Spinoza, Deus, corpo e alma

A Ordem Requerida Para Filosofar ou Como se Deve Considerar Antes de Tudo a Natureza de Deus

"Para o sentido spinozano (ESPINOSA, 1983, p. 145) de pensar, existe necessariamente em Deus uma idéia tanto da sua essência como de tudo o que necessariamente se segue da sua essência. Portanto, Deus pode pensar coisas infinitas em infinitos modos, isto é, pode formar a idéia da sua essência e de tudo o que dela se segue necessariamente. Assim,tudo que está na potência de Deus existe necessariamente, consequentemente, essa idéia existe necessariamente e não existe senão em Deus.

“(...) nada pode existir ou ser concebido sem Deus. Pois Deus é a causa única de todas as coisas, tanto da sua essência como da sua existência; isto é, Deus não é apenas causa das coisas segundo o devir, mas também segundo o ser.” (ESPINOSA,1983, p. 149). Assim, pelo modo de se conceber Deus, no spinozismo, a ordem requerida para filosofar, deve considerar antes de tudo a natureza de Deus por ser ela anterior tanto à ordem do conhecimento como à ordem da Natureza e, não julgar a ordem do conhecimento como última, e que as coisas chamadas objeto dos sentidos venham antes de todas as outras.

Dessa segunda forma de filosofar resulta que: enquanto se consideram as coisas da Natureza, tal qual Descartes: Penso, logo existo, não se pensa em nada menos que na natureza divina: Existo,(sinto) logo penso (DAMÁSIO, 1996) e, quando, mais tarde, se procura considerar a natureza divina: Existo,(penso) logo penso-existo-penso-etc. não se pode pensar em nada menos que nessas primeiras fantasias: Penso, logo existo sobre as quais se edificou o conhecimento das coisas da natureza, visto que elas não podem ser de qualquer utilidade para conhecer a natureza divina; por isso, não é de se admirar que, os filósofos, se contradigam a cada passo.

Ainda pela Proposição XI (ESPINOSA,1983, p. 150) podemos verificar que isso se dá porque a primeira coisa que constitui o ser atual da alma humana não é senão a idéia de uma coisa singular existente em ato. Como a essência do homem é constituída por certos modos dos atributos de Deus, isto é, por modos de pensar.

De todos esses modos, a idéia, é por natureza o primeiro e, sendo ela dada, os outros modos (aqueles a que a idéia é anterior por natureza) devem existir no mesmo indivíduo. Assim, portanto, é uma idéia a primeira coisa que constitui o ser da alma humana. Mas não, todavia, a idéia de um coisa não existente, pois, então, essa idéia não poderia dizer-se existente; será, portanto uma coisa existente em ato.

O que Constitui o Ser da Alma – Relação Corpo e Alma da (e na) Alma e Seus Resultado

Se, como Spinoza, considerarmos que a alma humana é parte da inteligência infinita de Deus; e que, quando se diz que a alma humana percebe tal ou tal coisa, estamos dizendo que Deus enquanto se exprime pela natureza da alma humana, isto é, constitui a essência da alma humana, tem tal ou tal idéia. E, quando se diz que Deus tem tal ou tal idéia enquanto constitui a natureza da alma humana tem, também, simultaneamente, com a alma humana, a idéia de uma outra coisa, então é possível dizer que a alma humana concebe essa coisa parcialmente, ou seja inadequadamente. Assim, pela Proposição XII (ESPINOSA, 1983, p. 151), Tudo o que acontece no objeto da idéia que constitui a alma humana deve ser percebido pela alma humana; por outras palavras: a idéia dessa coisa existirá necessariamente na alma; isto é, se o objeto da idéia que constitui a alma humana é um corpo, nada poderá acontecer nesse corpo que não seja percebido pela alma Sendo o objeto da idéia que constitui a alma humana, um corpo (de conhecimentos singulares) – um modo determinado da extensão, existente em ato, e não outra coisa, as idéias das afecções do corpo existem em Deus enquanto ele constitui a alma humana, existindo dessa maneira também na alma humana as idéias das afecções do corpo.

Como, segundo Spinoza (ESPINOSA, 1983, p. 151) nós temos as idéias das afecções do corpo. Portanto, o objeto da idéia que constitui a alma humana é o corpo, e o corpo existente em ato. Se, além do corpo, existisse ainda um outro objeto da alma, uma vez que não existe nada de que se não siga um efeito, deveria, necessariamente, existir na nossa alma a idéia desse efeito, ora nenhuma idéia dele existe. Portanto, o objeto da nossa alma é o corpo, e não outra coisa. O resultado é o modo de pensar que leva à concepção do homem constar de uma alma e de um corpo, motivo pelo qual o corpo humano existe exatamente como o sentimos. Disso decorre a necessidade de que se compreenda que não somente a alma humana está unida ao corpo como, também, o que deve entender-se por união da alma e do corpo. Mesmo não se podendo fazer uma idéia adequada ou distinta dessa união, tem que se ter em mente, primeiramente, que não se conhece adequadamente a natureza do nosso corpo.

Com efeito, tudo o que até aqui demonstramos são coisas comuns e aplicam-
se tanto aos homens como aos outros indivíduos, os quais, embora em graus diferentes, são, todavia, animados. (...). Efetivamente, de qualquer coisa existente necessariamente a idéia em Deus e Deus é a causa dessa idéia da mesma maneira que é a causa da idéia do corpo humano deve necessariamente dizer-se da idéia de qualquer coisa.
(ESPINOSA, 1983, p. 152)."

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Fonte:
Eliete Tereza Franchini Fouto: "A SINGULARIDADE HUMANA SOB A ÓTICA DE BARUCH SPINOZA: Uma contribuição à reflexão sobre a ética e a prática educativa do professor". (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para a obtenção do título de Mestre em Educação. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Rosa Maria Filippozzi Martini). Porto Alegre, 2002.

Nota:
O título e a imagem inseridos no texto não se incluem na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.

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