A Seleção Natural aplicada à sociedade

"Também no século XIX, mais precisamente em sua segunda metade, que houve a aceleração de uma espécie de biologização da sociedade, impulsionada, principalmente, pelas idéias de Pasteur e Darwin. O primeiro, responsável pelas descobertas microbianas, e o segundo, pela teoria da evolução das espécies.

O pasteurism o trouxe as políticas de vacinação e o controle de doenças contagiosas, envolvendo, num mesmo processo, o conhecimento médico associado à política como estratégia de reconhecimento da dimensão biológica da sociedade (PICHOT, 2000, p. 37). Portanto, o pasteurismo configurou como uma ciência de intervenção política e social.

O darwinismo, por sua vez, impôs uma nova ordem biológica do mundo natural: a seleção das espécies seria o resultado de uma série de acontecimentos impostos pela natureza; e a evolução se daria, então, através da relação entre o ser e o meio natural, no qual sobreviveriam os mais aptos ou, ainda, os mais “adaptáveis”.

It may be said that natural selection is daily and hourly scrutinising, throughout the world, every variation, even the slightest; rejecting that which is bad, preserving and adding up all that is good; silently and insensibly working, whenever and wherever opportunity offers, at the improvement of each organic being in relation to its organic and inorganic conditions of life.”(DARWIN; 1859; p.83)

Tais idéias, levadas a um a aplicação social, indicaram a seleção natural como processo determinante da vida do homem que distinguia e, conseqüentemente, eliminava aqueles que possuíam algum “mal” (deficiências, doenças) e não conseguiam se adaptar. Assim, o darwinismo social, utilizado para analisar a sociedade, exigiu, em primeiro lugar, a transformação da ordem política e, depois, a intervenção no social:

No fundo, o evolucionismo, entendido num sentido lato – ou seja, não tanto a própria teoria de Darwin quanto o conjunto, mas o pacote de suas noções (como: hierarquia das espécies sobre a árvore comum da evolução, luta pela vida entre as espécies, seleção que elimina os menos adaptados) –, tornou-se, com toda naturalidade, em alguns anos do século XIX, não simplesmente uma maneira de transcrever em termos biológicos o discurso político, não simplesmente uma maneira de ocultar o discurso político sob uma vestimenta científica, mas realmente uma maneira de pensar as questões da colonização, a necessidade das guerras, a criminalidade, os fenômenos da loucura e da doença mental, a história das sociedades com suas diferentes classes, etc.” (FOUCAULT, 2002, p.307).

Esses acontecimentos mencionados rapidamente nos parágrafos anteriores, e, sobretudo, este últim o, deram as condições para a emergência da eugenia. De tal modo que, a partir do final do século XIX, a eugenia tornou-se uma ciência discutida em vários países com o objetivo de fornecer subsídios para a identificação dos indivíduos aptos para a melhoria da raça e a composição de uma nação forte.

O surgimento termo “eugenia” foi, contudo, posterior às tendências que lhe deram origem. Foi criado na Inglaterra, em 1883, por Francis Galton, que, curiosamente, era primo de Darwin. Certamente algumas idéias sim ilares as de Galton foram ao m esmo tempo produzidas em outros países. Na Alemanha, por exemplo, desenvolveram-se estudos sobre a higiene racial desde o começo do século XX, a partir do quais o corpo e a melhoria da raça eram os principais focos de observação. Mais tarde, a URSS, contrariando a idéia de que o movim ento geral da eugenia estaria ligado às políticas de extrema direita, desenvolveu estudos sobre a raça até a década de 30, m omento no qual Stálin determinou que qualquer pesquisa em eugenia seria proibida. Outros países, como Brasil, Argentina, Suíça, Dinamarca, Estados Unidos e França, também desenvolveram estudos objetivando o aperfeiçoamento da raça. No Brasil, por exem plo, Renato Kehl trouxe as discussões da eugenia para São Paulo com a finalidade de promover a pureza da raça através do branqueamento, uma vez que, para ele, a melhoria da raça e, conseqüentemente da nação, dependiam do combate a mestiçagem.

Em alguns países houve a promoção de campanhas de leis eugenistas no início do século XX, como, por exemplo, os Estados Unidos. Lá, a esterilização compulsória dos doentes mentais foi estabelecida por lei.

Dessa forma, a atividade intelectual de biólogos, médicos, estatísticos, sociólogos, etc., associada a iniciativas do Estado, na tentativa de criar uma sociedade forte e sã, consagraram a eugenia em diversos países nas primeiras décadas do século XX. Apesar da maioria das teorias eugenistas terem seguido algum as premissas de um darwinismo trazido para resolver os problemas da sociedade, pode-se perceber que o desenvolvim ento dessas teorias não implicava uma uniformidade da ciência."

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É isso!


Fonte
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Patricia Fortunato Dias: “PREVENIR É MELHOR DO QUE CURAR: As especifidades da França nos estudos da Eugenia.” (Dissertação apresentada à banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em História Social, sob a orientação do Prof. Doutora Denise Bernuzzi de Sant’Anna). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo . São Paulo , 2008.

Nota
:
O título e a imagem não se incluem na referida tese.

3 comentários:

  1. Faz favor Iba,

    ¿A que livro de Foucault pertence o parágrafo citado?

    Muito obrigado

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  2. Caríssimo Emilio,

    O livro de Foucault, na tese em referência, é este: "Em defesa da sociedade". São Paulo: Martins fontes, 2002.

    Um abraço!

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  3. Estimado Iba: Encontro seu blog muito inspirado.

    Agradeço-lhe muito sua informação e estou seguro que suas entradas terão novas citas em minho blog.

    Um cordial saúdo,

    Emilio

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