Acabei de receber o livro "O Anjo de Darwin: Uma crítica seráfica a Deus, um Delírio", de John Cornwell, publicado pela Editora Imago. Como tenho por hábito, primeiro "dou uma geral" no livro e só depois passo a degluti-lo. E nessa rápida espiada deparei-me com o título "A Utopia de Dawkins", do qual transcrevo, aqui, alguns considerações interessantíssima. Todo o livro funciona como um conselheiro seráfico (de serafim, angelical) ao autor de Deus, um Delírio. Uma proposta interessante. Vejamos...
Algumas palavras, agora, sobre sua Utopia. Você fez uma promessa entusiástica de felicidade definitiva, contanto que seus leitores confiem em você. Você quer que eles acreditem em um paraíso que será deles quando a religião finalmente for varrida da face da Terra. Você lhes oferece uma versão da famosa canção de John Lennon, "Imagine":
"Imagine... um mundo sem religião. Imagine o mundo sem ataques suicidas, sem o 11/9, sem o 7/7 londrino, sem as Cruzadas, sem caça às bruxas... sem as guerras entre israelenses e palestinos, sem massacres sérvios/croatas/muçulmanos, sem a perseguição de judeus como 'assassinos de Cristo', sem os 'problemas' da Irlanda do Norte... sem o Talibá para explodir estátuas antigas...”
Sua lista me parece bastante boa (embora alguns dos seus exemplos possam ter sido o resultado de tensões seculares), mas ela omite dois períodos catastróficos da história recente: a União Soviética de Stalin e a Alemanha de Hitler. Talvez devêssemos nos preocupar o rato de o stalinismo e o nazismo terem revelado o tipo de mundo que surge quando a religião concorda não simplesmente com qualquer coisa, mas com a ciência como ideologia, combinada com ateísmo militante?
"Imagine... um mundo sem religião. Imagine o mundo sem ataques suicidas, sem o 11/9, sem o 7/7 londrino, sem as Cruzadas, sem caça às bruxas... sem as guerras entre israelenses e palestinos, sem massacres sérvios/croatas/muçulmanos, sem a perseguição de judeus como 'assassinos de Cristo', sem os 'problemas' da Irlanda do Norte... sem o Talibá para explodir estátuas antigas...”
Sua lista me parece bastante boa (embora alguns dos seus exemplos possam ter sido o resultado de tensões seculares), mas ela omite dois períodos catastróficos da história recente: a União Soviética de Stalin e a Alemanha de Hitler. Talvez devêssemos nos preocupar o rato de o stalinismo e o nazismo terem revelado o tipo de mundo que surge quando a religião concorda não simplesmente com qualquer coisa, mas com a ciência como ideologia, combinada com ateísmo militante?
Você pretende de fato substituir a religião pela ciência, não é mesmo? "Se o desaparecimento de Deus deixar uma lacuna," você diz a seus leitores, "... Meu caminho inclui uma boa dose de ciência, o empenho honesto e sistemático de descobrir a verdade sobre o mundo real." Estarei eu detectando aqui um eco das palavras de Cristo: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida"?
[...]
Não deveria nos preocupar, no entanto, o fato de a ciência triunfalista ter se associado, no século passado, ao totalitarismo? Não deveríamos nos inquietar, mesmo só um pouquinho, por a ciência ter sustentado filosofias políticas que visavam escravizar a humanidade em lugar de promover a liberdade? Seria talvez o caso de rsiarmos ansiosos com relação às tecnologias que a ciência gerou, causando a poluição do planeta a ponto de ameaçar sua própria sobrevivência? E o que dizer das armas de destruição em massa? Quanto às explicações, temos aquelas que as filosofias "cientísticas", materialistas e deterministas apresentaram defendendo a desconstruçao da pessoa humana e do livre-arbítrio. Não deveríamos estar preocupados com tudo isso num mundo baseado na ciência e no ateísmo militante?"
Fonte:
John Cornwell. "O Anjo de Darwin". Imago Editora. Rio de janeiro, 2008, p. 75-77.
[...]
Não deveria nos preocupar, no entanto, o fato de a ciência triunfalista ter se associado, no século passado, ao totalitarismo? Não deveríamos nos inquietar, mesmo só um pouquinho, por a ciência ter sustentado filosofias políticas que visavam escravizar a humanidade em lugar de promover a liberdade? Seria talvez o caso de rsiarmos ansiosos com relação às tecnologias que a ciência gerou, causando a poluição do planeta a ponto de ameaçar sua própria sobrevivência? E o que dizer das armas de destruição em massa? Quanto às explicações, temos aquelas que as filosofias "cientísticas", materialistas e deterministas apresentaram defendendo a desconstruçao da pessoa humana e do livre-arbítrio. Não deveríamos estar preocupados com tudo isso num mundo baseado na ciência e no ateísmo militante?"
Fonte:
John Cornwell. "O Anjo de Darwin". Imago Editora. Rio de janeiro, 2008, p. 75-77.
Pessoalmente penso que o livro de Dawkins, Deus, um Delírio, funciona como um livro de auto-ajuda para ateus desconsolados e profundamente magoados com a religião. Ele oferece um certo consolo emocional num mundo em que Deus simplesmente se "recusa a ir embora". O ateu radical é como aquele religioso que procura de todos os modos "fugir do pecado" para preservar sua consciência. Só que o "pecado", para o ateu, são, por exemplo, os feriados religiosos, os cânticos gospels das rádios piratas, a poderosa influência cultural da Bíblia etc. Não é tão fácil assim ser ateu, e a liberdade que Dawkins oferece é tão fugaz quanto sua utopia.
É isso!
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