Cordel da Evolução


Uma das manifestações literárias mais popular é a chamada Literatura de Cordel. Nas feiras nordestinas e até mesmo nas grandes capitais do sul, é comum encontrar-se "bancas" onde são vendidos pequenos livros, verdadeiras peças da literatura popular e tradicional, as quais, segundo Alceu Maynard Araújo ("Folclore Nacional"), "refletem com espontaneidade os vários assuntos desenvolvidos pelos trovadores. Opúsculos encontrados também nas portas das engraxatarias, enfiados em barbantes, encarreirados em cordéis. Literatura do povo para o povo, pendente, suspensa nos cordéis: assim definiríamos a Literatura de Cordel."

E já que aqui abordamos questões envolvendo o darwinismo, nada melhor do que citar como exemplo um caso relacionado a uma dessas imaginárias transformações evolutivas: "
O homem macaco ou o lobisomem do Cabo", de José Francisco Soares.

"O Homem macaco ou o lobisomem do Cabo"
Quem for pra feira do Cabo
Amarre a boca do saco
E tenha muito cuidado
Pra não cair no buraco
E leve umas bananinhas
Dê ao homem macaco
Disse Cristovam Pedrosa
Que no Engenho Salgadinho
Foi localizado um homem
Parecendo um macaquinho
Quem vai para aquele engenho
Volta do meio do caminho
Dizem que é um selvagem
Que vive dentro da mata
Só come frutas silvestres
Sapo caçote e largata
Bico doce e lagartixa
Cobra, embuá e barata
Se chama o "Homem macaco"
É alto e só anda nu
Já foi visto muitas vezes
No engenho massauassu
Dormindo tranqüilamente
Debaixo de um pé de imbu
Lá na vila trez carneiro
Um caçador já viu ele
Fazendo muita careta
Mais correu com medo dele
Dizendo que nunca viu
Um chimpanzé como aquele
A barba do monstro tem
Um metro de comprimento
As pestanas do tamanho
Do rabo d’um papavento
Os pés são arrendodados
Parece os pés d’um jumento
É um animal turbulento
Não tem qualificativo
Os olhos de quem morreu
Mas na verdade está vivo
Chamá-lo de Boko Moko
É um bom adjetivo
Outro dia viram ele
Na estrada de ipojuca
Tangendo um carro de boi
Da usina Cuiambuca
Com os cabelos vermelhos
Branco da cor de Sivuca
Viram ele um dia desse
Passar num corte de cana
Bem perto do barração
Da usina Massangana
Levava na mão direita
Uma penca de banana
Lá em pontes dos carvalho
Antônio Bento da Cruz
Foi buscar uma parteira
Para mulher dar a luz
E viu ele na entrada
Da usina Bom Jesus
O delegado do Cabo
Designou um agente
Para prender esse bicho
Que impreterivelmente
Precisava de um macaco
Para dançar na corrente
Foi quatros policiais
Afim de capturá-lo
Para trazê-lo de carro
De a pé ou a cavalo
Queria o macaco vivo
Não precisava matá-lo
A policia avistou ele
Nas matas de Salgadinho
Debaixo de um alvoredo
Depenando um passarinho
Quando avistou a polícia
Desabalou no caminho
O delegado ordenou
Que fosse com toda pressa
Buscar o homem macaco
Que não queria conversa
Queria saber detalhes
Da sua vida pregressa
Já tinham ido dizer
Ao prefeito Zequinha
Que viram ele de noite
Numa casa de farinha
Querendo pegar mulher
Que passava ali sozinha
As presas dele parece
As presas de um animal
Disseram que ele fugiu
Para o engenho Maraial
Correram todos com medo
Do monstro descomunal
Um caçador que estava
Tirando mel de tubiba
Viu aquele monstro nu
Parecendo uma guariba
Correu e meteu a testa
Num tronco de macaíba
Ele tem a barba grande
Parecendo um ermitão
Mas a polícia do Cabo
Deseja pegá-lo a mão
Porque não criam macaco
Naquela jurisdição
Ele sabe que a polícia
Trabalha e não tem preguiça
Disseram que ele era
Fugitivo da justiça
E nas unhas dos federais
Ela não dá uma missa
E o prefeito Zequinha
Tomou bonita atitude
Vai pegá-lo pra saber
Se tem defeito ou virtude
Porque pretende interná-lo
Numa casa de saúde
Mas o ilustre prefeito
Encontra dificuldade
Porque o homem macaco
Tem muita sagacidade
Parece até um macróbio
Que nunca foi na cidade
O macaco vê o povo
Desaba em toda carreira
Se eu pegasse esse macaco
Botava-lhe uma coleira
Uma corrente na cinta
Pra pedir níquel na feira

FIM
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E, aqui, minha humilde colaboração, com o "Cordel da Evolução":
Cordel da Evolução

Eu vou contar uma história
que há muito aconteceu.
É um caso interessante
que a mim me surpreendeu,
de um bichinho invisível
que numa sopa apareceu.


De onde veio ninguém sabe,
como se formou ninguém viu,
mas os doutores garantem
que realmente existiu,
eles só não sabem dizer
se foi em primeiro de abril.


Um serzinho tão pequeno
que lentamente cresceu,
superou os obstáculos
virando alguém como eu.
E se não fosse sua astúcia
nem haveria hoje europeu.


Durante milhões de anos,
ele se metamorfoseou,
indo de um estágio a outro,
no homem se transformou.
E de todos os seres vivos
hoje ele é o progenitor:

Banana, cebola e batata,
peixe, sapo e tatu,
calango, formiga e elefante,
macaco, cobra e urubu,
jacaré, camelo e galo,
cavalo, aranha e avestruz...


Mozart, Pavarotti e Tiririca,
Newton, Darwin e Galileu,
Machado, Camões e Zíbia,
Gonzaga, Caetano e Alceu,
Doutores, mestres e sábios,
Crentes, agnósticos e ateus.


Tudo está relacionado
por esse mesmo ancestral:
verme, macaco e
Shakespeare,
vírus, bactéria e pardal.
mandioca, aipim ou macaxeira,
e todo o reino vegetal.

FIM

É isso! ((rs))

2 comentários:

  1. Se eu fosse um evolucionista, eu teria vergonha de passar ao lado de um monte de bosta de vaca com aquelas moscas pousadas em cima, pois vem a sua mente. "E dizer que um dia eu fui assim". Patético.

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  2. Interessante!
    Parabéns aquem escreveu esse cordel!👏👏

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