividade prática. Essas características, puramente humanas, surgem com o desenvolvimento intelectual que dependem da descontextualização, por isso, a linguagem é essencial nesse processo. Dominar a linguagem abstrata dá subsídios para o desenvolvimento do pensamento. A capacidade de utilizar os instrumentos desenvolve a inteligência prática e o uso dos signos e seus sistemas permitem o desenvolvimento da inteligência abstrata.

A capacidade de expressão por linguagem falada é, para Vygotski, o desenvolvimento do uso de sistema de signos mais importante que existe. A fala inicia como um processo social, pois, desenvolve-se para a comunicação evoluindo para a fala egocêntrica, a qual media ações e por fim, resulta na fala interna. Quando o indivíduo alcança esse nível sua capacidade de compreender objetos e eventos se torna real e o mundo faz sentido para ele. Nesse momento, ele é capaz de abstrair independentemente do meio externo.

Para que essa apropriação de conceitos e signos seja efetiva, é necessário que ela ocorra na Zona de Desenvolvimento Proximal, a qual é extremamente ativa e mutante. Essa zona está localizada entre a capacidade real do indivíduo em resolver problemas sozinho e sua capacidade de resolver problemas sob a supervisão de outros mais capazes. Para que ocorra aprendizagem é necessário que a interação social ocorra dentro da Zona Proximal e é o social que determina o limite superior dessa região, isto é, brincadeiras, ensinos formais e informais, trabalho. De qualquer forma, a interação social é o mais importante.

O terceiro pilar da teoria abordada é o método genético-experimental fundamentado em observar indivíduos na solução de problemas. O indivíduo deverá estar engajado nas mais variadas atividades possíveis de serem observadas sem, no entanto haver controle de muitas variáveis. Os níveis de experimentação são três: o primeiro colocava obstáculos na solução do problema; o segundo, introduzia auxílio externo para a solução do problema e o terceiro, lançava problemas que estivessem acima do nível de conhecimento e habilidades das crianças testadas. Nesse método o mais importante era a observação das atitudes, como as crianças agiam e interagiam, a solução final ficava em segundo plano.

Segundo a teoria de Vygotski é somente na adolescência que a base psicológica o processo de formação de conceitos fica pronta. O adolescente pensa por complexos, o que significa que ele agrupa objetos que de forma subjetiva e real tenham relações entre si. Essas relações podem ser associadas a atributos comuns (relação associativa), por atributos complementares (relação de coleção) ou ainda, associações por relação de atributos (relação em cadeia). Com o desenvolvimento da complexidade das relações a criança (adolescente) está apta a perceber pseudoconceitos que é o caminho para o pensamento adulto.

Nessa teoria, na qual a formação de conceitos é essencial para o desenvolvimento cognitivo, cabe salientar que a interação social promove a aprendizagem e, graças a ela, o indivíduo se desenvolve cognitivamente. Cabe ao professor servir de mediador na aquisição de significados, promover a socialização de conceitos com a finalidade de serem apreendidos pelos alunos. Como conhecedor dos significados a serem captados pelos alunos, o professor deve verificar se o significado captado está correto. Ao aluno cabe a verificação de que aquilo que foi internalizado condiz com o que foi exposto. Para Vygotski é claro que a troca de informações nas relações sociais é primordial para a aprendizagem e consequentemente, para a cognição se desenvolver. Como essa internalização vai ocorrer no aluno, não é objeto de estudo dessa teoria.”

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Fonte:
Andréia Pessi Uhr: “O Sistema Solar – Um Programa de Astronomia para o Ensino Médio”. (Dissertação desenvolvida sob a orientação da Drª Maria de Fátima Oliveira Saraiva e co-orientação do Dr. Kepler de Souza Oliveira Filho e apresentada ao Instituto de Física da UFRGS. Esse trabalho preenche parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Ensino de Física. Porto Alegre, 2007.

Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.